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José Eduardo Petrilli Mendes

Gerente de Operações Florestais da Bracell

OpCP70

Uma visão prática do manejo de formigas
Há muito tempo, é sabido que as formigas-cortadeiras têm grande importância na cadeia alimentar, com potencial de causar severas perdas de energia na produção primária dos vegetais, sejam eles cultivados ou não. Com estimativas de mais de 50 milhões de anos de existência, as formigas estão presentes na terra cerca de 20 vezes mais tempo do que o homem. Esse tempo de existência, evolução e adaptação torna esses insetos, bem como as suas sociedades, altamente evoluídos e resilientes, sendo um dos fatores-chave a serem considerados no seu manejo.
 
Insetos sociais, as formigas-cortadeiras são conhecidas como “as primeiras agricultoras” do planeta, em função da relação de simbiose mutualística que têm com o fungo que cultivam para a sua alimentação. Em função disso, cortam partes de vegetais e carregam para dentro dos seus ninhos, para posterior picagem e distribuição nos jardins de fungo, para o desenvolvimento do mesmo. Desse comportamento e hábito deriva a sua importância comercial, podendo causar prejuízos aos interesses humanos, especialmente relacionados às plantas cultivadas.

Importante fazer essa contextualização para entendermos melhor a complexidade envolvida no manejo de formigas-cortadeiras, especialmente das saúvas, em plantações de eucalipto, pois estamos tratando da principal praga da cultura e, no meu modo de ver, a de manejo mais complexo.

Os prejuízos causados pelas formigas-cortadeiras às plantações de eucalipto são conhecidos e variáveis, sendo diretamente influenciados pela idade e produtividade dos plantios, pela estação do ano, pela densidade e tamanho dos ninhos presentes na área, pela incidência, severidade e frequência das desfolhas, sendo, normalmente, consequência de manejos inadequados em relação à presença da praga na área de atuação e no seu entorno.

As desfolhas por formigas-cortadeiras podem levar as plantas à morte, especialmente em plantas jovens, porém, também é comum em árvores adultas, principalmente nas áreas com altas infestações, altas frequências de ninhos grandes e com desfolhas sucessivas. As perdas de produtividade em relação aos ataques das formigas também são bem conhecidas, podendo ultrapassar os 50% de redução do volume final colhido.

Dada a importância econômica e a complexidade do manejo das formigas em plantações florestais de eucalipto, o que deve ser feito para que não ocorram prejuízos causados por essa praga nos plantios? O passo inicial, de vital importância para o sucesso do manejo de formigas-cortadeiras, é iniciar a produção livre da presença de ninhos. Começar bem pode levar algum tempo, mas é melhor do que ter que manejar grandes ninhos de saúvas preexistentes em plantios estabelecidos.
 
Realizado o plantio em áreas sem infestações relevantes, as rondas ou repasses durante a fase de estabelecimento e crescimento inicial das mudas são fundamentais para evitar que novas atividades de formigas-cortadeiras causem impacto à sobrevivência e uniformidade da floresta.

Na fase inicial da plantação, diferentes estratégias de manejo de formigas têm sido utilizadas pelos plantadores de florestas de eucalipto. Atualmente, o mercado oferece opções de formicidas que proporcionam diferentes modos de ação e formas de aplicação, além de algumas opções aos manejadores florestais.

Cabe lembrar uma das premissas básicas do Manejo Integrado de Pragas, que é a manutenção do equilíbrio ambiental, no melhor nível possível, sem permitir que as pragas causem danos às culturas de interesse. Esse é um conceito universal, aplicável a qualquer cultura, onde quer que seja cultivada, não podendo ser diferente com as nossas plantações de eucaliptos. Já na fase de manutenção da floresta, visando ao melhor nível de equilíbrio ambiental possível, sem prejuízos para as florestas, a prática recomendada e usual, na maioria das plantações, é a realização do monitoramento das infestações e das desfolhas causadas por formigas-cortadeiras.
 
Normalmente, nessa fase da plantação, as saúvas são as espécies mais relevantes em termos econômicos. As espécies ou subespécies de saúvas variam de acordo com a região geográfica, porém, as técnicas de monitoramento atualmente aplicadas atendem a todas as espécies presentes e com potencial daninho nos eucaliptais brasileiros.
 
A forma mais usual de monitoramento ainda é o caminhamento em solo, visando à identificação e à classificação de ninhos por classes de tamanho, quantificação de olheiros e identificação de classes de desfolha nas plantas. Essas informações abastecem um sistema de tomada de decisão, onde matrizes com combinações de classes de infestação, tamanhos dos ninhos e níveis desfolha levam à melhor decisão de manejo para a área avaliada, podendo ser aplicada em nível de talhão, ou outro mais abrangente, conforme desejado pelo gestor florestal.

Além da definição da necessidade de combate, o produto a ser usado, a forma de aplicação, o melhor caminhamento no talhão para a aplicação de acordo com os padrões de infestação identificados podem ser configurados como saídas/produtos do sistema de monitoramento. Essas possibilidades estão disponíveis para contratação ou podem ser desenvolvidas pelo próprio manejador florestal.

Novas técnicas de monitoramento remoto estão sendo aplicadas em testes ou em escala-piloto, portanto, deveremos evoluir nesse quesito nos próximos anos. Não deve ser necessário mencionar que o combate a formigas precisa ser considerado um serviço especializado, que deve ser feito por pessoas capacitadas e bem-preparadas, pois a ação de combate deve ser eficaz para o controle dos ninhos e a diminuição efetiva das infestações da praga. Além de treinamentos técnicos específicos para essa atividade, as Normas Regulamentadoras do Trabalho Rural aplicáveis precisam ser atendidas. Ainda sobre esse aspecto, a disciplina e o rigor no cumprimento das recomendações de combate devem ser avaliadas como KPIs de desempenho operacional. Desvios de rota precisam ser corrigidos imediatamente.

A última fase do manejo, conhecida como combate pré-corte ou pré-colheita, normalmente ocorre no último ano da floresta em pé, antes da colheita, sendo uma das principais atividades relacionadas ao sucesso da reforma dos plantios, pois está estritamente ligada ao “iniciar a produção livre da presença de ninhos de formigas”, conforme já mencionado. Um ou mais combates podem ser necessários nessa fase, de acordo com o padrão de infestação de cada área. Caso seja necessário realizar operações sequenciais para o controle efetivo da infestação, o intervalo de tempo entre elas deve respeitar as informações conhecidas sobre o bioecologia das formigas, caso contrário, o manejador terá a falsa sensação de situação resolvida e poderá ter problemas no estabelecimento da nova floresta.

Sobre pesquisas em relação à aplicação de novas técnicas e produtos, há possibilidades de avançarmos em técnicas de monitoramento, em oferta de produtos de origem biológica, em tecnologia de formulações, como o encapsulamento de ativos, entre outras. Entretanto, mesmo quando as novas soluções estiverem disponíveis, a disciplina e o rigor na condução do manejo das formigas-cortadeiras têm que ser mantidos, pois essa é a única maneira de ter êxito no controle desta importante praga, altamente adaptada às condições adequadas às plantações florestais do Brasil.