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Maria José Brito Zakia

Diretora da Práxis Socioambiental

OpCP72

Inovação
Inovar é mais que lançar um novo produto, ou desenvolver um novo equipamento ou mesmo adotar tecnologias mais recentes. E mais, não é porque algo é novo ou use alta tecnologia que é, automaticamente, bom ou inovador. Mas o novo sempre merece ser avaliado. 
 
E quando falamos nesse assunto, é comum já pensarmos na inovação tecnológica, que não é o único tipo de inovação. Mas  afinal o que é inovação? Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento econômico (OCDE - manual de OSLO 2005) inovação e? a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas.

Há mais de um tipo de inovação. Ela pode ser incremental, radical ou disruptiva. Mas, independentemente do tipo, para que haja inovação é fundamental que haja a gestão dessa inovação, e um dos métodos dessa gestão são os 4  Ps, a saber:  Propósito, Processo, Pessoas e Política. A seguir, uma breve explicação dos componentes de gestão da inovação:

1) Ter claro o Propósito da inovação, ou seja, qual o objetivo e a justificativa para ela. Um propósito pode ser, por exemplo, a geração de valor;
2) Conhecer a forma como a inovação será implementada para chegar ao objetivo, ou seja, conhecer o Processo de implementação e suas etapas; 
3) Conhecer e incluir as Pessoas que participarão da inovação. Aqui temos as diferentes partes da inovação, tais como gestores, clientes, colaboradores, comunidade, pesquisadores, entre outras.
4) Estabelecer as regras e diretrizes para que a inovação seja implementada e alcance o potencial planejado, ou seja, qual a cultura organizacional (política). 

Se na criação de valor, citada no item Propósito, incluirmos o valor sustentável, então, teremos um ambiente para a inovação alinhado à chamada economia verde, cujo esquema está apresentado na figura a seguir (Agência Europeia de Meio Ambiente). O desenvolvimento e a difusão de novas tecnologias são essenciais para o crescimento da produção e aumento da produtividade. Mas esse aumento não é infinito, e a discussão custo versus investimento, como único norteador para implementar novas tecnologias, tem se tornado ultrapassada, visto que a sustentabilidade tem  se tornado um bom negócio. 
 
Segundo a Lei de Inovação nº10.973 de 2004, inovação é definida como “introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo e social que resulte em novos produtos, serviços ou processos ou que compreenda a agregação de novas funcionalidades ou características ao produto, serviço ou processo já existente que possa resultar em melhorias e em efetivo ganho de qualidade ou desempenho”.

Foi-se o tempo em que a inovação em silvicultura buscava apenas aumentar a produtividade de um plantio ou desenvolver novos equipamentos. Hoje tem que aumentar a produtividade dos plantios, diminuir custos, não prejudicar vizinhos, conservar solo, estocar carbono, não prejudicar o regime hídrico, entre outras coisas. 

E tem mais, não é só a silvicultura aplicada aos plantios de espécies exótica, pois há que se pensar também nos 10 milhões de recomposição de vegetação nativa, que fazem parte da obrigação trazida pela lei de proteção da vegetação nativa e que faz parte do compromisso assumido pelo Brasil na COP25. A silvicultura moderna possui novos propósitos e faz parte das oportunidades de criação de valor sustentável e compartilhado das empresas e do setor florestal. 

E gostaria, agora, de falar da inovação de Processos, que é qualquer otimização ou mudança realizada nos processos de produção e/ou no desenvolvimento de produtos e serviços. Pode ser uma máquina, pode ser uma nova forma de controle de pragas, ou o uso de drone na avaliação pós plantio. O importante é que o novo processo traga vantagens para a empresa e demais partes interessadas. 

O desafio é crescer e respeitar tanto os limites impostos pelo meio ambiente como o território em que atua, ou seja, a silvicultura alinhada à economia verde. Esse desafio fica mais fácil se a inovação for aberta. O setor florestal tem sido pródigo na chamada inovação aberta, que é  a abertura do processo de inovação para a contribuição de outros públicos e instituições, tais como outras empresas, universidades, centros de pesquisa, trabalhadores e  usuários do produto ou serviço.  São várias as iniciativas de parceria entre o setor florestal e instituições de pesquisa, com destaque para o IPEF, SIF, FUPEF e ainda às normas de certificação FSC e Cerflor.
 
E, agora, falando especificamente da silvicultura, creio que no Encontro de Silvicultura veremos muitos exemplos de inovação tecnológica e de processos, como já foram o uso de tubetes, a silvicultura clonal, a conservação ex situ de espécies de eucalipto, plantio nas entrelinhas de eucaliptos sem necessidade de destoca, entre outros.

Então, vamos falar de 3 desafios futuros que, certamente, exigirão esforços de inovação na silvicultura:
a) Escassez de adubos químicos e corretivos de solo previstos para 2050;
b) Seleção de espécies nativas para aumentar a efetividade e diminuir custos da restauração da vegetação nativa;
c) Conservação do solo mesmo com o aumento da mecanização;
d) Silvicultura em áreas declivosas e não aptas à agricultura.
 
Em resumo, bons propósitos e alinhamento com os desafios globais permitirão que a silvicultura brasileira continue inovando.