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Rogério Salamuni

Gerente Executivo Florestal da Suzano Papel e Celulose

Op-CP-23

Planejamento da rede viária

Nos últimos vinte anos, profissionais que trabalham com estradas florestais no Brasil enfrentaram dois grandes desafios. Primeiro: conseguir desenvolver e aprimorar técnicas de locação, abertura e manutenção das estradas, visando à conservação e à preservação dos solos e das águas, revertendo o conceito de que estradas são as principais causadoras de erosão em um povoamento florestal.

Segundo: fazer com que essas técnicas, além da preservação do ambiente natural, dessem também ao leito carroçável maior capacidade de suporte e melhores condições de rolamento, garantindo trafegabilidade constante e segura dos tritrens, com capacidade de 70 m³ ou 77 toneladas, atualmente utilizados no transporte da madeira.

É necessário lembrar que, no final dos anos 80, eram utilizados veículos com capacidade de carga de 20 m³ ou 23 toneladas; o aumento das composições teve o objetivo de reduzir os custos, viabilizando tarifas do transporte, que chegam a representar 50% do custo da madeira posto fábrica.

Como estudo de caso, aborda-se o abastecimento da Unidade Limeira da Suzano Papel e Celulose, antiga Conpacel. A necessidade de haver planejamento da rede viária focado na logística florestal ocorreu em função de a Unidade Fabril de Limeira trabalhar com um estoque no pátio de apenas dois dias de consumo para ser utilizado em emergências.

A madeira consumida diariamente fica sobre os caminhões em trânsito, que representam 160 viagens com descarga programada por horário e distribuída em 21 horas/dia, durante 355 dias por ano. Para manter o fluxo constante desses caminhões, inclusive nos períodos de chuvas sobre estradas de terra, foi necessário revisar os conceitos e os métodos utilizados na locação, abertura e manutenção das estradas florestais, para que estas pudessem comportar tráfego mais pesado, derivado do aumento da capacidade de carga dos veículos.

Para atingir esse objetivo, quebraram-se paradigmas, criando-se novos conceitos para ordenar e garantir a qualidade e a durabilidade das estradas florestais com trafegabilidade constante e segura, sem ampliar custos. Criou-se um Departamento de Malha Viária, que integrou as atividades de conservação de solo, proteção florestal, construção e conservação das estradas, com a missão de cuidar das estradas, do plantio até a colheita, repetindo-se o padrão a cada ciclo.

Os trabalhos foram planejados em harmonia com o meio ambiente, evitando transtornos para os usuários locais e as comunidades. Os trabalhos são executados com três prestadores de serviços, sob contrato anual que recebem por atividades realizadas. Dois técnicos de estradas distribuem e acompanham as empresas e recebem suporte dos oito parques florestais distribuídos de norte a sul do estado de São Paulo.

A densidade das estradas é de 4,5%; busca-se algo perto de 3,5%, para uma área total de 113.000 ha, com uma malha de 6.680 km e 1.782 km de estradas municipais (52 municípios) que dão acesso às fazendas. A desvantagem da grande dispersão das fazendas, com um raio de 230 km em média, para o planejamento da logística de madeira, passa a ser um aliado forte, porque possibilita que haja remanejamento das frotas de uma determinada região para outra nos períodos de maior concentração de chuva, evitando-se interrupções no abastecimento da fábrica.

O grande desafio é o compromisso de se manterem as 160 viagens/dia que abastecem a fábrica, rodando sem interrupção. Além disso, há, ainda, a meta de se manter o caminhão no máximo 2 horas na fábrica, a partir do momento que entrega a nota até a sua partida. Busca-se diminuir esse tempo, ampliando-se a eficiência da frota, que é terceirizada, por meio da renovação dos veículos.

A integração entre fábrica (produção de celulose e recebimento) e florestal é fundamental para o sucesso da logística. Isso se torna obrigatório para o sucesso, caso o recebimento, o pátio e a picagem sejam de responsabilidade dessas áreas e não da área florestal, como é na Unidade Limeira da Suzano.

Outro ponto forte a destacar para o planejamento da rede viária e logística funcionar bem é contar com competentes equipes na área de Planejamento e Inventário Florestal, na operação de Produção Florestal e no Departamento de Estradas e Conservação de Solo, viabilizando um sincronizado programa anual de colheita, respeitando os períodos críticos e a localização dos estoques estratégicos, evitando altos investimentos na rede viária, auxiliando a produção florestal na escolha corretas dos melhores trajetos e sequências, buscando atender à legislação ambiental, adequando as estradas às composições utilizadas. A receita do sucesso é planejar cada passo, porém de maneira sistêmica investir correto e de maneira suficiente empenho adequado das equipes e integrar sempre os vários setores envolvidos.