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João Paulo Ribeiro Capobianco

Secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA

Op-CP-02

O setor de celulose e papel: perspectivas de mercado e meio ambiente

O setor de celulose e papel brasileiro teve um extraordinário crescimento nos últimos quarenta anos. De importador, passou a atender plenamente o mercado interno e transformou-se num importante exportador. As projeções setoriais, no plano internacional, mostram crescimento uniforme da demanda, principalmente nos países de economia emergente. Neste cenário, as reconhecidas vantagens comparativas conferem ao Brasil um enorme potencial para atuar com destaque nestes mercados.

Vive-se, no momento, um verdadeiro boom de investimentos, iniciados em 2003 e que deverá se estender até 2012, com expansões industriais e florestais, que demandarão recursos superiores a US$ 14 bilhões. Atualmente, o setor fatura, por ano, 23 bilhões de reais, recolhe 2,1 bilhões de reais em impostos, apresenta expressivo saldo comercial e participa com 1,4% do PIB nacional.

Gera, ainda, mais de 100 mil empregos diretos. Indiscutivelmente é um setor muito bem sucedido e com excelentes condições para se expandir no mercado nacional e internacional. Esse crescimento, no entanto, para ser sustentável e ter legitimidade perante a sociedade brasileira, deve adotar princípios operacionais que otimizem os valores técnicos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.

Essas condicionantes darão condições adequadas e estabilidade de longo prazo à alta competitividade brasileira. Os dados demonstram que, nos últimos anos, o setor tem adotado posturas muito satisfatórias, diante de questões consideradas altamente polêmicas e geradoras de impactos indesejáveis. Esses avanços evidenciam o interesse na superação de algumas limitações e mostram a viabilidade operacional das soluções adotadas.

Originário e fortalecido, através dos incentivos fiscais dos anos setenta e oitenta, o setor ainda é estigmatizado pelos impactos ambientais e sociais, associados às atividades que se utilizaram, muitas vezes, sem critérios adequados, de recursos abundantes dos programas governamentais da época. Inúmeros trabalhos mostram, no entanto, que o resultado daquele período foi os projetos conduzidos com seriedade e profissionalismo e que se transformaram, posteriormente, nos atuais grandes empreendimentos industriais.

Alguns desses projetos, hoje bem sucedidos, herdaram o ônus dos erros do passado, traduzido em passivos sócio-ambientais e comprometimento da imagem, junto a setores da sociedade. São os casos da ocupação exclusiva e desregrada de extensas regiões, o desmatamento para reflorestar, a utilização de fogo para eliminação de resíduos vegetais, a formação de latifúndios de monoculturas e os impactos indesejáveis em áreas de interesse ambiental, recursos hídricos e populações tradicionais.

Superar os desafios de redução do passivo e consolidar as potencialidades econômicas favoráveis são algumas das questões que devem ser enfrentadas com maturidade, transparências e criatividade pelas empresas da área e pelas políticas públicas do Ministério do Meio Ambiente. Neste sentido, já há resultados que merecem destaque. O setor mantém 2,6 milhões de hectares de florestas preservadas, para uma área produtiva de 1,6 milhão de hectares.

Sem nenhuma dúvida, é a performance ambiental de melhor destaque, entre todas as atividades rurais produtivas. A área plantada em 2004, foi a maior de todos os anos e os princípios preconizados pelo Programa Nacional e Florestas, do Ministério do Meio Ambiente, foram plenamente respeitados. Não se desmata para reflorestar, o fogo foi totalmente abolido das atividades operacionais e a utilização do cultivo mínimo já é rotina em todas as empresas.

Da mesma forma, a produção de alimentos, através de sistemas agro-florestais e o uso múltiplo da madeira, com a conseqüente formação de arranjos produtivos locais, já está se tornando uma realidade em muitas regiões. Deve-se destacar, no entanto, que a grande e mais importante alteração na postura empresarial está nas políticas de fomento florestal, que estão sendo implementadas pelas empresas, de forma a tornar a silvicultura brasileira, uma atividade de inclusão social, para pequenos proprietários rurais.

Dados estatísticos mostram que as áreas ociosas de pequenas propriedades, situadas no entorno dos grandes empreendimentos industriais existentes, se ocupadas racionalmente, permitiriam a duplicação da produtividade industrial, sem a necessidade de aquisições de novas áreas. Somente essa política, se adotada eficazmente, poderia dar resposta significativa a questões polêmicas, como a formação de latifúndios, grandes extensões de monoculturas, geração de emprego e distribuição de renda.

Estima-se que, se for mantido o atual ritmo de fomento, verificados nos últimos dois anos, o setor estará incorporando, ao processo de produção, a participação de mais de 50 mil proprietários rurais, até o final de 2006. Esses dados evidenciam os resultados positivos do esforço de empresas e dos governos Federal e estaduais e permitem uma avaliação otimista da expansão do setor de celulose e papel brasileiro, com aumento crescente no mercado internacional, garantia de competitividade e, acima de tudo, de forma compatível com as demandas sociais e ambientais.