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Marcílio Caron Neto

Presidente da Associação Sul Brasileira das Empresas Florestais

Op-CP-19

Está bom, mas tem que melhorar

Ao comemorarmos o jubileu de ouro da engenharia florestal no Brasil, não poderíamos deixar de mencionar Edmundo Navarro de Andrade, que, por volta de 1903, em Jundiaí, SP, começou a cultivar as primeiras espécies de eucalipto em terras da Cia. Paulista de Estradas de Ferro. Andrade decidiu experimentar o eucalipto, ainda praticamente desconhecido no Brasil, mas que, em Portugal, onde estudara, já era empregado em reflorestamento.

O governo de São Paulo, por sua vez, realizou também, na década de 1950, por meio de seu serviço florestal, experiências bem-sucedidas com outras coníferas de rápido crescimento, principalmente o Pinus elliottii. No início da década de 1960, o Brasil vivia uma época de grande expansão industrial com o governo de Juscelino Kubitschek, que exigia o desenvolvimento do setor florestal, entre outros, para reduzir a dependência de alguns produtos importados.

Nessa década, surgiu em Minas Gerais, o Curso Superior Brasileiro de Engenharia Florestal denominado Escola Nacional de Florestas - ENF, a qual, passados três anos, foi transferida para Curitiba, PR. Mas foi em 1966, com o surgimento dos incentivos fiscais para o reflorestamento, que a atividade de engenheiro florestal teve a sua importância potencializada, com a busca de profissionais da área de engenharia florestal para desenvolverem suas atividades de silvicultores, verdadeiros especialistas na ciência florestal.

Os engenheiros florestais foram os responsáveis, nessa época, pela implantação de aproximadamente 3 milhões de hectares, com empreendimentos florestais constituídos pelos incentivos fiscais, cujas florestas constituíam-se em espécies de eucalipto e pinus, matérias-primas que alimentam uma próspera cadeia produtiva da madeira, como as fábricas de papel, celulose, carvão vegetal (siderurgias), madeira serrada (móveis, construção civil), compensados e energia.

O grande desenvolvimento das atividades de reflorestamento no Brasil trouxe uma considerável demanda por tecnologia na formação das florestas de rápido crescimento. Surgiram outros cursos superiores em engenharia florestal, resultado da demanda de profissionais para o mercado, e, na busca de mão de obra especializada, as universidades começaram a oferecer cursos de pós-graduação, qualificando ainda mais os especialistas, em silvicultura, manejo florestal, melhoramento florestal, economia florestal e implantadores de indústrias de processamento da madeira.

Com os benefícios legais, surgiu um grande número de interessados nessa atividade, aproveitando os recursos financeiros disponíveis. O reflorestamento tornou-se uma operação em grande escala. Dez anos depois da aprovação da legislação de incentivos fiscais, o Brasil era um dos quatro países que mais promoviam plantios de árvores no mundo, depois da China, da antiga União Soviética e dos Estados Unidos. Nos anos de 1970, iniciaram-se os estudos sobre melhoramento vegetal das espécies de rápido crescimento, procurando detectar as mais adequadas e as procedências mais produtivas.

Como a qualidade das sementes disponíveis deixava muito a desejar, no final da década, começaram-se a empregar as técnicas de melhoramento genético para o eucalipto. Houve um salto de qualidade nos povoamentos dessa espécie. Cinco anos depois, as pesquisas de melhoramento vegetal visavam à obtenção de árvores com maior potencial de crescimento.

Aliado aos estudos de fisiologia vegetal, demonstrou-se ser possível efetuar a propagação vegetativa em larga escala para atender à grande demanda de matéria-prima florestal pelas indústrias, que culminou com a introdução das modernas técnicas de clonagem. Observa-se que a demanda por madeira aumenta a cada ano, e, mesmo que o mercado venha a sofrer retração no futuro próximo, continua o problema: o ritmo dos plantios não consegue acompanhar a elevação gradual do consumo ao longo dos anos.

O governo brasileiro já alertou que, caso não se efetuem novos plantios, o Brasil pode tornar-se um importador de madeira, apesar do seu rico patrimônio florestal. Precisamos plantar 300 mil hectares por ano, porque o mercado consumidor de vários produtos, como papel e móveis, vem crescendo. Em decorrência dos efeitos da crise mundial, o VBPF - Valor Bruto da Produção Florestal, estimado para o setor de florestas plantadas e as cadeias produtivas integradas alcançou R$ 46,6 bilhões em 2009, com queda de 11,7% diante do VBPF de R$ 52,8 bilhões em 2008.

O Brasil possui um enorme know-how em implantação de empreendimentos florestais, graças à competência e à especialização da engenharia florestal no Brasil, possuidor de 6,31 milhões de hectares de florestas de rápido crescimento, que geram bens e serviços à sociedade em geral; as florestas se destacam por oferecer importantes contribuições nos aspectos econômicos, sociais e ambientais.