Me chame no WhatsApp Agora!

Gilmar Pires de Moraes

Diretor da Angico's Mudas Florestais e Ornamentais

Op-CP-43

Planejamento de viveiros para a produção de mudas clonais
Quando falamos da produção de mudas clonais de eucalipto, podemos dizer que se trata de uma atividade sujeita a fatores únicos e restritos à produção dessas mudas, o que a diferencia bastante das outras atividades que ocorrem na silvicultura. Um desses fatores é o clima, que pode afetar todo o processo de produção, pois não está sob o controle do gestor do viveiro; daí a necessidade de se construir um viveiro com teto retrátil, pois, se ele assim o for, diminuirá, em muito, o reflexo das intempéries em todos os setores de produção do viveiro.

Como “fator clima”, podemos citar:

 
  • chuva de granizo;
  • geadas; 
  • longos períodos de chuvas, que causam umidade excessiva no viveiro, criando um ambiente propício à proliferação de fungos e bactérias;
  • longos períodos de baixas temperaturas, porém não há muito o que fazer, a não ser planejar ações no viveiro que visem mitigar seus efeitos. 

Há que se deixar claro que baixas temperaturas não têm que necessariamente vir acompanhadas de geadas. Para elas, sim, há que se ter um plano de ação que deve ser implantado quando da sua ocorrência. Um outro fator que pode concorrer para a qualidade da muda é a mudança no cronograma de entregas. Quando se diminui o ritmo de retirada de mudas do viveiro, considerando que, por sua natureza, é uma atividade que deve ser contínua, fica toda comprometida, pois o acúmulo de mudas no viveiro atrapalha as mudas que vêm na sequência de produção, até que os gargalos vão aumentando, refletindo em todas as etapas de produção, e ainda influenciando diretamente na qualidade da muda que deveria ser entregue no prazo combinado. 

A situação inversa seria a necessidade brusca de mais mudas do que foi planejado para a produção. Tendo o viveiro infraestrutura para atender a essa demanda, basta que se dê a ele o tempo que for necessário para se aumentar a produção; desde a contratação e treinamento da mão de obra, caso seja necessário fazê-lo, até a eventual expansão das áreas de produção. Portanto a área onde deverá ser instalado o viveiro deve sempre ser maior do que o que se pretende, pois pode haver a necessidade de expansão. O que nos remete a avaliar a disponibilidade de água para a irrigação, e esse recurso não pode ser fator limitante à atividade. 

A consciência da existência dessas variáveis torna mais fácil o planejamento de um viveiro de mudas de eucalipto, pois minimiza sustos que fatalmente ocorrerão no futuro se tais fatores não forem levados em conta. É fato que existem outras, mas uma atividade que nos obriga a trabalhar em equipe é a produção de mudas de eucalipto. Daí a necessidade de se ter, na organização, um alto grau de conhecimento sobre o assunto, envolvimento e troca de informações entre departamentos que, de alguma forma, têm ligação entre si, tornando os indivíduos desses departamentos pessoas extremamente comprometidas com o sucesso do empreendimento. 

Informações absolutamente imparciais sobre a qualidade da muda enviada para o campo promovem a perenização do processo de melhoria contínua, refletindo diretamente na qualidade da muda expedida. E tudo começa com a integração do viveiro com os outros departamentos da empresa, caso as mudas sejam produzidas para consumo próprio. O mesmo vale para os viveiros comerciais, visto que o seu sucesso depende da satisfação do cliente. Afinal, todas as pessoas envolvidas no processo devem ser consideradas pessoas que ali estão para acertar. 

Raramente alguém tem a intenção explicita de cometer um erro, e esta é uma figura facilmente identificável, principalmente em nosso setor. Devido à rapidez da evolução tecnológica que ocorre atualmente em todos os setores de nossa economia, os viveiros de produção de mudas não poderiam ficar de fora desse evento. Vale ressaltar que as respostas positivas, em termos de evolução nos métodos de produção, em todas as suas fases, desde que foram surgindo ao longo do tempo, foram prontamente implantadas. 

O que significa que, para esse setor, a aplicação de novas tecnologias não é um daqueles paradigmas difíceis de serem quebrados. Como exemplo, podemos citar a evolução dos substratos, a evolução dos sistemas de irrigação, da forma de se lidar com a nutrição e os defensivos. Enfim, são inúmeros os exemplos de rapidez nas respostas às necessidades de aplicação de novas tecnologias com suas respectivas inovações. E podemos dizer com convicção que, atualmente, estamos vivendo uma nova fase, em que se buscam melhorias no sistema de produção de mudas. 

Há algum tempo, se vem falando muito sobre utilização de tubetes biodegradáveis, mecanização e consequente automação no sistema de produção de mudas, enfim, a necessidade eterna de se baixar custos de produção nos obriga a buscar novas formas de produzir essas mudas. O que há poucos anos era apenas uma miragem, hoje  está se tornando uma realidade da qual não teremos como escapar. O fator limitante é o valor do investimento a ser feito, que ainda é muito alto.

Mesmo baixando custo de produção, o investimento necessário atualmente é proibitivo. Podemos dizer que hoje, com algumas exceções fora do setor de celulose, porém do ramo de produção de madeira, somente a indústria de celulose tem condições de implantar um viveiro que tenha como base esse novo conceito. Vale lembrar que, para comercialização, os preços praticados no mercado de mudas atualmente tornam inviável qualquer investimento na atividade; o que dizer, então, da implantação de um viveiro com base nesse novo conceito tão sofisticado.

Mesmo assim, insisto, não haverá retrocesso, o caminho é a automação dos viveiros, principalmente em função da falta de mão de obra para o setor e seus respectivos custos. O que deve acontecer com o passar do tempo é que o valor do investimento deve cair um pouco, o valor da muda deve subir um pouco, e o mercado irá se acomodar. Outro fator muito importante no contexto de produção de mudas é o seu custo de produção e a qualidade. Essa é uma seara que se nos apresenta como algo fácil de trabalhar, porém é exatamente o contrário, é o ponto nevrálgico de todo viveiro.

Quando tratamos do item qualidade, vale o trinômio: conhecimento/envolvimento/comprometimento de cada indivíduo mais o trabalho em equipe. Não basta o viveiro se esforçar para produzir uma boa muda se ele não “conversar” com seu cliente – o pessoal de plantio; pode ser que o que ele considera como sendo uma boa muda não atende às exigências e às necessidades do seu cliente. Também não basta receber feedbacks se não for tomada nenhuma ação. Daí a necessidade das pessoas envolvidas no processo de produção de mudas visitarem o campo com frequência. E eu diria mais, o pessoal de campo também deveria visitar o viveiro. 

Com certeza, muitos problemas deixariam de existir por causa dessa integração. A meu ver, os dois setores são como irmãos siameses, pelo fato de que um não faz sucesso sem o outro. De posse dos parâmetros de qualidade que forem combinados com o pessoal do plantio, tais como tamanho, pares de folhas, diâmetro de colo, sanidade, sistema radicular e, principalmente, o peso de cada um desses itens no processo de avaliação, mais a quantidade e o cronograma de retirada, o viveiro deve trabalhar na elaboração de sua programação de produção dessas mudas. 

E será durante o processo de produção que uma das ferramentas mais importantes que ele vai lançar mão é o controle de qualidade. Existem ferramentas da qualidade disponíveis para todo tipo de orçamento. Consultores, pessoas dos próprios setores que cuidam desse assunto na empresa, enfim, as formas de se fazer o controle de qualidade existem. 

O importante é haver a consciência de que há a necessidade de se implantar tal processo, pois, além de facilitar muito a produção, evita que ocorram fatos desagradáveis e desgastantes junto ao cliente, ou à equipe de campo, e principalmente porque um controle de qualidade bem aplicado e que tenha um acompanhamento bem rígido promove a redução nos custos de produção, visto que age no sentido de corrigir deficiências antes que problemas possam ocorrer. 

Vale lembrar que a produção de mudas é uma atividade muito técnica, exige muita atenção, dedicação e conhecimento do seu responsável, e o controle de qualidade é uma importante ferramenta a ser utilizada por esse gestor. Não dá para pensar em produzir mudas sem o uso dessa ferramenta, pois ela ajuda a promover a sustentabilidade do empreendimento. Ao mencionarmos a palavra “sustentabilidade”, para que esta ocorra de fato, podemos dizer que as certificações, tanto as ISO’s como o FSC, são ferramentas valiosas para que se atenda tanto à legislação que regula essa atividade como ao atendimento das exigências do cliente da madeira ou celulose que serão produzidas a partir do momento em que se essas mudas sejam plantadas.  

O gestor de um viveiro, teoricamente, deveria saber fazer mudas e ponto final. Não é bem assim, existem outros conhecimentos necessários ao bom desempenho da função. Além do controle de qualidade, há que se fazer um acompanhamento minucioso dos custos. Insumos e mão de obra são itens que têm um peso significativo na formação dos custos. Portanto esse é um item que compõe uma das qualificações que o responsável pelo viveiro deve ter. 

O treinamento também é uma das ferramentas essenciais que temos à nossa disposição e que nos pode trazer ganhos significativos em termos de melhorias na qualidade e quantidade de mudas produzidas. Este texto não tem a pretensão de ensinar ao público tão seleto que o lê como planejar um viveiro de produção de mudas clonais; para essa função, temos profissionais extremamente qualificados, tanto nas empresas como consultores que atuam há muitos anos no mercado. 

Por isso tive a intenção apenas de lembrar alguns itens que considero importantes e que devem ser levados em consideração no planejamento de um viveiro, tendo como base o aprendizado que nunca se encerrou nesses anos em que estou inserido nessa atividade. Só para ilustrar, não posso deixar de contar o que o professor Marchesi, hoje aposentado da Unesp de Botucatu, falou para nossa equipe numa de suas visitas regulares que nos fazia, lá pelos anos 1990: “Senhores, prestem atenção ao que vou dizer, a muda representa 50% da celulose, portanto pensem na qualidade do produto que vocês fazem aqui”. Sinceramente, na época achei um exagero, hoje vejo que ele estava coberto de razão.