Gerente de Negócios Creasorb, da Evonik
OP-CP-34
A “pegada de carbono” é um indicador muito citado globalmente como fator importante na mudança climática atual e como índice de previsão para os efeitos ambientais que encontraremos no futuro. Representa a soma de todas as emissões de gás efeito estufa (GEE) do ciclo de vida resultantes da fabricação de um produto.
Não tão citada globalmente, a “pegada hídrica” tem como objetivo avaliar o ciclo sustentável, justo, econômico e eficiente dos recursos de água doce em todo o mundo. Por meio do avanço do conceito desse indicador entre as empresas, os governos e as comunidades, é que se incentiva o manejo de governança e se reduz o impacto ecológico e social do uso desse recurso, ainda disponível.
A norma ISO 14046 “Pegada Hídrica” (em desenvolvimento) se concentra em definir, avaliar o inventário, calcular o balanço e avaliar o impacto e os requisitos de uso da água.
Todavia, para as empresas, ainda se trata de um tema pouco abordado, devido ao ainda existente fácil acesso a esse recurso de baixo custo. Para a silvicultura, o tema é de alta importância, sendo sua disponibilidade em qualidade e em quantidade um grande diferencial em projetos florestais de sucesso, especialmente em novas fronteiras onde a expansão das áreas plantadas é fator-chave, de viabilidade econômica a novos projetos industriais (celulose & papel, carvão, siderurgia, madeira e afins).
Dessa forma, o manejo racional da água traz não somente benefícios ecológicos como também reduz os custos de produção, gerando maior rentabilidade aos empreendimentos florestais.
Falamos numa oportunidade anterior na Revista Opiniões sobre a disponibilidade de uma nova “ferramenta” para o plantio irrigado, os condicionadores de solo, polímeros superabsorventes de água – ou, como é conhecido, o “gel” de plantio – que agem quando hidratados, como uma reserva hídrica essencial no transplante de mudas para o campo, reduzindo o estresse do plantio e os efeitos da estiagem e auxiliando no estabelecimento da cultura, otimizando custos operacionais pela redução da frequência das irrigações e, por consequência, do volume de água.
Permitem, ainda, redução do custo do transporte de água no campo pela redução do número de viagens em áreas remotas. Curiosamente, esses condicionadores de solo, ou gel de plantio, podem absorver até 300 ou 400 vezes seu peso em água, todavia não são solúveis em água devido ao elevado peso molecular.
Essa família de produtos realmente condiciona o solo pela elevação da Capacidade de Retenção de Água (CRA). Mesmo após a evapotranspiração e a liberação da água à planta e ao meio, tem a capacidade de se reidratar quando sob nova irrigação ou sob período chuvoso.
Consequentemente, essa disponibilidade de reserva hídrica se manterá e permitirá, de forma mais perene, a redução da frequência das irrigações e, novamente, os custos desse manejo. Sua permanência no solo, quando aplicado ao redor das raízes, será de até 4 anos quando, gradativamente, por ação de mecanismos de degradação físico, químico e biológico, seja reduzida até a completa degradação no meio ambiente. Falaremos hoje sobre produtos complementares, que podem atuar em conjunto no plantio irrigado. Trata-se dos aditivos de irrigação.
Na verdade, são polímeros de menor peso molecular, lineares e altamente polares, solúveis em água. Não podem ser classificados como condicionadores de solo (apesar de erroneamente o serem assim chamados), pois não modificam as características do solo (no caso retenção de água) nem “condicionam” o solo a uma melhoria mais perene da propriedade Capacidade de Retenção de Água.
Quando dispersos em meio aquoso, provocam tão somente o aumento da viscosidade desse meio por se tratar de agentes espessantes poliméricos catiônicos. A alta viscosidade do produto, especialmente em maiores concentrações, dá a aparência de um gel, quando, na verdade, se trata de um efeito tixotrópico desse produto na água.
A tixotropia ocorre quando os fluidos não têm comportamento newtoniano ou não são constantes. As soluções tixotrópicas são, portanto, inconstantes. Sob efeito de cizalhamento ou agitação intensa, tornam-se fluidos ou pouco viscosos. Cessada essa agitação, devido à alta polaridade do polímero solúvel em água, se tornam novamente muito viscosos. Daí também erroneamente serem chamados de gel de irrigação, quando deveriam ser considerados somente aditivos de irrigação.
Portanto essa viscosidade precisa ser devidamente ajustada, para permitir a fixação temporária do produto ao perfil do solo, preferencialmente formando o bulbo úmido nas raízes da planta.
Adicionalmente, por possuírem características catiônicas, ficam ligadas por forças iônicas às partículas do solo, também iônicas, agregando-as por coesão e, por consequência, mantendo umidade no solo. Essa coesão permite inclusive que o produto seja usado no combate à erosão, reduzindo esse efeito indesejável.
O efeito prático do aditivo na irrigação é a redução da percolação da água e a manutenção da capacidade de retenção da água ao redor das raízes da planta, estendendo, por algum tempo, essa disponibilidade e, por consequência, reduzindo a frequência de irrigação e custos inerentes a esse processo, especialmente quando se trata de grandes áreas em projetos florestais.
Essa manutenção da umidade permite ainda que os nutrientes ou fertilizantes aplicados não se percam com facilidade, mas estejam disponíveis às raízes.
Ora, se os citados condicionadores de solo (gel), quando aplicados no plantio junto às raízes, têm ação mais perene no efeito de retenção de água por poderem ser reidratados, os aditivos de irrigação podem ser combinados e aplicados nas irrigações subsequentes aos plantios, permitindo a reidratação dos primeiros, condicionadores de solo mais perenes.
Assim, a água contida como meio de solução dos aditivos hidratará o condicionador de solo (gel) e manterá o efeito sinérgico de molha do bulbo úmido, característico do aditivo.
Esse procedimento combinado entre os produtos condicionadores de solo (gel) no plantio e o aditivo de irrigação na irrigação tem sido recomendado em situações de campo muito críticas, com solos arenosos, e em condições mais severas, de elevada temperatura ambiente.
Evidentemente que, para cada tipo de solo em diferentes regiões, é imperativo o estudo prévio para a recomendação mais adequada a cada situação. E, apesar de serem boas “ferramentas” de trabalho para o plantio e, principalmente, à economia de água e aos custos das operações de irrigação, possuem “limites” que devem ser conhecidos e respeitados.
Acompanhando a evolução da disponibilidade dessas novas alternativas de condicionadores e aditivos, os fabricantes de equipamentos para o plantio e para a irrigação têm se adequado a essa realidade, se antecipando em oferecer sistemas mais ergonômicos, mais produtivos e com maior nível de automatização e mecanização.
Sistemas semimecanizados já estão disponíveis no mercado, permitindo expressivo aumento da produtividade no plantio com condicionador de solo, assim como dosadores de maior precisão para os aditivos de irrigação florestal. Sistemas 100% mecanizados são parte da nova geração de equipamentos que estarão também disponíbilizados pelo mercado em futuro breve, finalmente dando o passo que faltava à silvicultura.
Portanto concluímos que a Análise do Ciclo de Vida – ACV, do produto oriundo de florestal comercial, além da contribuição na redução do gás efeito estufa (GEE), já conhecida pelo sequestro de CO2, também colabora, de forma positiva, na avaliação da pegada hídrica e na redução no consumo de água e de custos operacionais para a geração desses produtos florestais, sejam eles celulose, papel, madeira, carvão para siderurgia, energia, ou simplesmente na recomposição de florestas nativas, colaborando para um meio ambiente mais sustentável para todos em nosso limitado planeta.