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José Luiz da Silva Maia

Coordenador da Divisão de Meio Ambiente da Duratex

Op-CP-21

Madeira reconstituída e plantações modelos

Ao conceituar que sustentável é o modelo de desenvolvimento que atende às gerações presentes sem comprometer as necessidades das gerações futuras, no qual se busca o equilíbrio entre a viabilidade econômica, a justiça social e a adequação ambiental, explicita-se um desafio da espécie humana.

Isso posto, é possível colocar a questão em discussão sem enveredar para utopias que apenas se concretizariam se todas as pessoas se propusessem e conseguissem sobreviver em um estágio de vida primitivo, em momento anterior à descoberta da agricultura, há cerca de 10.000 anos. Portanto, sustentabilidade é um propósito em construção, com um histórico de acertos, erros e equívocos na busca da viabilidade.

No atual estágio de desenvolvimento, a variável econômica tem prevalecido sobre a ambiental e social, o que fica evidenciado na constatação de que, estendido para toda a população do mundo o padrão de vida dos países desenvolvidos, faltará planeta.

Mas se justifica a expectativa otimista de que a sustentabilidade é viável quando, por exemplo, constatam-se os progressos nos meios de utilização dos recursos florestais mediante a possibilidade de manejar florestas nativas e plantar florestas quando estas já foram extintas.

A produção do mobiliário, que permite o ordenamento dos espaços construídos e é indispensável na organização do cotidiano das pessoas em seus lares, no trabalho e no lazer, tem sido uma das causas do grande consumo de madeira, com as consequentes reduções da cobertura florestal e ameaça de extinção de espécies arbóreas. No entanto foi possível desenvolver no século XX a tecnologia dos painéis de madeira reconstituída, tornando possível larga substituição do uso de madeira maciça na fabricação de móveis, divisórias e revestimentos.

Essa tecnologia trouxe vantagens e pode ser tomada como uma das soluções do desenvolvimento sustentável. Painéis de madeira reconstituída podem ser feitos com espécies florestais de rápido crescimento; dispensando o uso de toras de árvores nobres, permitem redução significativa de perda da matéria-prima e viabilizam a reutilização da madeira maciça reciclada após outros usos.

Se a tecnologia da madeira reconstituída representa uma solução em desenvolvimento sustentável, a produção da matéria-prima para esse processo industrial, a partir do manejo de plantações florestais, constitui o exemplo do qual podem ser extraídas lições valiosas para a construção da sustentabilidade em cadeias produtivas que têm início na utilização dos recursos naturais.

Ao incorporar no manejo de plantações florestais os conhecimentos gerados nos estudos de ecologia aplicada e por outras ciências, a engenharia florestal está encontrando os meios para controlar, mitigar ou eliminar efeitos adversos da atividade no manejo do solo, proteção da biodiversidade, conservação dos recursos hídricos e a proteção das pessoas.

A sustentabilidade das plantações florestais de espécies exóticas de rápido crescimento, manejadas para o abastecimento industrial em larga escala pelo componente ambiental, requer: a ocupação de áreas anteriormente desmatadas para outros fins; conservação e recuperação da vegetação nativa para manutenção da biodiversidade; estabelecimento de um mosaico no qual se integrem, harmonicamente, espaços com cultivos, vegetação nativa, edificações e sistemas viários; compatibilidade ecofisiológica das espécies cultivadas, de acordo com estratégias de longo prazo para assegurar a conservação do solo e dos recursos hídricos.

Em relação aos aspectos sociais, a gestão dos empreendimentos florestais tem que ir além do atendimento das normas de segurança do trabalho e dos direitos dos trabalhadores, com diagnósticos e medidas para o estabelecimento de justas e construtivas relações com a comunidade. Dentro do agronegócio, o setor das plantações florestais vinculado aos empreendimentos verticalizados é o que mais rapidamente tem incorporado métodos e posturas para equacionar questões ambientais e sociais, mantendo a competitividade econômica em nível internacional.

Para se avançar na construção da sustentabilidade, o desafio está em abreviar o intervalo de tempo entre a identificação de um procedimento mais adequado e sua internalização na gestão das plantações e indústrias de base florestal. A resposta aos desafios está na ciência, no desenvolvimento tecnológico consolidado em função dos valores mais nobres alcançados pela espécie humana.