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Isac Chami Zugman

Presidente da Compensados e Laminados Lavrasul

Op-CP-17

Se não aproveitarmos, seremos história

A crise não acabou, o momento pior pode estar passando, mas os efeitos e consequências perdurarão por muitos anos. Os sistemas econômicos foram desmantelados, a confiança desapareceu, empresas sumiram sem deixar vestígios, países estão passando por severas mudanças, cujas consequências, a médio e longo prazos, são incógnitas.

Claro que nosso setor foi seriamente afetado, mas, mesmo antes de explodir a crise, já mostrávamos fortes sinais de enfraquecimento, com investimentos sendo cancelados ou postergados, produção sendo drasticamente reduzida e outros indicativos. O grande cliente, os Estados Unidos, já estava em crescimento negativo, a economia brasileira não mostrava força suficiente e uma coisa foi puxando a outra.

Muitas empresas passaram a utilizar métodos suicidas, baixando preços violentamente na tentativa de obter pedidos, mas o que conseguiram foi a postergação de decisão de compras na espera de ainda maiores reduções de preços, o que aconteceu efetivamente durante longo período de tempo.
Resultado óbvio foi o fechamento de empresas, endividamento, corte ainda maior de volumes produzidos, círculo vicioso difícil de se romper.

A indústria madeireira brasileira, até a década de 80, era quase totalmente dependente do pinheiro do Paraná (araucária), largamente utilizado na fabricação de compensados em geral, portas, tábuas, caibros, sarrafos, lambris, molduras, etc., que dominavam o mercado. Todavia, a indústria era muito antiquada, poucas empresas sobreviveram aos novos tempos.

A partir dessa década, novas espécies vindas da Amazônia começaram a ser industrializadas pela tradicional indústria madeireira dos estados do PR, SC e RS. Também floresceu a indústria na Amazônia nesse mesmo período. Uma enorme alavancagem ocorreu nos volumes produzidos, ao mesmo tempo em que se começava a aumentar as exportações, especialmente para o Reino Unido, em primeiro lugar, para a então Alemanha Ocidental e para o Oriente Médio.

Coincidentemente, começou-se a colher o pínus plantado, em decorrência dos incentivos fiscais. De repente, a produção brasileira passou a ser interessante para o mundo. Apesar da qualidade irregular, tínhamos muito produto, a bom preço.
Alguns ingênuos, muitas vezes incompetentes e, até mal-intencionados brasileiros, construíram uma péssima imagem.

Ainda hoje, há sérios problemas quanto à qualidade, serviços, pontualidade e certificações, mas, felizmente, há um número muito maior de fornecedores reconhecidos como bons e confiáveis, com produtos de qualidade igual ou superior ao de países concorrentes, internacionalmente certificados ambiental e tecnicamente.

No início dos anos 90, a Comunidade Europeia pressionou a indústria brasileira de compensados, imaginando estar criando uma barreira técnica, o que beneficiaria as fábricas de dentro da CE. Os europeus ficaram surpresos com a capacidade brasileira de responder com vigor e qualidade a mais esse obstáculo, pois desenvolvemos o PNQM ? Programa Nacional de Qualidade de Madeira, a eles apresentado na Embaixada Brasileira em Londres.

Esse programa, reconhecido no Brasil e internacionalmente, é a base de outras certificações. O Brasil tomou conta do mercado europeu de compensados de coníferas. Outros tipos de compensados tiveram, igualmente, sua qualidade e origem certificadas. Em meados dos anos 90, o mercado dos EUA requereu grande volume de compensados para a indústria da construção civil, e, mais uma vez, o empresariado brasileiro venceu o desafio de certificar tecnicamente seus produtos, de acordo com as exigências norte-americanas, inundando aquele país com nossos produtos, a ponto de excedermos a quota livre de impostos de importação do Sistema Geral de Preferências.

Atualmente, o compensado brasileiro paga altas taxas de impostos de importação, mas, mesmo assim, continua a ser um fator de equilíbrio do mercado americano.
Infelizmente, até chegarmos a esse ponto, muitas foram as baixas, perdemos capacidade de produção, exportamos menos, geramos menos empregos, menos divisas, menos tudo.

A crise depurou a produção, sobreviveram os melhores, que têm oportunidade única de definitivamente se firmarem como fornecedores confiáveis, não mais de produtos baratos, mas de qualidade superior, podendo, inclusive, escolher parceiros de qualidade e reputação ilibada. Se não aproveitarmos, seremos história.