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Raul Chaves

Gerente de Tecnologia Silvicultural da Duratex

Op-CP-41

Baixo impacto e alta eficiência
O setor florestal brasileiro ficou reconhecido mundialmente como um exemplo de pleno sucesso.  A conjugação do desenvolvimento de muita tecnologia através de cooperação e da parceria entre setor produtivo e academia permitiu, por exemplo, sairmos de uma produtividade de 10/15 m³/ha/ano para níveis de 50 m³/ha/ano, no caso do eucalipto.  

E isso num prazo muito curto, um século, se considerarmos as introduções por Navarro de Andrade, ou somente meio século, se considerarmos o grande avanço dos plantios florestais ocorrido a partir dos incentivos fiscais de 1967. Ou, falando em ciclos florestais, algo como uma dezena, bem diferente 
das culturas agronômicas, que já passaram por centenas de ciclos em solo brasileiro e milhares de ciclos em outros países, desde que o homem deixou de ser meramente extrativista e passou a cultivar seu próprio alimento.
 
Os primeiros avanços tecnológicos na eucaliptocultura foram alicerçados no binômio melhoramento genético/manejo florestal, incluída, neste último, a nutrição florestal. Foram trabalhos executados num momento de recursos fartos, mão de obra abundante. O modelo era de uma silvicultura intensiva, com preparo intenso do solo, gradagens, aração, uso de fogo permitido. Nos anos 1990, com os avanços das preocupações e das legislações ambientais e com a viabilização do uso de herbicidas, veio com força o cultivo mínimo: o preparo e a exposição do solo foram fortemente reduzidos, os custos de implantação, diminuídos, bem como o uso de mão de obra.
 
Paralelamente, a clonagem avançou a passos largos e se impôs como a principal fonte de material para plantio comercial.  Até houve quem deixou de lado programas de melhoramento, tomando a clonagem como fim em si própria, e não como ferramenta para fixar um bom genótipo desenvolvido. Logo em seguida, iniciou-se o processo de mecanização das atividades da colheita, a partir dos modelos existentes nos países desenvolvidos, que rapidamente foram adaptados e aperfeiçoados no Brasil.

O início da mecanização pela colheita era uma consequência da necessidade de melhorias na segurança e na possibilidade de redução de custos dessas atividades, bem menos variadas e complexas do que as operações de silvicultura. Já na última década, pouco a pouco, a mecanização da silvicultura começou a se instalar, uma necessidade premente em função da crescente falta de mão de obra rural.  

A variabilidade de condições e de processos silviculturais torna o avanço mais lento e complexo: é preciso simplificar e reduzir atividades. Foi também nesses últimos anos que uma porção de pragas e doenças do eucalipto se estabeleceram em solo brasileiro. 
E, mais uma vez, o setor florestal saiu na frente ao buscar soluções de controle integrado, com participação forte de soluções biológicas. E ficou a constatação de que, com a globalização, é muito difícil impedirmos a entrada de novas pragas e doenças: no máximo, conseguimos retardar e nos prepararmos mais.

Por outro lado, também percebemos que, após o impacto inicial, severo e com emprego de algumas soluções básicas de controle integrado, consegue-se obter um equilíbrio de convivência com a nova praga/doença. 
O dinamismo do desenvolvimento tecnológico em silvicultura sempre foi acompanhado de uma importante rede de experimentação em campo conduzida nas empresas com a parceria da academia.  

E, já neste século, complementando essa rede experimental, surgiram os projetos científicos para estudar em profundidade os processos fisiológicos de árvore e população. Projetos de alto nível, como a Torre de Fluxo, trouxeram uma importante compreensão dos mecanismos de crescimento das árvores e das florestas frente aos recursos nutricionais e hídricos disponíveis nas condições climáticas vigentes.  E deles começa a emergir a compreensão do uso da água pela floresta plantada nessa que passa a ser uma das principais questões florestais para os próximos anos.  

 
Podemos dizer que a receita para se produzir uma floresta de rápido crescimento e alta produtividade é dominada. Mas como fazê-lo de forma eficiente, com o menor impacto ambiental e social possível, com a maior eficiência de uso de água possível e ao menor custo?  O equilíbrio entre tantas variáveis está tornando difícil e complexo fazer florestas. No passado, os problemas se resolviam numa mesa de reunião com poucas pessoas.
 
A principal burocracia era fazer o “projeto de reflorestamento”, submetê-lo ao IBDF, conseguir o recurso, plantar, manter e colher. Hoje, as decisões são compartilhadas, tem-se que ouvir múltiplos stakeholders; as exigências são muitas, atendimentos a todos os níveis de legislação: nacional, estadual, municipal; pressões de ONGs e entidades das mais diversas ideologias; necessidades de certificações nacionais e internacionais e selos de todos os tipos e procedências.

Essas necessidades todas estão aumentando o custo e comprimindo a competitividade do setor florestal brasileiro. A tecnologia, sozinha, já não basta mais, precisa do marketing. Já se disse, com propriedade, que o setor florestal brasileiro avançou muito tecnologicamente, mas ainda engatinha na forma de vender e defender sua imagem nos diferentes setores da sociedade.

A estruturação de nossa Indústria de Árvores, a Ibá, veio em boa hora, com forte papel no desenvolvimento de mecanismos para transferir para toda a sociedade a visão interna de um setor altamente tecnificado, extremamente comprometido com segurança ambiental e participação social. 
E como caminhará a nossa silvicultura? Que avanços tecnológicos esperar? O melhoramento florestal, que trouxe grandes ganhos no início de nossa silvicultura, ainda será responsável por muitos avanços.

Diferentemente do que aconteceu com algumas culturas, como a cana, a banana e o citrus, nos quais a variabilidade genética está estreita demais, no eucalipto ela mal começou a ser explorada: de um total de quase 900 espécies, pouco mais de uma dezena adquiriu real importância comercial. 
E foram ainda muito pouco estudadas em diferentes ambientes. Muitas introduções realizadas no passado somente testaram uma procedência em uma única região, e, não tendo tido bom resultado, o material foi deixado de lado.

Precisamos experimentar esses materiais em uma gama maior de ambientes, estressando-os nutricionalmente e no manejo, para conseguir entender melhor sua adaptação. E aqui pode estar uma resposta muito apropriada a uma das questões atuais mais recorrentes, as “mudanças climáticas”. Os modelos climáticos apontam diferentes quadros, alguns mais leves, outros mais drásticos.

Ninguém tem bola de cristal para saber exatamente o que acontecerá, mas, se tivermos conhecimento do comportamento dos materiais genéticos em diferentes condições ambientais, estaremos preparados para saber que materiais usar nos diferentes cenários projetados de mudanças climáticas. As técnicas genômicas estão surgindo como apoio ao melhoramento, como forma de avançar mais rapidamente.

 
Finalmente foi aprovado o primeiro clone transformado, mas não podemos deixar de lembrar que muito pode ser feito ainda com técnicas mais simples e consagradas, como a hibridação entre espécies, principalmente quando se fala de características de produtividade. À medida que avançarmos nas gerações de melhoramento (e desconheço programa que já tenha chegado a 10 gerações), certamente passaremos a reconsiderar plantios de progênies e linhagens melhoradas.
 
A nutrição avançou muito, já se conhecem necessidades nutricionais para diferentes clones. As “receitas de adubação” são cada vez mais precisas e eficientes.  Mas não podemos nos esquecer de que ela ainda é responsável por um terço do custo de formação florestal.  Produzir florestas altamente produtivas com adubações fartas é fácil. O segredo estará em como produzir de forma sustentável, adicionando cada vez menos fertilizantes.

E aí ainda serão necessários muitos progressos nas tecnologias de liberação controlada de nutrientes em adubos e, principalmente, avançar nos estudos da microflora do solo, das micorrizas, de forma a compreender, imitar e aumentar a eficiências dos processos naturais de disponibilização de nutrientes para as árvores. Como tornar esses processos mais eficientes, de forma a se reduzir a necessidade de suprimento adicional de nutrientes?

 
Será que um dia conseguiremos simplificar os processos necessários a uma boa floresta, reduzindo-os a um preparo mínimo de solo, com a colocação de todos os insumos necessários ao estabelecimento e à manutenção da floresta ainda antes do plantio?  E depois, só plantar e monitorar? Os processos de monitoramento da floresta a distância terão que evoluir. O sensoriamento remoto em diferentes escalas (satélites, aviões, vants, drones), com diferentes sensores espectrais, calcado em um bom registro cadastral, terá que nos auxiliar na gestão dos ativos florestais. Ferramentas de monitoramento de pragas, doenças e estresses das mais diversas origens terão que ser desenvolvidas. Precisamos que a tecnologia nos auxilie a simplificar a forma de fazer florestas cada vez mais produtivas, mais eficientes e menos impactantes.