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Anderson Lins Machado

Diretor Florestal da Dexco

OpCP73

Gente em foco: o futuro da silvicultura
Até o final de 2022, o preço da madeira alcançou índices recordes, impulsionado pela alta competição por terras e pela incerteza quanto à autossuficiência do maciço florestal existente. Para o período até 2030, projeta-se um crescimento de 33% na produção de celulose e 11% na produção de papel, baseado nos níveis de 2020. Com esse cenário, foram anunciados investimentos significativos, totalizando R$ 54,2 bilhões entre 2023 e 2028, para o setor florestal.

Atualmente, o Brasil conta com 9,93 milhões de hectares de efetivo plantio e a cadeia produtiva das florestas representa 1,2% do valor adicionado à economia em 2021. Essas florestas plantadas se estendem por mais de mil municípios, empregando cerca de 2,9 milhões de pessoas, com 600 mil trabalhadores em atividades diretas, o que equivale a 7,2% da base do agronegócio primário (8,3 milhões de pessoas).

Grande parte dos trabalhadores do agro tem o campo como sua origem. Por isso, é importante olhar para a tendência de declínio da população rural brasileira, que será ainda mais impactada pelo positivo aumento do nível educacional desse grupo. Conforme dados do Cepea, entre 2012 e 2022, felizmente a força de trabalho no agronegócio elevou seu nível de escolaridade, embora ainda enfrente desafios salariais, recebendo, em média, 30% menos que a média salarial brasileira.

Além disso, hoje o Brasil se beneficia do bônus demográfico, com a taxa de desemprego sendo reduzida nos últimos anos, prevendo-se uma redução para 8% nos próximos dois anos.  Alguns estados brasileiros vivem o pleno emprego, com taxas entre 3% a 4,8%, como o Estado do Mato Grosso, com taxa de 3%, e Santa Catarina, com 3,8%. No mesmo sentido, existem estudos que indicam que, em breve, para cada cinco vagas abertas no campo, haverá apenas um profissional qualificado disponível.

Os impactos dessa situação já são observados no dia a dia operacional, em que encontrar candidatos para vagas e manter a equipe é desafiador. Diante disso, é essencial questionar: Quão avançada está a mecanização no setor? As tecnologias em desenvolvimento atendem às necessidades produtivas? A evolução da mecanização será capaz de acompanhar a redução da mão de obra no campo?

A mecanização no agronegócio brasileiro foi e continua promissora, com avanços significativos em várias atividades produtivas. A industrialização agrícola expandiu rapidamente e passou a exigir uma reestruturação do campo. Na colheita florestal, desde a década de 1980, tivemos inúmeros avanços, proporcionando redução de custos, aumento da produtividade e maior segurança. Porém, quando se analisa a silvicultura, percebe-se um progresso mais lento.

Entre os desafios da implantação florestal, a incapacidade das mudas se manterem hidratadas após plantio é a principal causa de mortalidade. Quando analisadas individualmente, as operações de irrigação e plantio se destacam como as atividades que menos evoluíram com a mecanização. A complexidade das áreas de reforma, exigência de técnica e habilidade para execução dessas operações e o alto investimento em maquinários tendenciam a utilização da mão de obra. Algumas alternativas já existem no mercado, como plantadoras automatizadas e sensores óticos para irrigação mecanizada, mas ainda necessitam de desenvolvimento contínuo para garantir níveis razoáveis de produtividade e qualidade.

A alternativa que o setor encontrou para melhorar o desempenho das atividades já realizadas com trator foi desenvolver equipamentos e implementos que garantam um melhor rendimento, como, por exemplo, aumento da capacidade de tanques/reservatórios, operações conjugadas, implementos mais resistentes, associados a tecnologias como piloto automático para preparo de solo, controladores eletrônicos de insumos, telemetria das máquinas e monitoramento em tempo real.

Essas estratégias serviram para o aumento da nossa produtividade e para que, nos últimos 10 anos, as horas utilizadas para produção de um hectare reduzissem em 20%. Embora haja avanço nesse ponto, a proporção entre atividades manuais e mecanizadas foi mantida no período, no qual 60% ou 70% das atividades ainda continuam sendo manuais.

O cenário mostra a elevada dependência dos trabalhadores rurais. Assim, é importante conhecer esse público com profundidade e pensar qual será o perfil do trabalhador rural nos próximos anos. Com média de 35 anos e formação predominantemente de ensino fundamental incompleto, esse público está envelhecendo e as condições de trabalho de campo ofertadas pela silvicultura fazem o setor não ser atraente. Alguns estudos afirmam que as expectativas dos jovens rurais estão, na maioria das vezes, associadas à busca por melhores condições de vida, que os direciona para as cidades. Buscam também a construção de uma identidade sem estigmas, associada ao senso comum e entendida como “normal”. Como setor, o alto turnover e dificuldade de retenção se justificam principalmente pelo ambiente de trabalho distante das cidades, qualidade de vida e remuneração. 

Dessa forma, é imprescindível traçar políticas de retenção e atratividade para essa força de trabalho, como a remuneração variável em função da produção, melhoria das condições de trabalho e um programa de capacitação com vistas ao crescimento interno das pessoas.

O futuro das florestas plantadas no Brasil está relacionado à inteligência, conexão e máxima mecanização. Para isso, é crucial que as empresas florestais, fabricantes de equipamentos e instituições de ensino se unam em prol desse objetivo, incentivando a pesquisa e o desenvolvimento para impulsionar a produtividade, reduzir a dependência de operações manuais e garantir maior eficiência operacional.

Talvez ainda não tenhamos respostas concretas para todos os questionamentos realizados, mas o fato é: o setor florestal brasileiro enfrenta o desafio de modernizar a silvicultura através da mecanização. Com a cooperação e inovação de todos os envolvidos, podemos alcançar avanços significativos que impulsionarão a produtividade e a sustentabilidade da indústria de florestas plantadas no País.

Em paralelo, precisamos investir mais na nossa gente, preparando nossas equipes para viver esse momento que tem sido transformador.