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Nelson Sanches Bezerra Jr e Vanderlei Benedetti

Diretor e Coordenador Florestal da Equilíbrio Florestal, respectivamente

OpCP71

Foco na valorização da qualidade florestal
O destaque mundial do setor florestal brasileiro deve-se, entre outras técnicas, ao melhoramento genético e às práticas de manejo operacional, desenvolvidos pelas empresas produtoras de madeira nas últimas décadas. Porém, vários fatores nos levam a acreditar que a avaliação da qualidade das atividades de implantação e de manutenção de projetos florestais também tem papel importante na obtenção da produtividade potencial e de um adequado balanço dos custos de produção. Apesar disso, existe uma grande dificuldade de mensuração desse papel, mesmo com todo o apoio da diretoria das empresas à excelência operacional de suas atividades.
 
Monitorar a qualidade das operações florestais permite maximizar a meta de produtividade, manter os custos dentro dos limites determinados pela empresa, garantir as metas das operações e avaliar o trabalho de prestadores de serviço ou de equipes operacionais próprias, definindo ações corretivas e melhoria contínua. Quase todas as empresas florestais usam sistemas de qualidade para monitorar a qualidade e a produtividade de suas operações. 

Apesar disso, ainda é preciso melhorar a determinação da elevação dos custos e da redução da produtividade, vinculadas à baixa qualidade da formação florestal. 

Essa quantificação pode ser aplicada para cada operação monitorada, ao invés de pesos, notas ou parâmetros isolados e sem nível comparativo, uma vez que cada empresa desenvolveu seus métodos e amostragem internamente. Apesar do benchmarking entre as empresas e mesmo com aplicação de ferramentas da qualidade mundialmente conhecidas e difundidas pelo setor florestal, parece que o conceito foi aplicado de maneira inversa, ou seja, as operações a serem monitoradas, os parâmetros, os métodos e as intensidades de amostragem, bem como os limites das conformidades, foram estabelecidos antes da quantificação dos efeitos da qualidade das operações e de insumos sobre a produtividade e os custos.
 
A busca por esse conceito não pode ser feita isoladamente por um setor ou departamento, pois uma das necessidades básicas para nortear esses resultados é o estabelecimento de projetos de pesquisa, que incluam experimentação de rotina, a partir dos quais serão obtidas curvas de produtividade/custo baseados em doses crescentes de adubos e outros insumos, diferentes profundidades proporcionais de preparo de solo e de adubação, níveis de sobrevivência de plantios e outros parâmetros que possam ser quantificados baseados na perda da qualidade operacional. 

Para isso, as ações da área da pesquisa devem estar coesas com as da qualidade, na obtenção e na análise desses dados. Baseado nesses resultados, os conceitos e padrões do manejo florestal serão mais bem definidos, auxiliando também a determinação do custo da perda da qualidade, respaldado por experimentação e análise financeira. Portanto, podemos determinar níveis ideais de conformidade, baseados numa análise financeira simulada sobre as perdas decorrentes de desvios da operação, que atuariam diretamente sobre o controle da qualidade da atividade de campo.

É importante ressaltar que, atualmente, para se determinar a conformidade de uma atividade, normalmente há valores pré-determinados e, em algumas condições, sem análise do componente custo. Assim, quase unanimemente, as faixas percentuais de conformidade são fixas e usadas similarmente por diferentes operações, empresas e em diferentes condições regionais. 
 
Valores pré-determinados de conformidade, sem o respaldo de pesquisa e experimentação, para uma análise de produtividade x custo, tendem a reduzir as ações que visam ao desenvolvimento para melhoria de máquinas e processos e, consequentemente, impactando a evolução destes. Portanto, não podemos esquecer que o valor dos insumos, aplicados em diversas fases da floresta, varia, bem como o valor da própria madeira. O comportamento de grande parte dos parâmetros avaliados pela qualidade também deve variar, e, assim, teremos conformidades definidas a cada ciclo, que seriam baseadas no custo dos insumos e das operações, no valor da madeira, no efeito da qualidade sobre a produtividade florestal.
 
É importante salientar que não pode haver contrassenso entre produção, meta e qualidade, quando se administram as operações para formação de florestas comerciais de alta produtividade. Assim, a valorização do setor de serviços e mão de obra, executores das operações, está diretamente ligada ao sucesso das florestas de alta produtividade. 

Recentemente, a evolução dos sistemas de coleta, transmissão, geração e armazenamento de dados, de forma mais padronizada e ágil, tem contribuído significativamente para as avaliações de qualidade. Além disso, novas tecnologias de imagens geradas por satélites, radar ou ARPs (aeronaves remotamente pilotadas) complementam as informações da qualidade como direcionador ou mensurador. Também o surgimento de novas máquinas, com regulagens automáticas e acompanhamento das doses e áreas aplicadas, massificam o uso de novas tecnologias que garantem a qualidade de aplicação de herbicidas, fertilizantes e outros produtos. Um processo de criação de um módulo de qualidade operacional, onde a experimentação de rotina e uma comunicação positiva entre a área da qualidade e a de pesquisa florestal são fundamentais para um sistema de monitoramento que busca resultados de excelência junto às operações florestais.
 
Outro aspecto importante a ser avaliado em um sistema de qualidade, visando à garantia das informações geradas e analisadas, é a estruturação e a valorização das equipes de monitoramento da qualidade operacional. A busca por profissionais capacitados, treinamentos constantes e remuneração compatível com a importância das informações levantadas é essencial para a representatividade das informações.

É essencial que a estrutura organizacional de qualidade tenha gestão, autonomia e independência do setor operacional, podendo, assim, contribuir com ações corretivas que melhorem as condições das práticas fora de padrão, diretamente no campo, e impedir a continuidade das não conformidades.

Cada empresa, na formação do sistema de qualidade, deve focar sua própria realidade regional, considerando variações locais para que os procedimentos e ações estejam envolvidos com essas particularidades. Assim, o sistema de qualidade florestal passa a englobar características, procedimentos e pesquisas de várias condições entre essas empresas e dentro delas, melhorando continuamente seu nível de excelência operacional. Atualmente, tem-se observado um aumento significativo do uso de ferramentas e sistemas de qualidade florestal. Isso demonstra o entendimento do setor florestal quanto à importância do acompanhamento e da mensuração da qualidade, para garantir a máxima performance das operações e, consequentemente, a formação de florestas de alta produtividade. Porém, conforme citado, ainda temos grandes oportunidades de melhoria no que tange à implantação, à manutenção e à evolução da ferramenta.