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Aroldo Ferreira Lopes Machado

Professor de Manejo de Plantas Daninhas da UFRRJ

OpCP70

Manejo das plantas daninhas na proteção florestal
Dentre os diversos fatores que contribuem para a redução da produtividade das florestas plantadas, as plantas daninhas merecem destaque, pois elas são espécies que interferem negativamente nas diferentes fases da floresta. Espécies de plantas, consideradas daninhas, não somente provocam, pelo efeito de competição, redução no crescimento e no desenvolvimento de espécies arbóreas de interesse, mas também podem dificultar operações silviculturais, interferir na colheita florestal e, ainda, contribuir para a ocorrência de incêndios florestais, entre outras interferências negativas. Nesse sentido, para promover a total proteção das florestas plantadas, o manejo integrado das plantas daninhas (MIPD) assume papel de destaque. 
 
O MIPD consiste na aplicação de técnicas de controle das espécies competidoras, nos povoamentos florestais, de forma racional, assegurando a sustentabilidade da produção a custos aceitáveis, e ambientalmente segura. Nos últimos anos, práticas de MIPD vêm passando por transformações, em função de desafios recentes, como posicionamento de produtos,  comportamento de herbicidas no ambiente, tecnologia de aplicação de herbicidas que, por consequência, proporcionam oportunidades de melhoria em processos de controle dessas plantas.

Essa evolução no processo de MIPD pode ser observada em maior escala em áreas agrícolas; entretanto, na silvicultura, apesar de serem mais lentas, é possível constatar mudanças conceituais no manejo da matocompetição, e, em função disso, muitas empresas do setor florestal têm apostado no uso de novas tecnologias para aumentar a eficiência e reduzir os custos no processo de manejo de plantas daninhas.
 
Nesse contexto de considerações, operações como identificação de plantas daninhas presentes nos talhões, recomendações de controle, uso de herbicidas aplicados em pré e pós-emergência, misturas de herbicidas em tanque, tecnologia de aplicação de herbicidas por meio de pulverizadores terrestres (mecanizados ou manuais) ou utilização de Aeronaves Remotamente Pilotadas (RPA), conhecidas como drones, controle de brotações e elevados custos das operações de manejo se apresentam como os principais desafios do MIPD na silvicultura. Assim sendo, faz-se necessária a adoção de tecnologias disruptivas como forma de aumentar a eficiência no manejo e gerar valor para a atividade.

Nesse cenário de tecnologias disruptivas, dentro do que se define como Silvicultura 4.0, a adoção de tecnologias - como Internet das coisas, Big Data, Machine to Machine (M2M), Machine Learning, inteligência artificial, satélites e sensores - é cada vez mais estudada e utilizada na busca de melhoria de performance no manejo da matocompetição. No que se refere à silvicultura digital, a cada ano, novas empresas e startups surgem no mercado, oferecendo tecnologias que, aplicadas às condições de campo, asseguram a redução de custos da atividade e ganhos de eficiência na proteção das florestas.

O uso de tecnologias relacionadas à silvicultura digital favorece o mapeamento, que é uma técnica de identificação das plantas invasoras presentes na floresta. A detecção é realizada por meio de sensores que possibilitam melhorias na estimativa da distribuição de plantas na área, uma vez que o levantamento fitossociológico, realizado pelo método convencional, demanda muita mão de obra e apresenta baixo rendimento operacional. Dessa forma, a silvicultura de precisão vem se tornando forte aliada ao MIPD, favorecendo as atividades de mapeamento de plantas daninhas, uma vez que as tecnologias de imageamento, por satélites, aviões ou drones, têm sido utilizadas no levantamento dessas plantas, em área total ou reboleiras, reduzindo custos operacionais e elevando acurácia das informações.
 
No que se refere às aplicações de herbicidas na silvicultura, as atividades podem ser realizadas com a utilização de equipamentos terrestres, costal ou mecanizado e/ou equipamentos aéreos (RPA). Em aplicações terrestres com equipamentos costais, é fundamental o treinamento da mão de obra, de modo a se evitarem problemas de deriva, de baixa uniformidade de aplicação, de intoxicação da cultura e da própria intoxicação do aplicador. 

Nas aplicações terrestres mecanizadas, modalidade de aplicação mais utilizada em silvicultura, é possível a utilização de instrumentos que, em uma mesma operação, identificam a presença de plantas daninhas e realizam a aplicação do herbicida. O uso de drones favorece, por exemplo, a aplicação de herbicidas em áreas de difícil acesso, áreas com elevado índice de resíduos ou em aplicações mais específicas, como no controle da brotação, utilizando informações do mapeamento digital.

Outro desafio na silvicultura é a utilização de herbicidas pré-emergentes, produtos importantes na implantação e nos primeiros meses da floresta. O uso desses produtos, no entanto, requer tanto o conhecimento das características físico-químicas dos herbicidas quanto das características químicas e físicas do solo para o melhor posicionamento dessas moléculas, uma vez que o tipo de solo, o teor de argila e matéria orgânica, o pH do solo, o teor de água no solo e a quantidade de resíduo influenciam a ação dos pré-emergentes. 

Atualmente, pesquisadores têm trabalhado com modelagem matemática para aumentar a eficiência no uso de herbicidas pré-emergentes, buscando a identificação de modelos para a escolha de doses adequadas, em função do banco de sementes, do tipo de solo, do teor de argila e da matéria orgânica.

Outro ponto importante que merece atenção é a utilização, na silvicultura, de misturas de herbicidas em tanque, uma prática bastante comum, em especial pelas vantagens de redução de custos.  Além disso, essa técnica proporciona agilidade nas operações, facilidade de manejo da cultura, aumento do espectro de controle, aumento no tempo de controle das plantas daninhas, quando se misturam pré e pós-emergentes, atraso na evolução da resistência dessas plantas a herbicidas e diminuição da compactação do solo. Embora utilizada há bastante tempo no Brasil, a regulamentação de misturas em tanque foi publicada em 2018, pela Instrução Normativa Nº 40. 
 
Em se tratando de misturas em tanque, é preciso, sobretudo, conhecer a compatibilidade dos produtos misturados, pois, em algumas misturas, pode ocorrer interação antagônica entre as moléculas, com consequente perda de eficácia. Nesse caso, recomenda-se a busca de informações sobre a compatibilidade das misturas e a realização do teste da jarra  antes do processamento delas. Pode ocorrer, também, o sinergismo entre os herbicidas na mistura, reação que, do ponto de vista de controle das plantas daninhas, é um fato positivo, entretanto, pode causar ou aumentar efeitos fitotóxicos dos herbicidas à cultura.
 
Como evidenciado, as plantas daninhas possuem potencial de redução de produtividade da floresta e, portanto, o MIPD configura-se uma atividade da silvicultura com a finalidade de proteção das florestas. Logo, é imprescindível entender a dinâmica das plantas daninhas e a melhor forma de manejá-las, agregando o uso de tecnologias que possibilitam o manejo, propiciam a eficácia nas operações e na redução de custos e provocam menores impactos ao meio ambiente. Por ser uma atividade complexa, faz-se necessário um bom programa de manejo de plantas daninhas na silvicultura, e isso deve ser feito no longo prazo.