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Edson Antonio Balloni

Engenheiro Florestal

Op-CP-60

Falta gente preparada
Quando o William me convidou para escrever sobre este tema, “O avanço da tecnologia no novo cenário de trabalho”, eu disse a ele que estava convidando a pessoa errada, pois só tenho ouvido falar sobre geotecnologia e geoestatística; business intelligence e floresta digital; internet das coisas; redes neurais e inteligência artificial; etc., etc. e, com um detalhe: eu ainda escrevo usando lápis e borracha.

Então, para não falar sobre o que não sei, resolvi trazer esse tema para a interação com a boa parte dos quase 1.600 profissionais que estão saindo para o mercado anualmente, das mais de 60 faculdades de engenharia florestal que existem no País. Portanto, para o avanço da tecnologia no novo cenário de trabalho, é importante que tudo isso venha acompanhado de profissionais sensíveis e preparados para conciliar toda essa tecnologia com a realidade da floresta no campo.
 
Infelizmente, muitos desses pobres jovens, que entram em algumas dessas escolas caça-níqueis, saem iludidos com o título de engenheiro florestal, sem sequer saber fazer uma simples regra de três e escrever um relatório com o mínimo de erros de português. É muito triste ver o que o MEC fez, aprovando escolas sem a menor condição de formar profissionais com conhecimento adequado.

Temos uma enorme necessidade de clínicos gerais, ou seja, engenheiros que vão a campo, sujem a botina, avaliem árvores no seu todo, entendam as áreas florestais das empresas como um grande experimento, de onde se consegue tirar a maioria das informações para o aumento da produtividade florestal.

Hoje, muitas das decisões são tomadas remotamente, sem ir ao campo ou, quando muito, usando um drone e/ou aplicativos dos celulares para medir as árvores e processar os dados no escritório e decidir. Por falar em campo, alguns de vocês se lembram do fator do seu polegar, usado para medir área basal? Ou do uso da varinha, para com a relação de triângulos, medir a altura das árvores? Não precisa mais, né?

As novas tecnologias resolvem tudo sem precisar ir à  floresta; acho que estou velho demais para acompanhar isso tudo, preciso pendurar as chuteiras, ou melhor, não vou pendurar não, vou fazer as minhas pequenas florestas do meu jeito, metendo a mão na massa e tentando salvar algumas espécies tropicais, tais como o Pinus caribaea var. bahamensis, o Pinus strobus var. chiapensis, etc., que foram esquecidas sem terem sido devidamente testadas, nas mais diferentes regiões do País, haja visto que a expansão do plantio de coníferas terá que ser nos trópicos, pois, no sul, já não há muito mais espaço para as espécies de clima temperado.
 
Voltando ao assunto da necessidade de profissionais voltados à floresta, eu fico imaginando o salto que o setor dará quando se conciliarem essas novas tecnologias com a formação de profissionais que sujem a botina e vivam a floresta dentro da floresta, e aí, sim, usem as novas tecnologias para busca de soluções.

Para complicar ainda mais a relação homem florestal com a floresta, vem o politicamente correto, as certificações, as regras impostas por burocratas legisladores sem qualquer conhecimento da realidade de campo e que nós profissionais temos medo de questionar, simplesmente aceitamos passivamente.

Todo esse emaranhado de regras, normas, etc. não nos permite mais nem “mijar” na floresta, tem que ser no banheiro químico. Meu Deus, aonde vamos parar (desculpe o palavreado chulo, mas até na reunião presidencial dos ministros foram proferidos mais de 40 palavrões)?! Os esforços de grande parte dos profissionais estão voltados ao politicamente correto, as florestas são simples detalhe.
 
Será que o legislador dessas NRs já teve o prazer de sentar embaixo de uma árvore e comer sua marmita? Tenho certeza de que não, senão não obrigaria o trabalhador do campo almoçar em uma barraca ou em um container, muitas vezes sob forte calor, totalmente fora da realidade florestal.

As certificações se tornaram um mercado, isso mesmo, mercado, pois, muitas delas, apesar da sua importância, se transformaram em um negócio que envolve milhões de reais, para que a empresa, de um jeito ou de outro, consiga seu certificado e seja internacionalmente considerada ambiental, social e economicamente correta e viável. 
 
Tudo isso é maravilhoso, só que impõe ao mercado preços diferenciados para a madeira certificada, que só as empresas e grandes empresários conseguem obter. Com isso, o pequeno produtor recebe menos pela mesma madeira. Isso seria socialmente justo? Penso que não, pois o pequeno não tem equipe e nem recursos para conseguir esses selos.

Portanto o sistema deveria buscar alternativas que atendessem aos produtores menores, para não ser injusto e quebrar um dos pilares que a própria certificação impõe. Pois é, o “avanço da tecnologia no novo cenário de trabalho” tem o foco no ensino superior, enquanto as necessidades operacionais que o ensino médio daria ficam num segundo plano.

Explico melhor: quem cuida da manutenção das máquinas florestais e agrícolas, que, cada vez mais, aumentam a eletrônica embarcada? A eficiência dessas máquinas depende de operadores, técnicos, mecânicos e eletromecânicos que o mercado não possui em número e qualidade suficientes. Portanto fica claro que o avanço da tecnologia no atual cenário de trabalho terá enormes dificuldades para atingir os resultados que os vendedores dessa tecnologia apregoam, pois vai faltar o meio de campo. Em resumo: falta gente preparada para fazer as coisas acontecerem de maneira plena.