O Brasil atingiu em 2023 a marca de aproximadamente 10,2 milhões de hectares plantados com povoamentos florestais, dos quais 7,8 milhões de hectares com eucalipto e 1,9 milhões com pinus, além de 0,5 milhão com outras espécies.
Esta é uma marca importante para o setor florestal brasileiro que vem aumentando a área plantada anualmente para fornecer matéria-prima, em bases sustentáveis, para os mais diversos usos e suportando uma indústria que cresce continuamente, sobretudo no setor de papel e celulose, tendo grande relevância na balança comercial brasileira, bem como na geração de renda e empregos.
O setor de árvores plantadas é um case de sucesso mundial construído em bases sólidas com muito investimento em pesquisa e formação de profissionais qualificados ao longo dos anos. É notável o que o setor avançou desde a década de 60 no conhecimento silvicultural em matérias como melhoramento genético, clonagem e técnicas de manejo (preparo de solo, adubação, capinas, entre outras), saindo de produtividades da ordem de 15m³/ha/ano para quase 40 m³/ha/ano quando falamos de média nacional para povoamentos de eucalipto.
Nosso potencial produtivo, alinhando conhecimento técnico e condições edafoclimáticas favoráveis, sempre foi um grande diferencial e desejado por nossos concorrentes em escala global, sendo a principal alavanca da competitividade do setor de base florestal. Outra alavanca importante que nos permitiu atingir níveis elevados de competitividade foi a gestão dos custos de formação florestal, sobretudo pela disponibilidade de mão de obra para execução das atividades silviculturais e também pelo custo da terra.
Até aproximadamente 2010, ainda era possível encontrar preços atrativos em algumas regiões do Brasil, o que levou as empresas a expandirem suas operações para novas fronteiras, mesmo assumindo riscos em termos de produtividade florestal. Contudo, estes dois fatores que transformaram o setor em referência mundial têm experimentado mudanças significativas ao longo dos últimos anos reduzindo, a meu ver, a diferença que tínhamos quando comparamos com outros países.
No que se refere à produtividade do eucalipto (considerado aqui por sua relevância para o setor), a média nacional vem reduzindo ao longo dos últimos anos, saindo de 39m³/ha/ano para 33,7 m³/ha/ano (IBÁ 2024), correspondendo a uma queda da ordem de 13,5%. A redução na produtividade média pode ser explicada por dois fatores principais: expansão das bases florestais para regiões menos produtivas devido à expansão do setor e, principalmente, por ciclos consecutivos de escassez hídrica que temos vivenciado em algumas das principais regiões produtoras nos últimos anos, ocasionando redução no ritmo de crescimento das árvores.
A questão da expansão da base florestal trata-se de uma decisão estratégica de cada empresa e que tem relação direta com a disponibilidade de terras, mas pode ser manejada a médio e longo prazos com investimentos em pesquisa e desenvolvimento de materiais genéticos mais adaptados às condições ambientais, buscando maximizar a produtividade florestal em cada site.
Na questão climática, não há solução para a escassez hídrica, mas há ações relacionadas à silvicultura que podem minimizar os impactos na produtividade. Neste contexto, além da seleção e alocação de materiais genéticos mais adaptados às situações de estresse hídrico, é imperativo garantir que a qualidade silvicultural seja elevada, respeitando-se as recomendações técnicas e executando-as no tempo correto para garantir que os novos plantios tenham as condições ótimas para se estabelecerem em campo.
Para citar o caso da Bracell, temos um sistema de monitoramento robusto, baseado em levantamentos de campo e com o uso de técnicas de sensoriamento remoto, onde acompanhamos a realização de todas operações e o desenvolvimento dos plantios frequentemente até 12 meses de idade, para garantir que toda a tecnologia desenvolvida foi aplicada corretamente para a formação daquele plantio, numa fase onde a intervenção humana tem alto impacto na qualidade dos plantios jovens e onde ainda é possível corrigir algumas rotas para assegurar a produtividade futura.
Desta forma, temos percebido que ano após ano, mesmo sujeitos ao estresse hídrico, nossos plantios vêm aumentando a produtividade e reduzindo as perdas provenientes das variáveis ambientais. Quanto aos custos de formação florestal, é preocupante a escalada inflacionária que se tem observado desde 2019, principalmente após a pandemia, com aumentos da ordem de 80% nos custos.
Neste aspecto, além dos preços de insumos terem aumentado substancialmente impactados por fatores como câmbio elevado e, em alguns casos, por guerras, o preço dos serviços também dispararam, principalmente em função do maior custo com mão de obra e pela escassez desta. Neste caso, o setor precisa achar soluções que tragam os custos para patamares mais apropriados, evidentemente que não retornaremos aos patamares de 2019, mas também não podemos nos conformar com os níveis atuais que drenam a competitividade do setor como um todo.
A questão da mecanização da silvicultura, sobretudo em atividades ainda essencialmente manuais, bem como o aumento da produtividade das operações é fator chave para a reversão deste cenário. Este é um desafio a ser enfrentado pelas empresas e pelos prestadores de serviços, conjuntamente, buscando manter a vantagem competitiva do setor.
Citando novamente um exemplo da Bracell, temos investido no desenvolvimento das operações de silvicultura para ampliar a mecanização e aumentar a eficiência operacional. Além disso, temos ampliado a atuação da nossa central de controle operacional para que ela seja de fato uma alavanca de valor na nossa operação, tratando todos os dados que coletamos em campo oriundos das máquinas e dos monitoramentos e através de técnicas de análises de dados, machine learning e inteligência artificial.
Por exemplo, temos melhorado e agilizado nossa tomada de decisão visando atingir a máxima excelência operacional refletida em melhor qualidade, maior produtividade e menor custo. Finalmente, entendo que o Brasil continua sendo a referência mundial no setor de árvores plantadas, ainda que nossa distância em relação aos nossos competidores tenha sido reduzida em função da combinação tóxica de queda da produtividade e escalada nos custos de formação florestal.
Hoje, na minha opinião, reverter a tendência de queda da produtividade florestal observada nos últimos anos e retomar a competitividade dos custos florestais são os maiores desafios que o setor precisa transpor para se manter como o benchmarking mundial. E, em que pese as questões ambientais não poderem ser manejadas, precisamos atuar de forma a minimizar seus impactos, como comentado neste artigo, bem como enfrentar a questão dos custos com a criatividade e competência que são marcas deste setor, mantendo e ampliando nossa vantagem competitiva.