Os desafios de oferta e qualificação de mão de obra, hoje, estão muito mais presentes nas realidades de todos do que pensamos. Sem dúvida, realizar conexões estratégicas e promover uma convergência no setor florestal é fundamental para superá-los. Talvez esta tenha sido a reflexão chave do painel “Rumos da Mecanização e a escassez da mão de obra”, e, inclusive, dos diversos desafios debatidos no evento.
Quando iniciamos a discussão em nosso painel, logo tivemos o primeiro contato com o termo "apagão de mão de obra", fazendo referência ao apagão florestal, mas que, na verdade, possui o mesmo viés de escassez, porém relacionado à disponibilidade e qualidade da mão de obra. Ambos nos desafiam, cada vez mais, e, em relação à mão de obra, a percepção é que sempre há algo que não preenche as lacunas. Assim, as empresas são desafiadas a se reinventarem, buscarem novos limites de exigências e ofertas para ora suprir cargos operacionais, ora cargos especializados.
Quando começamos a buscar uma sinergia nos temas mão de obra versus mecanização, automação, IA e outros, o desafio leva a uma complexidade ainda maior, pois, ao mesmo tempo em que investimos alto em determinado negócio inovador, encontramos um cenário de desequilíbrio entre oferta de mão de obra e utilização de tecnologia na maioria das vezes.
Em algum momento, temos carência de mão de obra especializada para utilizarmos tecnologia avançada, e, ao mesmo tempo, se não conseguirmos acelerar a utilização da tecnologia disruptiva, faltará mão de obra para executar o processo de forma manual e/ou semimanual. Esse desequilíbrio afeta negativamente a excelência operacional e a eficiência dos processos, o que ocasiona aumento dos custos, redução na qualidade dos produtos e consequentemente queda da satisfação dos clientes.
Pensar e utilizar os recursos da melhor forma, aqui estamos falando de mão de obra e tecnologia, passam por um planejamento estratégico vivo, que precisa ser retroalimentado periodicamente no plano de negócios. A falta de visão sistêmica neste assunto nos traz desafios cada vez maiores, pois nos obriga a trabalhar de uma forma reacionária, desorganizada e ineficiente, pois não conseguimos prever e executar com antecedência as tendências que já se transformaram em processos produtivos, serviços específicos e/ou novos produtos.
Investimentos em treinamento e desenvolvimento de pessoas são fundamentais para o sucesso da estratégia e precisam começar muito antes de eles serem colaboradores das nossas empresas. Em nossas discussões, a palavra "parceria" surgiu em muitos momentos e não tinha como ser diferente. Precisamos pensar que um operador de máquinas, um operador de forno ou de sistemas não estão prontos em um curto espaço de tempo. Parcerias entre empresas e o setor de aprendizagem e ensino, parcerias com instituições e universidades são fundamentais para o sucesso do negócio. Gostaria de compartilhar e resumir um case de sucesso da Aperam dentro da sua estratégia de primarização e de expansão do transporte de madeira.
Resumidamente, em um cenário de escassez de oferta de motoristas habilitados e qualificados, a Empresa estruturou e organizou parcerias com autoescolas da sua região de atuação, incentivando e suportando candidatos para conseguirem a habilitação na categoria E. Dessa forma, meses ou até anos mais tarde, os mesmos habilitados tiveram condições de serem contratados e treinados pela Aperam para atuarem como motoristas profissionais nos processos produtivos da empresa. O diagnóstico e a necessidade foram levantados anos antes do início do projeto de primarização, demonstrando a importância do planejamento e da eficiência na execução.
Se os desafios em balancear mão de obra e tecnologia são enormes, os desafios estruturais de diversidade e inclusão nas empresas também são desafiadores. É um tema novo que muitas empresas já têm buscado evoluir e aprender para que possam, ao menos, proporcionar ambientes mais equilibrados.
Penso que é preciso abandonar o conceito de projeto e ir além ao encararmos estes desafios que estão em nossas mesas como um propósito humanitário, uma vez que o propósito das políticas de integração é dar condições iguais para todas as pessoas, independentemente de sua raça, cor, sexo, religião, fortalecendo e gerando respeito mútuo a todos. É sabido que a diversidade impulsiona a inovação; o que parece um desafio pode se transformar em uma grande oportunidade, é preciso mudar o alcance da visão. Recentemente, na Aperam evoluímos bastante neste tema. Já é nítido e mensurado o quanto os projetos estão sendo impulsionados por este time que se torna cada vez mais diversificado e inclusivo.
Penso que estamos no caminho certo. É gratificante ir ao campo e ver, por exemplo, cada vez mais mulheres, até então distantes da rotina das empresas, hoje atuando como motoristas, operadoras de máquinas, pedreiras, supervisoras, gestoras, cada vez mais representadas e respeitadas como pessoas.
Isso é um motivo de orgulho e, ao mesmo tempo, um desafio para ter continuidade. Já sinto uma felicidade enorme em participar ativamente deste momento, contribuindo para melhores cenários para as futuras gerações.
Em uma etapa final da nossa discussão, veio à tona a representatividade dos pequenos e médios produtores em nossa cadeia florestal, os quais são fundamentais, e a importância e relevância deles como protagonistas das transformações da nossa cadeia produtiva. Há um consenso de que precisamos, juntamente com eles, influenciar o desenvolvimento de políticas específicas, aliado a produtos/meios que viabilizem investimentos, tecnologias, acesso a informações, inovações e pesquisas direcionados para eles. Existe aqui também um grande desafio de integração e diversidade, sendo preciso, cada vez mais, trabalhar essa inclusão de forma justa.
Como dever de casa, empresas, instituições de representação, como IBA, AMIF, associações de classe, iniciativa pública e governo, juntos, devem buscar convergência para planos eficientes que os contemplem de forma eficiente e permitam que eles sejam cada vez mais sustentáveis e promissores nos seus respectivos processos. Desta forma, a agroindústria florestal se torna mais forte, abrangente e geradora de valor para a sociedade em plena transformação.
Enfim, a convergência do setor da agroindústria florestal brasileira é fundamental para gerirmos os objetivos e desafios comuns, somar esforços e fortalecer conexões e parcerias com os diversos atores. É imprescindível integrar e considerar como elos fortes setoriais os pequenos e médios negócios que, apesar de muitas adversidades, ainda acreditam na perenidade e relevância das florestas plantadas. De forma integrada e organizada, cabe aos maiores negócios estimular a constante evolução da agenda sustentável do setor, de forma que suas melhores práticas sejam aplicáveis em sua devida escala aos demais.
Por último, e não menos importante, devemos reconhecer e fortalecer cada vez mais o pioneirismo e a capacidade de transformação do nosso setor. Hoje, sem dúvida, somos referências em práticas sustentáveis para a grande parte do agro brasileiro.
Temos que nos orgulhar muito do que temos feito até aqui e seguirmos firmes no propósito de melhoria e evolução, somos fortes contribuintes para a nova economia global baseada em ativos verdes.