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José Roberto Scolforo

Professor do Departamento de Ciências Florestais da UFLA

OpCP64

Atuações, contribuições e fatores da carreira
A crescente demanda por produtos florestais, a busca cada vez mais intensa da sociedade moderna por produtos certificados, a maior conscientização das pessoas pela necessidade do uso sustentável do ambiente, além do maior conhecimento dos impactos das atividades produtivas neste, tem propiciado, atualmente, uma ampliação natural de áreas de atuação dos Engenheiros Florestais. No Brasil, atualmente, existem aproximadamente 70 cursos, conforme localização na imagem em destaque. 
 
Apesar da juventude da engenharia florestal no Brasil, já fazemos a melhor e mais avançada silvicultura tropical de espécies de fibra curta do planeta. Também não há dúvida sobre os avanços extraordinários na área de colheita e transporte florestal. Há estudos avançados sobre produtos não madeireiros, como a lignina para produção de painéis para veículos automotores e outros acessórios, o alfabizabolol da candeia – Eremanthus erythropappus, o óleo da Copaifera langsdorffii, além de outros subprodutos das árvores nativas na geração de cosméticos, fármacos, frutos e produtos adicionais.

Na área ambiental, também atingimos um padrão de qualidade elevado nos processos de recuperação de áreas degradadas, mineradas e outras, na quantificação de estoque e captura de carbono, além de atingirmos o mesmo padrão na elaboração e desenvolvimento de projetos de manejo ambiental para preservação e conservação.
 
Um fato que nos orgulha são os grandes e espetaculares empreendimentos de celulose, energia e processamento de madeira, que demandam altíssimos investimentos e geram muitos empregos e renda. Porém há questões que ainda necessitam de maior análise crítica. 

Ainda não obtivemos o devido êxito em popularizar a silvicultura e o manejo florestal de várias espécies arbóreas nativas de alto valor comercial, e nem mesmo as exóticas já com tecnologia amplamente dominada no País, junto aos pequenos e médios produtores. Esse insucesso é decorrência da falta de uma política florestal que forme polos de produção e industrialização de madeira para usos mais nobres, como movelaria, painéis e mesmo para construção civil na apropriação de portas, janelas, engradamentos e outros. Se não há ecossistemas consolidados, por sua vez, não tem como comercializar com valores rentáveis esses produtos.

Quando observamos o leque de áreas de atuação tão amplas na engenharia florestal, ou visualizamos o sucesso e a pujança especialmente do setor de celulose, torna-se incompreensível como o País não se preocupa com a estruturação de uma Política Florestal, que aumentará ainda mais a participação de produtos florestais no PIB brasileiro sem competir com áreas para produção de alimentos ou áreas com vegetação nativa. Há pontos que devem ser mais bem avaliados, como a falta de programas para popularizar a atividade florestal e o excesso de burocracia para atender às demandas ambientais, tão necessárias, que nos leva a fazer uma série de questionamentos de como a academia pode influenciar o maior incremento da atividade no País, de forma a gerar ainda mais renda e emprego. 
 
Especificamente quando avaliados os conteúdos ofertados aos estudantes de engenharia florestal, há pontos a serem avaliados. A academia está treinando nossos discentes a absorverem os pontos mais relevantes, para que eles contribuam efetivamente para o desenvolvimento da atividade florestal no Brasil? Estamos estimulando-lhes a capacidade de análise crítica, tão essencial para responder aos porquês das questões técnico-científicas a serem respondidas e propor soluções embasadas na ciência? Estamos estimulando-os a solucionar problemas, ou mesmo manejar as populações, sejam plantações ou nativas, para delas se extrair o ótimo em consonância com a conservação do ambiente? Estamos estimulando a formação do estudante empreendedor? Estamos propiciando que eles tenham conceitos claros de produção com preceitos de sustentabilidade que devem ser atendidos? Estamos tornando mais objetivos o conhecimento sobre a vegetação nativa e como manejá-la para preservá-la ou conservá-la?
 
Estamos aplicando conhecimentos de engenharia para a transformação dos produtos e subprodutos florestais em produtos de maior valor agregado, que gerem mais renda e empregos? Estamos mostrando que a atividade florestal produz resultados no médio e longo prazo e, para que ela seja competitiva, tornam-se necessárias muito mais estratégias de conscientização da sociedade e políticas de desenvolvimento? 

E o pagamento por serviços ambientais ou o estoque de carbono capturado pelas árvores, por que ainda são tão tímidos? Essas são algumas das questões que necessitam de maiores discussões dentre os engenheiros florestais. É preciso que a academia interaja com os seus egressos, para buscar sempre formas de melhor estruturar os currículos dos cursos de engenharia florestal.  

Não temos dúvida de que a academia contribui muito para o desenvolvimento do País. Basta observar quantos profissionais oriundos dos cursos de engenharia florestal ocupam altos cargos em empresas e na administração pública, ou ainda se tornaram grandes empreendedores. Quantos conhecimentos e resultados pragmáticos não saíram da parceria Universidade–Empresa?

Porém não temos dúvida de que, em gerações cada vez mais digitais, é crucial buscar métodos que estimulem os discentes a buscarem conhecimentos complementares, ao invés de tentar ensinar-lhes tudo. Não temos dúvida de que o fortalecimento no conhecimento em cálculo, química, física, solos e fisiologia é crucial para que, nas disciplinas aplicadas, haja maior aproveitamento por parte dos discentes, assim como não temos dúvidas de que a forma tradicional de ensinar as disciplinas duras e aplicadas deve mudar radicalmente, partindo de uma maior integração entre elas. Há um vício de origem no Brasil em que, para cada problema que surge, deseja-se criar uma nova disciplina para formar melhor o estudante naquele tema. Certamente, essa é uma forma inadequada de compor uma matriz curricular. 

E o que o País pode fazer para que haja a modernização das estruturas curriculares? Não temos dúvida de que a estruturação de política florestal, com ações de curto, médio e longo prazo, com pressupostos e metas claras, mudará, de forma muito positiva, a atuação do engenheiro florestal e sua contribuição para o desenvolvimento do País.

A falta dessa política reduz a atratividade da atividade florestal, não só como atividade de produção, mas também como atividade que possibilite conjugar renda com conservação. A representatividade da área florestal na federação e nos estados é difusa. Por outro lado, será que um programa arrojado de mudanças curriculares também não pode estimular a estruturação de uma política florestal que atenda às demandas da sociedade? Acreditamos que as duas, ocorrendo concomitantemente, gerem um grande boom na atividade florestal de nosso País, que está entre aqueles que têm as melhores condições do mundo para ser uma potência florestal.