Enfrentar os desafios relacionados à decisão de qual clone plantar em cada talhão, preparar o viveiro para atender às demandas futuras e se adaptar às mudanças inerentes ao processo florestal é uma tarefa complexa. É necessário levar em consideração variáveis climáticas, interação entre clone-sítio, suscetibilidade a doenças, além de buscar uma alocação clonal que procure pelo ótimo global e não local.
Para alcançar esse objetivo, é essencial utilizar ferramentas de análise preditiva, implementar processos bem estruturados e contar com uma equipe engajada e comprometida com os resultados e a sustentabilidade do negócio. Este artigo apresenta como a Veracel Celulose desenvolveu com sucesso uma ferramenta e um processo integrados de alocação clonal e planejamento de viveiro para lidar com esses desafios.
Nos últimos anos, a Veracel tem se dedicado a abordar os desafios de recomendação clonal, planejamento de viveiro e interação clone-sítio de forma paralela e individual. A recomendação de clones era feita com base em uma sequência específica de plantio, com o resultado sendo apresentado na forma de porcentagem de cada clone por região administrativa. Havia dificuldades ao lidar com o dimensionamento do risco e responder à pergunta: "Qual é o impacto, em termos de risco, ao aumentar o plantio de um clone em detrimento de outro?"
Isso era mais um exercício qualitativo, baseado em argumentos do que uma análise quantitativa. Para solucionar esses problemas, foi desenvolvido um otimizador de recomendação clonal, cujo objetivo era maximizar a produtividade florestal. Com ele, critérios de medição de risco foram estabelecidos tanto para a interação entre clone e macrorregião quanto para o risco global envolvido na recomendação de concentração do plantio em determinados clones. Dessa forma, grande parte da subjetividade associada ao processo foi eliminada.
Outro desafio que a empresa enfrentava era o planejamento do viveiro florestal, que precisava se adaptar rapidamente às variações de demanda, clima e performance de clones. Foi então realizado um mapeamento de todo o processo do viveiro – desde a formação do jardim clonal até a expedição de mudas – e elaborado um otimizador de planejamento do viveiro.
Esse trazia como resultado recomendações sobre quais ações deveriam ser tomadas, incluindo quais clones implantar ou remover, quais mudas expedir para quais projetos, quais mudas comprar no mercado ou até mesmo descartar mudas de um determinado material genético.
Com isso, o viveiro ganhou celeridade, tornando-se capaz de se adaptar de forma mais rápida a mudanças como ajustes na sequência de plantio, no ritmo de desenvolvimento das mudas de diferentes materiais genéticos e na disponibilidade de mudas nos viveiros de terceiros. Também, foi possível antecipar-se a prováveis dificuldades no cumprimento da recomendação clonal anual e envolver as pessoas necessárias para tomadas de decisão e ação.
Outro aspecto fundamental para uma alocação clonal otimizada é compreender como cada clone se comporta em diferentes ambientes (sítios). No entanto, antes de explorar a interação entre clone e sítio, foi necessário estabelecer uma definição de "sítio" para a empresa. Um ponto que foi muito discutido neste processo é que quanto mais específico for o sítio, maior o número de sítios, mais fragmentada fica a base florestal e menor a quantidade de dados disponíveis sobre o comportamento de cada clone em cada um dos ambientes. Assim, foram definidas as variáveis de clima e solo que no histórico da empresa mais impactavam o crescimento florestal e com isso definidos 8 sítios.
O próximo passo foi fornecer o potencial produtivo para cada interação clone e sítio da empresa. Para isso, foi utilizada uma base de dados que incluiu informações históricas de inventário florestal, qualidade da madeira e resultados de experimentos. Foram aplicadas ferramentas de modelagem estatística e inteligência artificial, a fim de obter uma estimativa da produtividade esperada em termos de IMACel (toneladas de celulose por hectare por ano) para cada interação.
Uma vez que a empresa tinha um processo otimizado de recomendação clonal anual, um processo otimizado de planejamento do viveiro florestal e um conhecimento das interações entre clones e sítios, o próximo passo foi unir todos esses elementos em um processo integrado. Foi desenvolvido então o Verótima, uma ferramenta de análise prescritiva que, a cada mês, determina o clone mais adequado a ser enviado para cada talhão e indica os ajustes necessários a serem feitos no viveiro para se adaptar ao novo cenário.
Ao estabelecer um processo integrado, várias vantagens foram alcançadas, como a maior interação entre as partes envolvidas, considerando diferentes perspectivas na tomada de decisão. Além disso, incluíram-se informações de sanidade, histórico de doenças e susceptibilidade de cada clone. Definiram-se indicadores-chave, simplificando o processo decisório.
Também foi possível gerar rapidamente cenários comparáveis, fornecendo uma visão das expectativas de produção florestal e riscos associados a cada alocação proposta. Para absorver um pouco da dinâmica do viveiro, além do clone recomendado para cada talhão, a ferramenta traz um Ranking, para que, caso não seja possível por algum motivo expedir o melhor clone, o responsável possa decidir de forma rápida qual seria a segunda ou terceira melhor opção; isso traz alguma flexibilidade ao processo, sem pôr em risco a produtividade florestal como um todo.
Com a nova ferramenta, deixou-se de focar tanto o acompanhamento do percentual de cada clone por região administrativa, para olhar com maior cuidado os indicadores-chave da recomendação clonal: a produtividade (IMACel) e duas medidas de risco: Confiança e INGAVA. A Confiança indica quão conhecida é a combinação de clone e sítio. O INGAVA (Índice Garcia de Variabilidade – homenagem a Carla Garcia, coordenadora de melhoramento genético da Veracel) avalia a diversidade genética global da recomendação clonal, levando em consideração a área plantada por clone e a distância genética entre eles.
O processo de alocação clonal com o Verótima está operacional desde agosto de 2021, com rodadas mensais da ferramenta. É durante essas rodadas que novos aprendizados e oportunidades surgem, permitindo aprimorar ainda mais a alocação clonal e o planejamento do viveiro. É notável ver que a Veracel alcançou uma aderência de 96% entre o realizado e o planejado pela ferramenta ao longo do ano de 2022. Isso demonstra o comprometimento de toda a equipe envolvida em tornar realidade as recomendações do algoritmo.
Em conclusão, a implementação bem-sucedida do Verótima destaca a importância de processos bem estabelecidos, do poder dos recursos tecnológicos e, acima de tudo, da participação ativa das equipes comprometidas e motivadas em se desafiar e fazer o melhor para gerar mudanças significativas. A combinação do conhecimento adquirido através do aprendizado constante e da abertura para discussões tem sido fundamental para sustentar os ganhos obtidos e manter a produtividade florestal da empresa. Ao aprimorar continuamente a gestão baseada em dados, priorizando a busca pela excelência e promovendo a colaboração entre todos os envolvidos, a Veracel está preparada para enfrentar desafios e garantir um futuro próspero e sustentável para o negócio.