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Jefferson Bueno Mendes

Diretor da BM2C – Business Management Consulting

OpCP76

Agrossilvicultura: uma opção realista para o setor florestal?
A resposta a esta pergunta seria a seguinte: sistemas agrossilviculturais devem necessariamente fazer parte das estratégias do setor florestal no que se refere ao suprimento de madeira. Como resultado de um trabalho intensivo da Embrapa, universidades e empresas, os sistemas agrossilviculturais (iLPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) deixaram de ser teóricos acadêmicos e se tornaram alternativas efetivas para criarmos cadeias de valor sustentáveis (madeira-alimento-carbono-biodiversidade-renda).

E qual seria a relação sinergética entre o setor florestal e os sistemas agrossilviculturais? A priori, seria a capacidade dos sistemas agrossilviculturais em recuperar/viabilizar os mercados spots de madeira. E por que isso é importante para o setor? Os próximos parágrafos respondem a esta pergunta.

O principal desafio, de curto e médio prazos, das indústrias de base florestal não está a jusante (mercados-alvo), mas sim a montante (suprimento de madeira). Há mais de uma década, a produção de madeira não tem acompanhado o crescimento da demanda industrial, criando um contexto de déficit estrutural ou de superávit marginal nos principais clusters. Este contexto deve-se a dois fatores:
1) expansão industrial desprovida de base florestal; e
2) produtividade florestal real abaixo da projetada, resultante da expansão da silvicultura para o oeste, da silvicultura de custo mínimo e dos eventos climáticos adversos, que se intensificaram nos últimos dez anos. 
 
As indústrias de grande porte, principalmente as de celulose, vêm respondendo ao risco de desabastecimento priorizando a estratégia de autossuprimento via compra de ativos florestais, novos plantios e contratos de suprimento de longo prazo. 

No caso das indústrias de menor valor agregado, usualmente de pequeno ou médio portes, a estratégia continua a ser a de suprimento via mercado spot em função do limitado poder de fogo para viabilizar a estratégia de autossuprimento. O desafio referente ao suprimento via mercados spot é que estes vêm encolhendo a taxas exponenciais há muitos anos em todos os principais clusters industriais. 

Historicamente, este encolhimento resultou de modelos equivocados de negócio, valorização da terra/agricultura e falha na criação de uma mentalidade agrossilvicultural no meio rural. Mais recentemente, a contração destes mercados deve-se à estratégia de autossuprimento das empresas de grande porte, ou seja, à compra de ativos e aos contratos de suprimento de longo prazo.

A recuperação dos mercados spot seria de interesse de todos os segmentos industriais florestais e agrícolas devido à significativa contribuição econômica, social e ambiental que proporcionam. Se essa recuperação acontecer com a efetiva participação da agrossilvicultura, teríamos os seguintes benefícios adicionais:
• Expansão das cadeias produtivas, possibilitando a diversificação industrial, maior e melhor integração intersetorial e aumento da renda; 
• Redução dos riscos de conflitos sociais devido à concentração de terra e à monocultura florestal decorrente da concentração florestal em curso;
• Diversificação industrial nos clusters monopolizados pela celulose (manufaturas de produtos sólidos devolvem 40% da madeira em forma de cavaco);
• Aumento do estoque de carbono classificado como de qualidade, via produtos sólidos com longo-prazo de duração; 
• Redução do risco de impactos ambientais decorrentes de eventos climáticos adversos, cada vez mais frequentes, intensos e incertos. O desafio aqui é transmutar incerteza em risco para prevenir os impactos com eficácia;
• Incremento da biodiversidade, principalmente da fauna; 
• Uso da terra de acordo com o seu potencial de uso, promovendo a conservação dos solos. 

Esclarecidas as vantagens da agrossilvicultura, é importante destacarmos os desafios para inserir os plantios florestais no sistema agropecuário e torná-los parte efetiva dos mercados spot de madeira. Em síntese, os plantios associados à agropecuária irão se viabilizar se:
• Forem manejados com foco na produção anual contínua de multissortimentos de madeira; 
• Contarem com assistência técnica especializada e efetiva por parte dos serviços governamentais de extensão rural, o que exigirá significativos investimentos para capacitação e ajuste da cultura organizacional;
• Tiverem acesso a serviços de colheita e transporte adequados aos portes dos plantios e condições das estradas rurais;
• Contarem com mecanismos comerciais adequados como, por exemplo, contratos de suprimento, madeira precificada, linhas de financiamento de longo prazo com juros adequados à atividade;
• Estiverem inseridos em clusters industriais maduros e competitivos (multiclientes e multiprodutos). No caso de clusters oligopolizados, a recuperação do mercado spot e da agrossilvicultura deverá ser acompanhada pela diversificação industrial. 

Criar e implementar o modelo de negócio acima é uma tarefa complexa, de alto investimento e que vai demandar uma ou duas décadas para se viabilizar. Parece muito tempo, mas não é. A silvicultura é naturalmente intensiva em capital e tempo. Mas o momento de começar é agora, porque recuperar os mercados spot de madeira com foco na agrossilvicultura é prioridade para todos. 

Para finalizar, uma política florestal efetiva por parte do governo federal, clamada há mais de 30 anos, iria orientar e acelerar seguramente a silvicultura agroflorestal de mercado.