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Mário Eugênio Lobato Winter

Superintendente Geral da Vallourec & Mannesmann Tubes

Op-CP-23

Gestão de valores da madeira no carvoejamento

A madeira propriamente dita ocupou boa parte da matriz enérgica mundial até o início do século 20. Gradativamente, sua importância foi recuando à medida que os maciços nativos abundantes no mundo em desenvolvimento foram se exaurindo.  Nesse período, o carvão mineral passou a desempenhar um papel importante devido à sua grande oferta e proximidade dos centros consumidores.

O mundo vivia a era das máquinas a vapor, e o uso do carvão mineral foi abastecido por essa oferta. Nesse período, consolidou-se o uso do coque, oriundo do carvão mineral como termo redutor para o parque siderúrgico que se estabelecia nas diversas partes do mundo em desenvolvimento.

A nova era pós-carvão mineral a se estabelecer foi a do petróleo e,  mais recentemente, a do gás natural. Como características em comum, todos são finitos, de fonte fóssil e altamente poluentes. Dentro desse quadro, um país em especial se destaca, o Brasil, que, através de programas de pesquisa e desenvolvimento, alavancou um grande programa energético em diferentes frentes de atuação que o colocou em posição especial frente às necessidades futuras da humanidade de mudança no seu perfil energético.

O Brasil mantém hoje cerca de 46% de sua matriz energia com energia renovável, enquanto o mundo consome apenas 13% de fontes renováveis. A falta de programas de desenvolvimento nesse quadro global é preocupante, pois o crescimento mundial, notadamente oriundo da China, ocorre única e exclusivamente em bases energéticas não renováveis.

O processo de produção de produtos siderúrgicos utiliza-se de termo redutor fóssil, não renovável, o coque oriundo do carvão mineral largamente utilizado pela humanidade. Há, porém, uma exceção no setor, que é a siderurgia a carvão vegetal desenvolvida no Brasil no século XIX, mais especificamente na cidade de Caeté, estado de Minas Gerais, no ano de 1827.

Essa é a primeira notícia sobre o uso do termo redutor renovável no processo siderúrgico. Em 1888, é criada a primeira empresa de ferro a usar alto forno a carvão vegetal.  Já em 1925, surge a primeira usina integrada na América do Sul, a Companhia Belgo Mineira.

No ano de 1940, é implantado o primeiro programa de reflorestamento, tendo como base o eucalipto, visando ao suprimento de carvão vegetal para a indústria siderúrgica. Surge, assim, uma forte parceria entre os plantios renováveis e a indústria siderúrgica. O atual cenário mundial aponta para uma crescente demanda e consequente pressão nos preços internacionais das duas commodities básicas para o setor siderúrgico, o minério de ferro e o carvão mineral.

Nesse contexto, o Brasil passa a ser o único país capaz de manter sua competividade, pois detém as principais jazidas de ferro e pode, apesar da grande dependência atual do carvão mineral importado, procurar alternativas no setor florestal nacional, através do uso de injeção de finos nos altos fornos a coque ou mesmo de operar com cargas mistas de coque e carvão vegetal.

Essa possibilidade poderá representar uma grande alavancagem do setor produtor de carvão vegetal, que representa hoje apenas 30% da capacidade produtiva do parque siderúrgico nacional. Esses fatores deverão também influenciar as decisões de expansão do setor siderúrgico, visando atender ao crescimento da economia nacional dos próximos anos.

A expansão do setor siderúrgico a carvão vegetal, no caso do Brasil, representará uma alavancagem do setor florestal, o que demandará novas áreas para o reflorestamento e novos investimentos para concretizar os plantios necessários. O modelo de investimento florestal que está sendo espontaneamente implantado, a exemplo do que já ocorreu em outros países, deverá ter papel importante na concretização desse novo modelo de fornecimento da madeira necessária para o setor siderúrgico.

Lembramos que, assim como ocorreu em outros países no passado, a oferta de madeira direciona os investimentos nas empresas consumidoras, portanto se torna oportuno, neste momento, o incentivo ao plantio de novas florestas, visando dar sustentabilidade ao novo patamar de consumo.