Ao discutir tecnologias aplicadas ao setor florestal, um tema recorrente é a dificuldade da conectividade para o uso eficaz dessas soluções em campo. Existem fatores inerentes às regiões com florestas plantadas que ampliam essa complexidade. Em uma análise inicial, as extensas áreas com baixa densidade de máquinas, veículos e pessoas tornam qualquer investimento em uma estrutura de torres um desafio. Além disso, operações em áreas de declive enfrentam o relevo como um obstáculo à propagação de sinal, juntamente com as árvores, que atuam como barreira natural nessa transmissão.
Tendo em vista esses obstáculos, a implementação de soluções de conectividade de longo alcance, como LoRa, radio 900Mhz ou LTE, torna-se uma tarefa complexa. Tais métodos, que demandam torres de comunicação, enfrentam dificuldades devido ao alto investimento inicial para áreas com baixa densidade de sistemas a serem conectados por cada torre, especialmente considerando o longo ciclo de colheita de espécies como eucalipto e pinus no Brasil.
Ao longo dos anos, a tecnologia evoluiu, introduzindo soluções como a melhoria das redes de dados móveis em algumas regiões florestais do Sudeste, a coleta de dados M2M (machine to machine) para realizar envio e recebimento de dados em áreas remotas, várias vezes ao dia, e ainda soluções como o WiFi Mesh que amplia o alcance do sinal WiFi, utilizando redes de satélite em baixa órbita (LEO), como por exemplo, Starlink, e em breve com concorrentes como Kuiper (Amazon), OneWeb e AST (Google, AT&T).
Além disso, soluções de conectividade satelital convencionais de baixa ou alta órbita, têm sido consideradas como alternativas devido à sua cobertura nacional estabelecida, embora apresentem desvantagens, como a baixa largura de banda para transmissão de dados.
A escolha da arquitetura de conectividade ideal pode variar conforme os objetivos estabelecidos para a implementação de uma nova tecnologia. Isso porque o investimento necessário para obter informações em tempo real dos sistemas implantados em campo inclui não apenas a infraestrutura tecnológica, mas também a contratação de analistas especializados para a gestão e monitoramento desses sistemas. Esse aspecto se torna ainda mais relevante, especialmente quando uma das metas é a capacidade de lidar em tempo real com qualquer incidente que ocorra.
Antes mesmo do monitoramento em tempo real das informações de campo, é necessário um passo inicial que consiste na criação das bases para o funcionamento das soluções que gerenciam essas informações. Em primeiro lugar, a implantação de um novo sistema geralmente envolve uma mudança na cultura organizacional, exigindo o envolvimento de toda a equipe operacional para garantir a efetiva utilização da ferramenta, incluindo a aplicação contínua de treinamentos e a manutenção de canais abertos para esclarecimento de dúvidas. É fundamental comunicar de forma clara os objetivos esperados e a importância dessa mudança para todos os envolvidos.
Em seguida, é importante avaliar a estrutura de sistemas existentes, garantindo que a informação flua de maneira ordenada entre sistemas integrados, para evitar rotinas que envolvam a digitação manual de informações entre eles e assegurar maior confiabilidade dos dados. Por último, é essencial definir os objetivos e capacitar uma equipe de analistas para avaliar as informações e propor mudanças de acordo com o padrão de dados obtidos em campo, garantindo mudanças operacionais que levem à redução de custos e maior eficiência na gestão da operação.
No entanto, com tantas opções de conectividade, muitas das quais permitem a coleta em tempo real de dados, o monitoramento ativo é crucial para maximizar os benefícios da implantação de novas tecnologias em campo.
Nesse contexto, as empresas podem buscar implementar uma Torre de Controle Florestal (TCF), unificando todas as tecnologias de monitoramento e gestão implantadas nas diversas operações florestais, incluindo silvicultura, estradas, colheita, transporte e pátios. Ao implementar uma TCF, é essencial que o fluxo de tratamento das informações seja planejado com foco na mitigação de desvios, na identificação de oportunidades de aumento de produtividade e redução de custos em tempo real.
Essa torre é composta por analistas de monitoramento que trabalham em conjunto com o turno da operação, monitorando de forma ativa todos os sistemas em campo e atuando em tempo real para garantir que os objetivos sejam cumpridos, como por exemplo, entrando em contato com a operação em campo para garantir que um desvio operacional seja corrigido em tempo hábil.
Uma vez implementada, a TCF deve se destacar pela inteligência embarcada em suas operações, diferenciando-se de outras centrais de controle operacionais. Isso porque, dadas as características florestais, é crucial que regras de automação e inteligência permitam que máquinas ou operadores corrijam seus comportamentos sem intervenção direta de analistas, principalmente em áreas remotas, onde muitas vezes só é possível enviar mensagens de texto da torre.
Com esse conceito, pequenas situações operacionais podem ser tratadas em tempo real em campo, evitando alertas desnecessários para tratamento na Torre de Inteligência Florestal. Isso libera tempo para que os analistas proponham melhorias e consolidem dados para sistemas de gestão florestal ou ERPs, aproveitando ao máximo as tecnologias de conectividade e coleta de dados em campo, proporcionando uma gestão eficiente da informação para as empresas de base florestal.
Nos últimos anos, tem sido animador observar a evolução das tecnologias de conectividade e soluções destinadas a aumentar a produtividade do setor florestal. Acredito firmemente que nos próximos anos testemunharemos avanços ainda mais significativos, impulsionados pela evolução dos hardwares embarcados, pelo apoio da inteligência artificial na identificação de padrões para tomada de decisão e pela entrada de novos players no mercado de conectividade satelital como a Amazon. É importante ressaltar que, mesmo com a promissora evolução da rede 5G, essa ainda se mostra distante como uma solução viável para áreas florestais.