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Mauricio Bicalho de Melo

Presidente da ArcelorMittal BioFlorestas

As-CP-15

A energia da fibra
Até 2050, seremos nove bilhões de pessoas no mundo. Temos que encontrar uma forma racional e sustentável para usar os recursos hoje disponíveis para não esgotá-los. Percebo que, cada vez mais, vemos uma crescente onda de preocupação não só no campo ambiental e empresarial, mas também no social. Estamos caminhando para que o consumo sustentável de nossos recursos naturais seja uma preocupação de todos; somos seus guardiões temporários para as futuras gerações e, por isso, devemos agir em todas as esferas para pouparmos ao máximo, de forma a entregá-los para as próximas gerações.

A escassez de alguns recursos, como é o recente caso da água no Brasil, está servindo como alerta à sociedade. A possibilidade de completa falta d’água acirra a preocupação com o racionamento, que tem sido latente, e é isso que tem ajudado as pessoas a perceberem a importância de nos unirmos para fazermos uso consciente, reutilizando, usando com moderação e/ou outras formas de uso e até mesmo de substituição.  Ao falar de reutilização e reciclagem, é impossível não lembrar o quão importante é esse fator no cenário da produção de aço, um ótimo exemplo pois ele mesmo é 100% reciclável.

 
No processo de fabricação do gusa, temos, no Brasil, duas rotas convencionais como forma de insumo energético. Podemos usar o coque ou o carvão vegetal. O uso do carvão vegetal possibilita a retenção de carbono da atmosfera. Para cada tonelada de ferro gusa produzida, são fixados de 600 a 700 kg de carbono; além disso, incontáveis benefícios indiretos trazidos pelos cultivos florestais manejados que originam a madeira para a produção do carvão vegetal possibilitam uma harmonia entre o processo produtivo, o ambiente e as pessoas.
 
Usinas produtoras de aço, que usam forno elétrico e alto forno em sua produção, utilizam ainda 70% de sucata e 30% de carvão vegetal renovável para produzir o ferro gusa, insumo básico para a produção do aço, comprovando a sustentabilidade, inclusive financeira, visto que o aço produzido nessa rota tem seu custo, quase sempre, inferior, quando comparado ao produzido por carvão mineral. Durante o desenvolvimento das florestas, o carbono é reutilizado, e quase 10% dele é fixado no ferro, contribuindo para a redução do carbono livre na atmosfera. Já o carvão mineral, aproximadamente 550 kg de carbono, é lançado na atmosfera por tonelada de gusa. Dentro do processo de fabricação de carvão vegetal para a posterior produção do aço, vemos uma preocupação com sustentabilidade e otimização dos processos envolvidos.

Os fornos que fazem a pirólise da madeira para produzirem carvão vegetal liberam uma grande quantidade de gases, que, se aproveitados, são capazes de gerar energia térmica em larga escala. Essa energia térmica pode ser facilmente transformada em energia elétrica. Durante a carbonização, utilizando-se madeira com cerca de 30% de umidade, 33% da energia dessa madeira é perdida na fumaça, e apenas 67% são retidos no carvão vegetal, tendo uma disponibilidade energética de 4 MW de energia térmica por tonelada de carvão vegetal, que, hoje, pouco ou nada é aproveitado.

 
Empresas, universidades e diversos especialistas, atentos a essa “perda” de energia barata, têm desenvolvido, nos últimos anos, projetos para queimar esses gases de carbonização e utilização do calor por ele gerado, para produção de energia elétrica, o que resultará, assim, num importante ganho a longo prazo para o cenário ambiental. O Brasil está produzindo, em média, 9 milhões de toneladas de carvão vegetal anualmente. O que significa uma geração de gases de carbonização equivalente a 27 milhões de toneladas todos os anos.
 
Se fossemos utilizar o calor gerado por esses gases advindos da carbonização, poderíamos ter uma potência nominal equivalente a 18 milhões de MW de energia elétrica por ano. É desafiador conhecer esse potencial de energia ainda existente e por explorar. Se alinharmos bem os números, veremos que é possível produzir 1/3 da energia que nossas florestas hoje produzem, ou, vendo de outra forma, somente necessitaríamos dois terços da madeira/área plantada atualmente para a geração da mesma quantidade de energia equivalente.
 
Não ficando apenas no essencial da indústria florestal, somos também multiplicadores de boas práticas, seja diretamente no uso racional da terra, de técnicas de plantio ou conservação, seja em ações sociais que ajudam no desenvolvimento de comunidades. Temos vários exemplos, em diversas empresas florestais, de atividades sociais comunitárias que dão muito resultado e contribuem para deixar uma cultura local mais forte e pronta para o futuro daqueles que virão.

Fazer a sustentabilidade acontecer é dar importância ao aspecto global do negócio, tanto do lado técnico quanto do lado socioambiental. Seu conceito e respectivas práticas têm que estar ligados ao planejamento estratégico das empresas, ao seu DNA. As atividades, hoje em prática, têm que ter uma visão de longo prazo. 
Sabemos que temos ainda muito o que fazer. Não devemos perder tempo. Nossas inovações deverão, continuamente, criar produtos cada vez mais eficientes, eficazes e fáceis de serem reciclados, para que tenhamos um futuro desenvolvido e sustentável.