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Luiz Henrique da Silveira

Governador do Estado de Santa Catarina

Op-CP-02

Âncora verde

Aprendi com o escritor catarinense Paulo Ramos Derengoski, em seu relato sobre os mitos e lendas da China, que quem fez a Terra foi Pan-Ko. Para isso, trabalhou não seis dias, mas 18 mil anos, como se fora um escultor.  Quando morreu, sua carne transformou-se no solo, campos e montes. Seu sangue formou rios, lagos e mares. Do suor escorreu a chuva de verão.

Os cabelos cresceram e engrossaram, virando árvores, florestas. O olho esquerdo transformou-se no Sol e o direito virou a Lua. De sua respiração nasceram os ventos e as tempestades. Derengoski também me fez saber que, há 1.500 anos, grupos indígenas da tradição Taquara habitavam todo o alto vale do Rio Uruguai - atual Pelotas, nas divisas dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A região era coberta por milhões de exemplares da monumental Araucária angustifólia - o pinheiro brasileiro, árvore imponente e secular, única no mundo, que, no inverno, produz abundantemente o pinhão, semente altamente alimentícia para homens e animais. A região de Lages tem mais de 70 milhões de pés de pinus, o que faz dela a terceira maior área reflorestada do mundo, só perdendo para a Finlândia e a Suécia.

Ainda assim, as possibilidades de crescimento desse setor são enormes, haja vista a demanda por madeira certificada - ecologicamente correta, ser bem superior à oferta. Em 2000, a área plantada com pinus, no território nacional, ultrapassou 1,84 milhão de hectares. Deste total, mais de 318 mil estavam em Santa Catarina. Mas, o Brasil refloresta apenas 250 mil hectares e consome 350 mil hectares de pinus por ano, sem falar da imensa procura externa.

Isso indica uma excelente opção de Política Florestal. Nossa vantagem competitiva é que, aqui, um pinus cresce 10 a 20 vezes mais rápido que no Canadá. Dispersa suas sementes durante todo o ano, sendo que em abril chega a lançar até 3 milhões por hectare, com 90% de germinação. Não depende de animais para a polinização, tem baixa exigência nutricional e condições apropriadas para a regeneração natural.

Em termos energéticos, cada pinus equivale a um barril de petróleo. Um hectare de árvores adultas vale, em média, US$ 100 mil. Graças às mais modernas tecnologias, mudas geneticamente aperfeiçoadas, importadas da África do Sul, garantem qualidade e durabilidade equivalentes às das madeiras nobres. Como matéria-prima para o papel, o abate pode ser feito já a partir do sexto ano e, para móveis, a partir de 20 anos.

No último ano, o consumo de toras de Pinus alcançou, no Brasil, 42 milhões de m³, o que representou uma taxa média de crescimento da ordem de 7% ao ano, desde o início da última década. Só no ano passado, foram vendidos para o mercado externo 1,5 milhão de metros cúbicos. No primeiro trimestre deste ano, dos 300 mil metros cúbicos adquiridos pelos Estados Unidos, 180 mil foram enviados pelo Brasil.

Nos doze meses do ano passado, a negociação entre os dois países foi de 550 mil e o crescimento nas vendas, que seguia o ritmo de 10% ao ano, deve aumentar ainda mais. Com mais de 360 mil hectares de florestas plantadas, Santa Catarina tem, hoje, mais potencial do que a Suécia, no setor florestal. Detentores de pouco mais de 1% do território nacional, somos o 3º maior produtor de celulose e papel, o 1º produtor de celulose de fibra longa e o 2º maior produtor de derivados da madeira.

Não é possível desconhecer a importância de um setor que já representa 3,14% das exportações nacionais! Alguns ecologistas sugerem prudência com seu cultivo extensivo, preocupados com as conseqüências ecológicas. No entanto, está comprovado que, corretamente dimensionada e controlada, a floresta reflorestada não é, necessariamente, antiecológica.

Vencido o impacto ambiental inicial, os animais voltam a viver no local. Além disso, nada impede que, paralelamente, preservemos a Araucária ou incentivemos o reflorestamento de Araucária. Ao discursar no I Congresso Internacional do Pinus, recentemente realizado em Joinville, ponderei: “como pode alguém dizer que ninguém se alimenta de pinus e usar esse argumento como defesa para a invasão de terras? Como, se só a Klabin gera 14 mil empregos, entre diretos e indiretos?”

Indaguei, também: “Como pode alguém falar em agressão ao meio ambiente se é sabido que, enquanto as florestas nativas crescem de três a quatro metros cúbicos por ha/ano, nossas florestas de pinus crescem, em média, 30 metros cúbicos por ha/ano, ou seja, cada hectare de pinus protege seis hectares de mata nativa?”

Conclui dizendo que só os mais radicais defensores do atraso ainda insistem em desconhecer que o Pinus é uma espécie já completamente adaptada às condições brasileiras, com quase 2 milhões de hectares plantados no país e um enorme potencial para expansão. O STF deu, recentemente, uma grande lição aos xiitas e radicais de todos os matizes, reconhecendo que acima de discutíveis “direitos adquiridos” está o bem-estar do povo e a capacidade do Estado financiar políticas públicas que mitiguem as suas carências.

Da mesma forma, podemos dizer que discutíveis argumentos preservacionistas ou absurdos desvios ideológicos não podem paralisar um dos mais dinâmicos setores da nossa economia – o agronegócio, responsável pelo equilíbrio das contas nacionais e verdadeira âncora da economia brasileira. O Governo do Estado de Santa Catarina apóia e incentiva vigorosamente esse setor.