Me chame no WhatsApp Agora!

André Loubet Guimarães

Secretário Executivo do Instituto BioAtlântica

Op-CP-05

Florestas plantadas podem beneficiar a Mata Atlântica

A história da exploração de produtos florestais em larga escala no Brasil tem suas raízes plantadas na Mata Atlântica. A faixa contínua de floresta tropical e subtropical que, no século 16, cobria cerca de 130 milhões de hectares, entre Piauí e o Rio Grande do Sul, foi porta de entrada para nossa colonização. Espécies então abundantes, como o pau-brasil, eram exportadas e garantiram o necessário para o consumo interno por vários séculos.

Além de matéria-prima, o novo país precisava do espaço ocupado pelas florestas, para cultivar alimentos, implantar portos, estradas e cidades. Cinco séculos de acontecimentos históricos e distintos ciclos econômicos depois, a Mata Atlântica está reduzida a fragmentos que, juntos, correspondem a apenas 7% de sua cobertura florestal original.

Ainda assim, é considerada um dos 34 biomas, biologicamente mais ricos do planeta: são, por exemplo, 8.000 plantas de ocorrência exclusiva no bioma. Convivendo com esta riqueza ecológica, 70% da população humana do país, respondendo por 80% do PIB nacional, dependem do bioma para sua sobrevivência. Necessidades básicas para a vida como a água, os alimentos e o clima local, para ficar em alguns exemplos apenas, são fornecidos para a maioria dos brasileiros pela Mata Atlântica.

A coexistência entre a natureza preservada e geradora de serviços ambientais e a necessidade de desenvolvimento e crescimento é um dos maiores desafios atuais do Brasil. E, infelizmente, modelos de desenvolvimento, que preconizem a harmonia entre a natureza e as atividades humanas, ainda são raros. O setor florestal brasileiro, particularmente com as florestas plantadas, tem um excelente potencial de contribuição para a superação deste desafio.

As elevadas taxas de crescimento das espécies plantadas, condições de clima e solo favoráveis, tecnologia, boa oferta de mão-de-obra e incentivos governamentais, contribuíram para o crescimento e o sucesso do setor florestal, principalmente na Mata Atlântica. Mas, além de sua importância para o desenvolvimento do país, o setor de florestas plantadas soma ativos fundamentais para a conservação ambiental. É um claro exemplo de convívio saudável e sinérgico entre desenvolvimento e preservação ambiental.

Atualmente, o setor florestal possui cerca de 5,5 milhões de hectares de florestas plantadas na região da Mata Atlântica. Destes, cerca de 30% ou aproximadamente 1,6 milhão de hectares, são áreas destinadas à conservação ambiental – RLs e APPs. Somando-se tais números às metas do Programa Nacional de Florestas, a área plantada com florestas deve chegar a 11 milhões de hectares em 10 anos, ampliando para 3 milhões de hectares as áreas com potencial para conservação.

Ao longo de seus 500 anos de história, o Brasil conseguiu proteger, em Unidades de Conservação de uso restrito como parques, estações ecológicas e outras, cerca de 1,7% do domínio da Mata Atlântica, ou seja, pouco mais de 2 milhões de hectares. Com um bom planejamento para a conservação em propriedades de empresas florestais, a área protegida, ou a serviço da sustentabilidade ambiental, poderia ser ampliada substancialmente, através da incorporação das RLs e APPs dessas empresas a estratégias de conservação, como os Corredores Ecológicos.

A transformação das reservas legais e APPs das empresas florestais em ativos ambientais depende de integração com outros esforços em curso, nas mesmas regiões ocupadas por plantios florestais. As empresas têm como foco de seus negócios os plantios comerciais e o processamento da madeira. Já as entidades ambientalistas não governamentais e o meio acadêmico ambiental têm sua atuação voltada para a conservação de áreas naturais. Um potencial de complementaridade fabuloso, mas freqüentemente subaproveitado, por restrições de ambas as partes ao diálogo.

Diálogo hoje pactua o futuro: Num esforço de aproximação entre ONGs e empresas florestais, em outubro de 2005, teve início uma série de reuniões entre os dois setores, intituladas como Diálogo Florestal para a Mata Atlântica. Através do Diálogo, 11 empresas florestais, dentre aquelas de maior destaque no cenário nacional, e 16 ONGs, das mais atuantes para a conservação do bioma, buscam integrar esforços e potencializar os benefícios, tanto para a conservação, como para o ambiente dos negócios florestais.

Uma iniciativa louvável, porém ainda insuficiente para atacar de forma sistêmica o desafio de compatibilizar produção e conservação. Para atender ao potencial de crescimento do setor e compatibilizá-lo com a conservação ambiental, incentivos públicos são fundamentais. O desafio está em criar um sistema de incentivos e sinergias para que as florestas plantadas cresçam ao mesmo tempo em que florescem também áreas protegidas, com manejo adequado da paisagem e dos recursos naturais. Ganham, com isso, as empresas, com um melhor ambiente para os negócios e o apoio da sociedade.

Ganham as ONGs e o meio acadêmico, que terão mais recursos, apoio para projetos e resultados ampliados de conservação. E ganha a sociedade, com o meio ambiente preservado e qualidade de vida, para as gerações futuras. Outros setores produtivos, como o sucroalcooleiro, podem se beneficiar da experiência do setor florestal na integração com ambientalistas, para incrementar os resultados na conservação e melhoramento do ambiente para os negócios no campo.

A Mata Atlântica pede que a sociedade reflita sobre os erros do passado e construa, integrando esforços, modelos que promovam o desenvolvimento sustentável. Todos temos a ganhar e com o que contribuir para esta meta. E o setor de florestas plantadas é um dos que mais tem a oferecer e a se beneficiar neste processo. Mãos à obra.