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Luiz Carlos Estraviz Rodriguez

Professor de Economia e Planejamento Florestal da Esalq-USP

OpCP73

Evolução e tendências da digitalização
Tive a satisfação de moderar o painel Silvicultura Digital, no 5º Encontro Brasileiro de Silvicultura em Ribeirão Preto- SP, que reuniu executivos e gestores de grandes empreendimentos florestais. Em um debate de quase duas horas, discutimos a trajetória e o futuro da Silvicultura Digital no Brasil. Inicialmente, coube-me fazer uma rápida contextualização histórica. Na sequência, os colegas se alternaram em três rodadas de discussão, compartilhando primeiro as suas visões, em seguida as suas experiências e, por fim, os desafios que teremos que superar. Inspirado por esses testemunhos e pelo conhecimento compartilhado, farei aqui uma síntese dos temas tratados nesse painel.

As últimas cinco décadas de gestão florestal e de silvicultura no Brasil foram caracterizadas por um oceano de oportunidades para os gestores de plantios florestais. O denominador comum de todas essas oportunidades foi o processo de tomada de decisões sobre “como, onde, quando e quanto" plantar. Esse processo demanda grande volume de dados e, principalmente, um grande esforço de interpretação e síntese. Nos últimos 50 anos, tivemos literalmente que surfar grandes ondas de inovação que, agrupadas por década, podem ser apresentadas da seguinte forma:

1. O surgimento de computadores pessoais nos anos 1980 trouxe o poder da computação para as casas e locais de trabalho, permitindo que qualquer pessoa pudesse processar dados, criar documentos e executar programas de computador. Populariza-se assim a planilha eletrônica, os sistemas de informação geográfica (SIG) e a otimização matemática.

Essas ferramentas melhoraram o manejo e o planejamento florestal, a integração de dados espaciais com dados cadastrais e florestais. Os gerentes florestais puderam então analisar e visualizar melhor os dados, tomando decisões informadas sobre colheita, conservação e uso da terra.

2. A invenção da world wide web nos anos 1990 permitiu o fácil acesso à informação e à comunicação em escala global, revolucionando como os dados passaram a ser acessados, compartilhados e processados. A integração de computadores na internet facilitou o acesso a dados de sensoriamento remoto e a bases relacionais. Viu-se nessa década a aceleração da adoção das tecnologias de sensoriamento remoto com sensores passivos, como os multiespectrais, e com sensores ativos, como o LiDAR (Light Detection and Ranging). Essas tecnologias permitiram um monitoramento preciso e frequente das florestas em tempo real, fornecendo informações valiosas para práticas sustentáveis de manejo florestal e detecção precoce de possíveis ameaças.

3. A Internet de banda larga nos anos 2000 popularizou o acesso rápido e confiável à Internet. Permitiu transferência maciça de dados, facilitando a comunicação em tempo real, abrindo caminho para vários serviços de streaming e para aplicativos e soluções baseadas em nuvem. Os novos recursos potencializaram a coleta móvel de dados, o rastreamento da produção e a integração de sistemas florestais aos sistemas corporativos de gestão de dados. Smartphones e tablets tornaram-se coletores móveis de dados e imagens. Inspeções florestais e o monitoramento da conservação se tornaram mais eficientes, incluindo o automático registro de coordenadas espaciais.

4. A popularização de smartphones e outros dispositivos móveis nos anos 2010 passou a oferecer poder de computação e acesso à internet em movimento. Viabilizou-se também a Internet das Coisas (do inglês, Internet of Things, IoT) e o acesso e disseminação de drones. Sensores inteligentes e dispositivos IoT têm sido implantados para monitorar vários parâmetros, como umidade e temperatura do ar e do solo, crescimento das árvores e de cobertura foliar. Essas tecnologias ajudaram a cunhar o termo silvicultura de precisão, que visa otimizar o uso de recursos, à redução do desperdício e à existência de florestas mais sadias.

5. O acesso a modelos de inteligência artificial e a algoritmos de aprendizado de máquina nos anos 2020 permitem agora assimilar o imenso volume de dados gerados pelas demais tecnologias. Além da rápida análise de gigabytes de informação, reconhecem padrões e indicam a decisão que minimiza erros. Essas tecnologias são aproveitadas nos esforços de conservação florestal, pois detectam com maior precisão a extração ilegal de madeira, o desmatamento e as mudanças em padrões de biodiversidade.

Essas cinco ondas tornaram a Silvicultura mais digitalizada e, especificamente, revolucionaram:

1. A coleta e a análise de dados (a) com LiDAR e drones, anteriormente feito apenas por aeronaves tripuladas. Faz uso de plataformas ágeis, reduz o custo e permite o rápido e preciso mapeamento 3D das florestas, proporcionando insights incomparáveis sobre a topografia da floresta, a estrutura da vegetação e, até mesmo, a dendrometria; (b) com satélites e novas plataformas aéreas, como balões estacionários e asas autônomas propelidas por energia solar, tornando o monitoramento florestal em tempo real mais preciso; e (c) com business intelligence e IoT para integração de sensores e coletores de dados móveis visando à tomada de decisão autônoma, rápida, menos propensa a erros e segura.

2. A automação e as operações de campo (a) com preparação de solo e amostragem robótica integrada a sistemas de georreferenciamento RTK para garantir condições ideais de crescimento das árvores; e (b) com preciso controle de pragas e adubação feito por drones que aplicam agroquímicos e fertilizantes, minimizando impactos ambientais e desperdícios.

3. A conectividade e a comunicação (a) via comunicação remota por rádio ou satélite, cobrindo vastas extensões para garantir rápida resposta das centrais de operação; e (b) via painéis integrados de gerenciamento que, por telemetria e conectividade avançada, supervisionam e controlam em tempo real operações remotas simultaneamente.

4. O transporte e as operações conduzidas por (a) veículos autônomos, propelidos por eletricidade ou biocombustíveis, de baixo custo laboral e maior eficiência operacional; (b) por sensores de produção e colheita instalados em máquinas conectadas a centrais de operação para feedback preciso e em tempo real; e (c) com monitoramento em tempo real de rotas e frotas de transporte que otimizem tempo, custo e minimizem impactos ambientais.

5. A medição que agora (a) usa de sensores ópticos e de perfilhamento LiDAR para cubagem não destrutiva de árvores e aferição volumétrica de pilhas de madeira; e (b) usa simultaneamente sensores dendrométricos e fotométricos para monitoramento do crescimento e da saúde das árvores.

6. A gestão apoiando-a com (a) torres autônomas de monitoramento para detecção precoce de sinais de incêndios florestais e outros sinistros visando à resposta rápida e eficaz; e (b) sistemas integrados de gestão holística, combinando várias tecnologias e plataformas para gestão simultânea e multicritério dos recursos florestais, hídricos e de biodiversidade.

Ao concluir este artigo, quis saber a opinião de uma famosa plataforma de IA, e pedi que avaliasse as minhas reflexões. Transcrevo a resposta:

A estrutura fornecida oferece uma visão abrangente das tendências atuais e emergentes. Pode ser complementada pelas seguintes considerações:
• Realidade aumentada e virtual para planejamento de manejo florestal e para que os operadores de campo acessem rapidamente informações árvores específicas.
• Clonagem digital para criação de réplicas digitais de florestas que simulem e prevejam como diferentes fatores podem afetar o crescimento e a qualidade das florestas.
• Biometria avançada para identificação e rastreamento de animais, ajudando no esforço de conservação da vida selvagem e na manutenção do equilíbrio ecológico.
• Sensoriamento remoto, big data e medição de sequestro de carbono para avaliar a interação com eventuais mudanças climáticas, disponibilidade de água e o papel das florestas na mitigação desses efeitos.
• Blockchain e silvicultura para garantir cadeias de abastecimento de madeira rastreáveis e validação de práticas florestais sustentáveis.
• Interfaces com usuários mais aprimoradas, possivelmente controladas por voz, que reduzam o tempo para inserção e recuperação de dados.
• Robôs colaborativos (cobots) que trabalhem ao lado de operadores humanos para aumento de produtividade e redução de fadiga e acidentes. (chatGPT, v. 4.0)


Ao ler as sugestões, percebi o impacto e o quanto avançamos digitalmente. Os recursos de inteligência artificial estão ainda na sua infância, com enorme potencial para remodelar e expandir os horizontes da nossa Silvicultura.

Percebi também neste rápido exercício, como as inovações complementam a nossa inteligência natural, que terá que ser usada com sabedoria. Entretanto, para que os bons frutos de evoluções como a da inteligência artificial sejam colhidos, será essencial lembrar que a maximização de necessidades de produção só é viável se condicionada por princípios éticos e humanos de justiça e pelos limites naturais do nosso planeta.