Me chame no WhatsApp Agora!

Marcio Augusto Rabelo Nahuz

Pesquisador do Centro de Tecnologia de Recursos Florestais do IPT

Op-CP-19

Engenharia florestal: um sonho distante?

Parecia que sim... afinal, que tipo de curso era esse, ecém-aberto, quase desconhecido, cujo vestibular vi anunciado no quadro de avisos na Escola de Agronomia da Universidade Federal do Paraná? A que carreira, a que profissão esse curso encaminharia um jovem saído às pressas do terceiro colegial, após um exame de segunda época em química, para não perder um ano sem universidade?

Era um curso novo, a engenharia florestal, oferecido pela então Escola Nacional de Florestas, recentemente transferida de Minas Gerais para Curitiba, resultado de um acordo entre o Governo Federal e a FAO, das Nações Unidas. Com a imaginação solta, surgiram imagens de selvas, florestas de vegetação fechada, árvores abatidas, pessoas e tratores em movimento, serrarias em frenética produção e indústrias a todo vapor, literalmente, muito vapor...

E, ao mesmo tempo, laboratórios de primeiro mundo, viagens a lugares distantes, ambientes mais calmos, em clima de encorajar pesquisas, intercâmbio e conquistas na área científica. Decisão tomada, aos poucos, o curso e a profissão se desenharam menos românticos e muito mais demandantes de tempo e esforço, mas já fazendo desenvolver um sentimento de pertencer a uma elite e, especialmente, de estar fazendo a coisa certa.

Grandes mestres, uns de renome internacional e outros, locais, todos contribuindo para a formação, na visão do conjunto e na análise do detalhe, no cuidado e na dedicação à situação em exame, com uma visão externa, de outras formações e realidades, mas com foco sempre na aplicação local.

Em plano menos técnico, valores como ética, honestidade, respeito à diversidade de opiniões e responsabilidade, subjacentes, mas intensamente inculcados, ainda que subliminarmente, passaram a ter importância cada vez maior, não só como balizadores da vida pessoal e da futura vida profissional, mas principalmente como valores emblemáticos, norteadores de um grupo de jovens engenheiros florestais.

Surgiu um Código de Ética, que, embora nunca escrito, mostrou-se eficaz e teve quase total adesão - quase, pois, afinal, o respeito à diversidade era uma das bases desse protocolo de conduta. Aos poucos, o Código se consolidou, norteando o comportamento do grupo, provocando, por vezes, conflitos de opiniões, quase sempre com posteriores adequações, mas nunca patrulhamento.

O Código acabou se tornando conhecido fora do seu círculo de praticantes, atraindo adesões eventuais, mas sempre apoio e admiração. Há alguns meses, porém, mais de quarenta anos depois, aquele grupo de jovens sonhadores se reuniu, agora um pouco menos jovens, para comemorar e relembrar, prazerosamente, tempos e ocasiões os mais diversos, porém com certeza e orgulho de ter realmente escolhido o rumo certo.

A área da tecnologia da madeira acabou sendo também uma escolha certa. Se não reproduzia fielmente o quadro de atividade intensa, quase frenética - característica imaginada da atividade de implantação, manejo e exploração de florestas, perseguindo metas, prazos e cronogramas -, trazia desafios a serem superados, objetivos a serem alcançados em um quadro de planejamento meticuloso e execução cuidadosa.

Tal situação se configurava no planejamento e desenho de campanha para a introdução de madeiras tropicais menos conhecidas no mercado nacional ou de exportação, como na caracterização das espécies ocorrentes em determinada bacia de inundação de uma usina hidrelétrica, como na caracterização e processamento mecânico de eucalipto ou pinus para a confecção de mobiliário.

Como num quebra-cabeças, cada etapa do trabalho tinha seu lugar. Esforços não eram economizados na tentativa de otimizar, com prazo definido e recursos estipulados, o uso da matéria-prima disponível em áreas florestais já abertas e em exploração. Para tal, altas doses de criatividade e inventividade eram necessárias, e, por vezes, também alguma capacidade de improvisação.

A facilidade de construir, com base em princípios técnicos e científicos, condições apropriadas para executar determinados ensaios, segundo as especificações e normas técnicas necessárias, continua sendo a característica presente nas iniciativas de maior sucesso. A recompensa, ao cabo de todo o esforço alocado, é o produto final, na plenitude de suas características, atendendo a objetivos pré-estabelecidos e satisfazendo as necessidades apontadas. Tais princípios, simples e eficazes, permanecem válidos e podem representar um legado àqueles que nos sucedem.