Modernização pode ser entendida como a substituição de sistemas, métodos e equipamentos antigos por outros modernos, acompanhando a evolução e as tendências do mundo atual. Dentro desse conceito, será que realmente estamos conseguindo modernizar, de modo efetivo, o processo de produção de madeira de eucalipto no Brasil? Ou somente estamos adotando alguns modismos (aquilo que aparece e passa rapidamente, coisas de características efêmeras)?
Provavelmente, as respostas a esses questionamentos vão ser elaboradas e justificadas seguindo duas vertentes, uma na forma de autoelogio corporativo, colocando o setor como referência absoluta sob todos os aspectos da modernização, e outra reconhecendo que houve modernização em vários aspectos, mas algumas estratégias não tiveram os êxitos esperados, havendo a necessidade de autocrítica e reconhecendo que readequações devem ser feitas para realmente seguirmos o caminho de uma modernização mais efetiva e abrangente.
Em relação ao respeito ao meio ambiente, às questões sociais, de governança, como práticas de valorização da segurança no trabalho, da diversidade, de inclusão e a incorporação da cultura do compliance no dia a dia das empresas do setor, sem dúvida aconteceram grandes avanços nos últimos anos, que devem ser valorizados e fortalecidos.
Nesse caso, houve grande aderência dessas ações às tendências do mundo atual e, portanto, podemos considerar que houve modernização. Entretanto muitas das metodologias que estão sendo utilizadas para garantir incrementos na produtividade dos plantios e na redução dos custos de produção da madeira foram pouco efetivas, indicando que existe um grande espaço para ações de modernização direcionadas a reverter essas tendências.
Analisando a evolução da produtividade dos plantios de eucalipto no Brasil nos últimos anos e o comportamento dos custos de produção da madeira nesse período, uma conclusão plausível seria a de que foram adotados mais modismos, ou metodologias pouco eficientes, do que realmente implementando processos de modernização robustos e efetivos. Essa consideração pode ser feita a partir da análise das taxas de ganho de produtividade do eucalipto no Brasil, que têm sido nulas ou até mesmo negativas nos últimos anos.
Essa tendência, juntamente com o incremento de gastos na produção, tem contribuído para aumentos consideráveis no custo da madeira entregue nas fábricas, comprovando que, sob esses aspectos, não houve “modernização” nesse período.
Reconhecendo a existência de lacunas de modernização relacionadas aos processos que controlam a produtividade dos plantios, várias metodologias adotadas atualmente deveriam ser mais questionadas e, posteriormente, melhoradas ou modernizadas. Como exemplos de estratégias ou métodos que devem ser repensados, podemos citar:
1. Metodologia para geração de clones comerciais. Considerando que o clone mais plantado no Brasil, atualmente, foi gerado há mais de 30 anos, pode-se deduzir que alguns programas de melhoramento não foram capazes, nesse horizonte de tempo, de desenvolver um material superior a este, provavelmente pela fragilidade das metodologias que estão sendo utilizadas com objetivo de gerar novos clones comerciais. Indicadores sobre o tempo de vida útil dos clones e a comparação do desempenho dos clones gerados nos programas das empresas com o desempenho dos clones de mercado podem servir para informar sobre a efetividade das metodologias atuais de geração de novos clones.
2. Manejo da física do solo. O entendimento do comprometimento da estrutura física dos solos nas áreas de cultivo ao longo das rotações, seus impactos na produtividade dos plantios e na conservação de solo e de água, assim como a adoção de métodos de manejo de solo que possam prevenir ou reverter esses impactos, também evoluíram muito pouco nos últimos anos. A utilização de equipamentos de baldeio de madeira com elevada capacidade de carga e a redução do tempo de rotação dos cultivos implicam imposição de pressões desses equipamentos ao solo bem acima da capacidade de suporte de cargas dos mesmos e com maior frequência, comprometendo sua estrutura e, consequentemente, as funções do solo dependentes desse atributo.
3. Métodos de recomendação de fertilizantes. Atualização dos valores de taxas de recuperação de nutrientes pelo eucalipto, de extratores utilizados em análise de solo compatíveis com a avaliação de fertilidade do solo para culturas perenes; ajustes de modelos de absorção de nutrientes ao longo da rotação e curvas de calibração de doses também não são muito comuns atualmente. O aumento significativo do preço dos fertilizantes nos últimos anos reforça ainda mais a necessidade de aperfeiçoamento dessas metodologias e abre espaço para “modismos”, como o uso de fontes alternativas de fertilizantes de baixa eficiência agronômica, e para os fertilizantes “especiais”, de eficiência muitas vezes não proporcional ao preço desses produtos.
4. Metodologias imparciais e confiáveis para entendimentos da relação água-eucalipto. Esclarecimentos sobre os efeitos do uso do solo com culturas perenes na dinâmica do ciclo hidrológico e seus impactos a longo prazo na produtividade do eucalipto também vão direcionar a adoção de práticas de manejo mais modernas. Indicadores como a relação Precipitação pluviométrica/Evapotranspiração da cultura (ETc) são muito úteis em diagnosticar eventuais impactos do eucalipto e de outras culturas sobre componentes do ciclo hidrológico, permitindo fazer algumas inferências a respeito do impacto da cultura na dinâmica de reposição de água no perfil do solo e no abastecimento dos cursos de água.
5. Qualidade da madeira e seu potencial em otimizar o desempenho do processo industrial de produção de celulose branqueada. Pouco tem sido feito para ampliar e implementar efetivamente o conhecimento a respeito desse relacionamento. Na prática, em um cenário como o atual, de relativa escassez de madeira, fica difícil aproveitar o conhecimento disponível nessa área.
Trabalhos aprofundados e de qualidade nas áreas citadas acima são relativamente complexos, caros, demorados e de pouco efeito midiático. Entretanto as empresas que estão atuando seriamente nessas áreas provavelmente serão aquelas menos vulneráveis a modismos e com mais chance de estruturarem um processo de produção de eucalipto mais alinhado com as melhores práticas, que vão garantir a elevação das taxas de produtividade dos plantios e a redução dos custos de produção. Práticas que resultem em ganhos efetivos de produtividade e redução de custos sempre serão consideradas modernas.
Quando trabalhamos com produção vegetal, seja no setor agrícola ou florestal, se questões aparentemente básicas não estiverem muito bem resolvidas, o uso de máquinas e implementos de “última geração” terá pouco efeito em contribuir para a real sustentabilidade do processo de produção de madeira. Máquinas e equipamentos modernos não combinam com produtividade antiga.