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José Luiz Ferraresso Conti Junior

Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Paracel (Paraguai)

Op-CP-77

Desafios do manejo de implantações florestais em áreas não tradicionais
Claramente o setor florestal vem apresentando avanços significativos que são notados mundialmente, especialmente no Brasil. Novos projetos industriais foram anunciados estimando investimentos de mais de R$ 120 MM, e consequentemente uma grande necessidade de madeira para abastecer essa demanda. Isso gera uma pressão por maiores produtividades em áreas atuais e/ou um possível movimento de expansão para áreas agrícolas ou sem tradição florestal. 
 
Em áreas de expansão, normalmente as primeiras perguntas são: Quais práticas de manejo realizar? Qual material genético recomendar? Existe algum problema fitossanitário? Qual produtividade estimada? Para responder a essas simples perguntas, estudos complexos são necessários. Nesse momento, entra em campo uma equipe multidisciplinar de pesquisa e desenvolvimento para definir quais caminhos seguir, sempre levando em consideração práticas fundamentadas e estabelecidas com pitadas de inovação e respeito à sustentabilidade.

Os primeiros passos são dados na direção do reconhecimento do ambiente. Classificação pedológica, conhecimento do terreno, fertilidade natural do solo, junto com a compilação de dados climáticos históricos, compõem uma base de dados confiável fundamental para delimitar os ambientes de produção e compreender melhor a distribuição espacial e a potencialidade florestal da região em estudo. Adotam-se, então, práticas de silvicultura e manejo teóricos, comparativas de localidades e ambientes similares. Um projeto bem elaborado deve contemplar o início e o término do estabelecimento do plantio, as definições das operações a serem executadas, material genético e, por fim, um cronograma de atividades e orçamento bem definido.

Comparações são bem-vindas, mas não devem ser fielmente replicadas dadas as condições particulares de cada zona. Referência desse processo foi o Mato Grosso do Sul, que, nas décadas de 1990 e 2000, adotou práticas de silvicultura e manejo de outras localidades, especialmente de São Paulo, e, através de melhorias contínuas e inovação, se reinventou transformando o estado no “vale da celulose”, mundialmente conhecido pela produção e sustentabilidade.  

O Paraguai segue o mesmo caminho.Inicialmente adotando práticas e recomendações florestais sul mato-grossenses, foi observado que o modelo tinha limitações e eram necessários ajustes. 

Com trabalho e observações de campo, identificaram-se oportunidades de melhoria e necessidade de atividades específicas no âmbito de silvicultura, manejo e melhoramento genético, alavancando o potencial produtivo florestal e colocando o país em destaque. 

Um exemplo de ajuste prático pode ser observado no cultivo em regiões de baixada que enfrentam dificuldades de drenagem. Essas áreas são geralmente planas, com pouca inclinação e uma baixa taxa de infiltração da água no solo, resultando em inundações temporárias durante períodos de chuvas intensas em determinados meses do ano. Esse fenômeno ocorre devido à diferença na textura dos horizontes A e B, que provoca uma mudança abrupta na velocidade de percolação da água em profundidade, característica comum dos solos conhecidos como planossolos e gleissolos.

No começo, devido a práticas inadequadas e às condições climáticas da região, foram observadas baixas taxas de crescimento. A solução proposta foi realizar o manejo de água da propriedade direcionando o excedente hídrico através de práticas de preparo de solo e a recomendação de materiais genéticos adequados. A combinação desses dois fatores vem demonstrando resultados favoráveis.

As técnicas utilizadas para o preparo do solo incluem a subsolagem em profundidade e a criação de camalhões nas linhas de plantio. A subsolagem ajuda na drenagem da água em níveis mais profundos e promove um direcionamento adequado da água, sem prejudicar a conservação do solo. Após a realização da subsolagem, é feita uma gradagem que possibilita a formação dos camalhões, que são elevações de 25 a 30 cm ao longo da linha de plantio. Essa prática garante boas condições para o desenvolvimento radicular e evita morte das raízes em períodos de inundações. 

Para completar, com a construção de canais de drenagem é possível deslocar grande volume de água em épocas de chuvas concentradas, favorecendo a distribuição de água entre os talhões, evitando inundações. Além disso, é possível captar parte da água deslocada em reservatórios adjacentes para futura utilização na irrigação de plantio em épocas de seca. 

Do lado genético, acreditar que materiais genéticos de outras localidades desempenharão o mesmo potencial produtivo é uma ilusão. Existem interações complexas entre genótipos e ambientes que devem ser respeitadas. Clones plásticos podem ter previsibilidade produtiva, mas raramente atingem o máximo potencial. No início de um projeto, pode fazer sentido, mas um programa genético robusto deve ser desenvolvido para suportar o desenvolvimento produtivo no longo prazo. A escolha correta de espécies e procedências adaptadas para as condições edafoclimáticas é crucial.

E, claro, não podemos deixar de mencionar a importância da eficiência operacional. Nenhuma recomendação de manejo terá efeito positivo se as operações de silvicultura não forem executadas com excelência.

Não existe receita pré-preparada, ajustes são necessários e os desafios são diversos, mas, com profissionais competentes e equipes comprometidas, as adversidades são superadas e os resultados colhidos.



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