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Antonio Rioyei Higa

Professor da Universidade Federal do Paraná

Op-CP-27

Inovações no melhoramento genético de eucalipto

De acordo com o Decreto Nº. 5.563, de 11/10/2005, que regulamenta a Lei Nº 10.973, de 02/12/2004, que dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, inovação é a introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços.

Nesse contexto, o setor florestal relacionado às plantações florestais com híbridos de eucaliptos experimentou uma evolução invejável na produtividade por unidade de área plantada, qualidade da madeira e resistência a fatores climáticos adversos, nesses últimos quarenta anos.

Uma revista sueca, especializada na área florestal, publicou, há uns cinco anos,  uma capa com a manchete How to beat the Brazilians, destacando as altas produtividades alcançadas pelas plantações florestais no Brasil, resultantes da aplicação dos resultados de pesquisas nas áreas de melhoramento genético e silvicultura.  

As altas produtividades das plantações brasileiras continuam ainda surpreendendo os silvicultores e a comunidade científica mundial. Esse fato pode ser observado em um evento internacional realizado em Porto Seguro, BA (www.ipef.br/eventos/2011/iufro.asp), onde tivemos a oportunidade de coordenar a Sessão Técnica “Melhoramento”, juntamente com a Profa. Luciana Duque e Silva, da Esalq/USP.

Três palestrantes convidados (Rod Griffin, da Universidade da Tasmânia, Austrália; Teotônio Francisco de Assis, da AssisTech, Brasil; e Gabriel Dehon, do Instituto de Investigação da Floresta e Papel - Raiz, Portugal) apresentaram e discutiram as inovações tecnológicas relacionadas às florestas clonais e a questão “as florestas clonais são sempre a melhor opção para a eucaliptocultura?”

A discussão desse tema é de fundamental importância nos dias de hoje, porque, nesses últimos anos, até os produtores brasileiros de madeira de pinus e de madeira e casca de acácia-negra, que junto com os eucaliptos totalizam mais de 96% dos 6,9 milhões de hectares plantados com espécies florestais com finalidades produtivas em 2010 (www.abraflor.org.br/estatisticas/Abraf11/Abraf11-br.pdf), estão também investindo nas florestas clonais.  

Nesse debate, destacou-se a vantagem da silvicultura clonal com híbrido de eucaliptos, em relação aos plantios originados por sementes, por combinar características de espécies diferentes em relação à adaptação ao clima e solo, rápido crescimento, qualidade de madeira adequada às finalidades industriais, habilidade para enraizamento, resistência de doença, etc.

Na década de 1970, algumas empresas brasileiras começaram a usar mudas clonadas de árvores selecionadas fenotipicamente, a maioria delas híbridos naturais encontradas em plantações comerciais originadas de sementes.

Essas plantações viabilizaram a eucaliptocultura em algumas regiões onde as árvores de eucalyptus grandis, espécie mais plantada no Brasil na época, eram susceptíveis ao cancro, causado pelo fungo cryphonectria cubensis. Sem dúvida, as florestas clonais de eucaliptos representaram uma inovação tecnológica significativa no Brasil.

Atualmente, os híbridos estão sendo gerados empregando técnicas de polinizações controladas, seguindo estratégias de melhoramento definidas com base em fundamentos teóricos de genética quantitativa.

Inovações nas técnicas de polinização controlada e nas estratégias de melhoramento possibilitaram a produção de híbridos em larga escala e aumento contínuo na produtividade, contradizendo os opositores dos velhos tempos que consideravam a clonagem como “fim de linha” em relação ao ganho de produtividade.      

No entanto, como destacado no debate, apesar dessas vantagens, florestas clonais de eucaliptos ainda não representam a maioria das plantações no mundo. Em muitos casos, o uso de sementes geneticamente melhoradas é ainda preferido. Eucalyptus globulus é uma das espécies do gênero mais plantadas no mundo (2,4 milhões de hectares).  No entanto as florestas clonais com essa espécie variam de 0% (Austrália) a 15% (Chile).  

No Brasil, estima-se que as florestas clonais com híbridos, principalmente o híbrido urograndis, representam aproximadamente 50% do 4,5 milhões de ha de plantações.Um dos principais riscos associados às florestas clonais, que vem sendo discutido desde a década de 1970, é a susceptibilidade dessas plantações às doenças, pragas e fatores climáticos não esperados.

Conforme destacado no debate, estudos teóricos têm sugerido que o uso de pelo menos 40 diferentes tipos de clones poderiam proporcionar uma sustentabilidade ambiental mais adequada. 

Além disso, esses estudos ressaltam a necessidade de investimento contínuo em programas de melhoramento genético, visando gerar novos clones. De forma geral, recomenda-se a introdução anual de um novo clone operacional. Deve ser salientado, no entanto, que a aprovação de um novo clone para uso operacional demanda pelo menos 12 a 16 anos.  

No Brasil, apesar da grande oportunidade da participação da madeira serrada de eucalipto no mercado nacional, em função das crescentes restrições do uso de madeira nativa da Amazônia, observa-se que a quase totalidade dos programas de melhoramento visando gerar novos clones de eucaliptos é desenvolvida por empresas de papel, celulose e carvão vegetal.

Outra preocupação é o uso indiscriminado de clones em localidades onde eles não foram testados. A interação genótipo x ambiente, quando se usam clones, é mais pronunciada quando comparada com situação onde se usam mudas originadas de sementes. Nesses locais, ou para novos ambientes desconhecidos onde as plantações estão se expandindo, o uso de mudas originadas de sementes geneticamente melhoradas de espécies selecionadas pode representar um melhor balanço entre ganhos e riscos.

As duas principais conclusões desse debate foram:

a. As inovações tecnológicas para gerar híbridos intra- e interespecíficos de eucaliptos, baseadas em estratégias de melhoramento, metodologias eficientes e rápidas de polinização controlada e clonagem de genótipos selecionados em larga escala a custos reduzidos, têm contribuído para formação de plantações clonais com alta produtividade e qualidade da madeira em todo o mundo.
b. O uso de clones não testados, o uso de metodologias inadequadas para avaliação da interação genótipo x ambiente e a base genética restrita pelo uso de poucos clones em grande extensão de plantios são os principais riscos associados às florestas clonais.

Em resumo, a escolha da inovação tecnológica a ser aplicada no sistema produtivo deve ser realizada com muita cautela. O uso de florestas clonais com híbridos de eucaliptos, sem dúvida nenhuma, pode propiciar grandes ganhos na produtividade, qualidade da madeira, homogeneidade do produto e resistências a doenças e a fatores climáticos adversos.

Mas a vantagem do uso de clones em relação ao uso de mudas de espécies selecionadas, originadas de sementes melhoradas geneticamente, produzidas em pomares de sementes (o que também representa uma grande inovação tecnológica), depende da existência de efeitos não aditivos para as características desejadas e capacidade de enraizamento dos genótipos selecionados.