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Ronaldo André Soares

Gerente-geral Florestal da Divisão de Agricultura da Hexagon

OpCP69

Os desafios da introdução de tecnologias
A digitalização já chegou à floresta. A cada dia, mais e mais processos sofrem incorporações de softwares e hardwares, produzindo uma infinidade de informações. Apesar de possuirmos um terreno totalmente inexplorável e com uma gama quase desconhecida para adquirirmos novos conhecimentos, ainda temos alguns desafios a serem vencidos.
 
A área de colheita absorveu a tecnologia escandinava, introduzindo harverters, forwarders, skidders e clambunks, saindo de uma atividade que utilizava como base motosserras, descascadores, autocarregáveis e caminhões com baixa capacidade de carga. Quando falamos da implantação de florestas, essa atividade segue os passos do processo evolutivo e tecnológico ainda da agricultura, que, por sua vez, sempre está um passo à frente quando falamos de inovação.

Existem alguns motivos pelos quais essa diferença temporal ocorre:
• O ciclo curto da maturação e comercialização de produtos agrícolas leva a uma análise de investimento e resultados com maior velocidade.
• O grande interesse dos fabricantes de máquinas agrícolas nesse mercado, devido à alta demanda de produtos.
• Uma gestão mais vertical, o que muitas vezes facilita a tomada de decisão e agiliza a aquisição e adoção de novas tecnologias, pois há poucos envolvidos no que tange aos riscos do investimento.

Segundo a Fenabrave (2021), a comercialização de máquinas agrícolas foi de 58.733 unidades, com um acumulado dos últimos 5 anos em 239.094 exemplares. Estima-se que o mercado florestal represente apenas entre 1% e 3%, o que explicaria o desinteresse dos fabricantes.

A busca de dados já é um grande desafio. Temos menos de uma dezena de grandes fabricantes na área e uma centena de fabricantes de menor escala, que competem ferozmente com o budget do setor de silvicultura. A grande fatia de mercado está concentrada nos pequenos fabricantes. A silvicultura, no que abrange a implantação de  floresta até sua colheita, compartilha do mesmo problema, independentemente da parte do mundo em que se esteja. 
 
As empresas procuram encontrar soluções locais, que é aquele prestador de serviços que geralmente atende ao setor metal mecânico ou a pequenos fabricantes de implementos e que se deslumbra com essa oportunidade de ampliar os seus negócios. Motivados pela operação de silvicultura em desenvolver soluções, normalmente dão um primeiro passo através de um protótipo e, após várias tentativas de erros e acertos, conseguem raramente transformá-lo em um produto comercial universalizado. 

Algumas empresas subsidiam esses processos, tanto financeira quanto tecnicamente, pois há uma necessidade de conhecimento operacional técnico-científico silvicultural para suportar esse desenvolvimento. Embora isso ocorra, já conseguimos observar, ao longo dos anos, que não é suficiente para suportar essa iniciativa. Temos, então, uma deficiência de recursos financeiros e, por consequência, nível técnico de fabricação e projeto construtivo por parte desses fornecedores de solução, o que reflete em equipamentos com baixo nível de padronização e tecnologia, embora todo esforço e motivação tenha sido empregado. 

As próprias incertezas ou pedidos customizados de uma mesma empresa, ou empresas vizinhas com uma demanda operacional muito similar, acabam dividindo ainda mais esse pequeno setor de fornecedores, competindo pelo mesmo recurso e mercado. Não é incomum, numa mesma empresa, encontrarmos na operação 30 ou mais equipamentos que, embora tenham sido fabricados por um ou dois fornecedores, tenham entre si diferenças tão significativas, tanto que, para a introdução de tecnologia, se faz necessária uma alteração e adaptação substancial. Fato este que onera os custos, toma tempo e, muitas vezes, inviabiliza até mesmo a implantação nesse equipamento. Facilmente, teria sido resolvido com um projeto fabril padronizado e tecnológico.
 
A adaptação de implementos agrícolas para o setor florestal não é uma tarefa simples, pois existem características de cada setor que determinam a robustez, a qualidade, a engenharia de construção e o nível tecnológico. Dentre essas diferenças, podemos citar o número de horas utilizadas/ano/equipamento, as condições de terreno, como a existência de tocos e resíduos, a topografia e a própria terceirização.

Na dinâmica desse desafio, temos 4 atores principalmente envolvidos: 

1. As empresas de celulose e derivados de madeira: As empresas do segmento florestal, por sua concepção, têm o foco baseado no seu produto final, destinando a maior parte dos seus recursos para esse fim. Um dos fatores que podem influenciar nessa redução de investimentos do início de uma implantação florestal é, provavelmente, o ciclo longo, mais  de 6 anos. Essa longa espera por colheita traz à tona muitas incertezas ao investidor sobre garantias de retorno. Dúvidas difíceis de serem respondidas, em função das variáveis, como clima, pragas e doenças, escolha genética e situação política e econômica.

2. Prestadores de serviços: Quando falamos de prestadores de serviços, também o seu core business está em metas de implantação e manutenção de florestas, não tendo tempo, nem recursos ou pessoal habilitado para o desenvolvimento de máquinas; contudo se vê, em função das dificuldades já expostas, a necessidade quase sine qua non de sobrevivência se aventurar por esses caminhos de desenvolvimento e fabricação. O resultado nem sempre é o esperado e, geralmente, tem-se o mesmo problema dos pequenos fabricantes de implementos.
 
3. Pequenas empresas de implementos: Os pequenos fabricantes, mas não menos importantes e entusiastas do setor, são verdadeiramente o esteio da mecanização e modernização da floresta. Seu tamanho e capacidade técnica estão diretamente interligados com o aporte financeiro a eles dedicado. Embora, nos últimos anos, tenha se observado a entrada de novos fabricantes, também vemos muitos fabricantes tradicionais saindo do setor, desmotivados com a falta de investimento. Aqui, estamos falando não apenas de recurso financeiro, mas também de conhecimento técnico. Em outros lugares do mundo, como Europa, EUA, Canadá, entre outros, já se utiliza comumente o padrão ISOBUS de comunicação, que permite a integração trator e implemento independente da marca, ampliando a coleta de dados da operação. O mercado estabelecido, padronizado dos grandes fabricantes de máquinas e implementos no Brasil, ainda não conseguiu implementar, de forma maciça, o ISOBUS, devido à legislação e padronização das fábricas. Então, imagina o quão tardio isso irá ocorrer nos pequenos fabricantes.

4. Grandes fábricas de máquinas agrícolas e colheita florestal: Os grandes fabricantes, principalmente os de tratores, harvester e forwarders, tentam desenvolver produtos baseados nos bons resultados e valores agregados da colheita florestal. Porém desenvolver soluções inovadoras, mesmo com um mercado limitado, não é uma tarefa tão fácil, e essa ação é insuficiente para a tão desejada floresta 4.0 acontecer. O que é necessário entender é que a velocidade de demanda de mercado corre sempre à frente dos investimentos, e isso se agrava no tempo em que estamos vivendo, na era da informação, do agora.

Então, qual a solução para vencermos esses desafios? Não existe uma ação individual, nem uma resposta simples, mas acreditamos que uma sinergia maior entre os envolvidos, grupos de estudos específicos, universidades e especialistas com recursos financeiros e técnicos adequados encontrariam a resposta. 
 
Por fim, o que podemos observar é que a distância tecnológica entre os setores agrícola e florestal tem diminuído a cada ano. Parte disso acontece em função dos grandes investimentos que estão ocorrendo no setor florestal, com novas fábricas e ampliação da produção. Até mesmo a própria competitividade no setor e a disponibilidade de informação que temos nos dias de hoje, em apenas um click na palma da nossa mão, conseguimos verificar em qualquer setor ou parte do mundo o que está acontecendo em novidades e inovação, fazendo com que isso contribua muito para reduzir este gap tecnológico entre os dois setores, impulsionando o setor florestal para um novo patamar.