Sem dúvida alguma, o Brasil é um país com forte competitividade no setor florestal mundial. Contudo, algumas variáveis têm mudado sensivelmente nos últimos anos, o que tem tornado as nossas operações e negócios florestais mais desafiadoras. E o que mudou?
São várias as mudanças que podem impactar significativamente a depender da localização geográfica, material genético alocado, tipo de operação, grau de mecanização e por aí vai.
Para começar, as alterações pluviométricas com distribuições irregulares, entre anos e meses do ano, o que, de certa forma, acaba por favorecer a susceptibilidade dos maciços florestais a pragas e a uma oscilação nas capacidades regenerativas das cepas pós-colheita.
Como se não bastassem os aspectos da natureza, temos sofrido também com uma dificuldade muito grande na atração e retenção de profissionais qualificados para o negócio florestal, de operadores a gerentes, o que aumenta o esforço e dispêndio de tempo na execução assertiva do que precisa ser feito para obtermos uma floresta com alto grau de competitividade.
Além desses, a sustentabilidade e o valor da imagem e a marca dos negócios têm exigido operações cada vez mais seguras, o que é o ideal, que não admitem riscos que antes eram gerenciados.
Os preços dos insumos, equipamentos e terras aumentaram significativamente nos últimos tempos. Esse último, então, tem ficado muitas vezes inacessível ao produtor florestal. A fronteira agrícola tem avançado para regiões que antes eram terras com vocação única e exclusivamente florestal, agora não mais. Ainda temos um crescimento da demanda por madeira em nosso país, em virtude de novos projetos industriais e com projeção de aceleração ainda maior devido à pauta de descarbonização das empresas.
Isso tudo acaba resultando em um custo final da madeira em pé mais alto, o que pode afetar as margens e a atratividade dos investimentos em muitos negócios florestais.
Quando falamos de mudanças em regimes pluviométricos irregulares, pragas, alocação clonal, uso de solos de baixa produtividade, vemos muitas vezes o Volume Médio Individual (VMI) das árvores diminuir drasticamente em alguns casos, fazendo com que as etapas subsequentes do processamento das árvores fiquem mais onerosas, em função do consumo de combustíveis, óleos lubrificantes, peças e valores investidos nos equipamentos. Tudo acaba ficando relativamente mais caro para processar cada m³ de madeira.
Temos discutido muito, ultimamente, sobre o impacto dos métodos de colheita na produtividade final das florestas e a taxa de aproveitamento dos nossos ativos. Atuo no segmento de produção de carvão vegetal há mais de 20 anos e durante todo esse tempo avaliamos como mais viável para o custo final do carvão produzido a colheita pelo método full tree, que utiliza feller buncher, skidder e garras traçadoras cada vez mais produtivas, maiores e pesadas.
Os impactos do tipo de corte e movimentação de máquinas sobre a floresta e o estágio de regeneração pós-colheita da primeira rotação e a perda da taxa de sobrevivência de cepas sempre foram notados. Contudo, quando fazíamos contas do custo de um modelo de colheita diferente e comparávamos com os custos da formação da floresta até aquele estágio, sempre optamos pelo retorno a curto prazo, ou seja, colheita mais barata.
Ocorre, hoje, que o ativo imobilizado (terra) e os custos de formação das florestas estão muito mais altos que no passado. O preço de madeira no mercado chega a ser três vezes maior que há 10 anos, o que nos faz repensar a viabilidade de todas as operações na cadeia da produção de floresta e no processamento de madeira.
Estudos e a prática nas empresas mostram que a diferença entre a taxa de sobrevivência no sistema cut to length – CTL e do sistema full tree podem superar os 10 pontos percentuais. Se tomarmos um exemplo hipotético, onde se obtém 90% de sobrevivência na segunda rotação, no sistema CTL e 80% no sistema full tree, perderemos 5% da capacidade produtiva das terras, quando comparamos os dois métodos, e perdemos 10% quando apuramos o resultado do sistema full tree, o que é muito.Atualmente, isso tem muito mais valor que há alguns anos em função do preço e da disponibilidade da madeira.
Diante dessas constatações, temos alguns desafios pela frente. Primeiro, melhorar os processos, equipamentos e materiais genéticos para que consigamos perder menos no sistema de colheita full tree, maximizando o uso das terras e retorno sobre capital empregado na formação da florestal; e/ou tornar o modelo de colheita CTL mais viável para aplicação também no segmento de produção de carvão vegetal.
Outro desafio que se tornará cada vez mais relevante é a pegada de carbono. Os equipamentos utilizados nos sistemas de colheita são máquinas robustas, com alta produtividade, que requer também alto consumo de combustível. Atualmente, o percentual de bio-óleo no diesel é baixo. Precisaremos pensar em equipamentos que funcionem com combustíveis oriundos de fontes renováveis, equipamentos elétricos e cada vez mais eficientes quando pensamos em tCO? equivalente, emitida por tonelada de madeira produzida.
E por fim, mas não menos importante, temos um desafio enorme de formar profissionais qualificados para o setor, conseguir atrair e retê-los nas organizações. Diante do potencial brasileiro e dos planos de crescimento para o setor, vejo com muito entusiasmo nosso futuro, mesmo com os desafios que teremos pela frente.