Ao produzir celulose solúvel, a Bracell unidade Bahia afirma produzir especialidade, pois os produtos gerados a partir dessa matéria-prima são de alto valor agregado, como produtos farmacêuticos e alimentícios, filamentos de viscose para fabricação de tecidos e outros. Os aspectos qualitativos, como densidade básica, teor de extrativos, teor de pureza, percentual de alfacelulose e hemicelulose, são atributos inerentes aos processos de fabricação dessas matérias-primas. Todavia, os limites inferiores e superiores admitidos para cada um desses aspectos são diferentes.
Comparando a produção de celulose solúvel com a produção de celulose branqueada destinada à fabricação de papéis e derivados, os parâmetros qualitativos para a solúvel são bem mais restritivos, implicando maior grau de dificuldade em atingir e manter a conformidade almejada para o processo e o produto. Nesse sentido, os itens de verificação, itens de controles e os parâmetros qualitativos (qualidade do produto) devem ser definidos de forma diferenciada.
Dentre todas as definições do termo qualidade encontradas na literatura, em minha percepção, a mais adequada sobre esse tema é proferida por Joseph Moses Juran: ele afirma que qualidade consiste nas características dos produtos que vão ao encontro das necessidades dos clientes.
Tratando-se de produção de celulose, devemos conhecer os parâmetros individualmente definidos pelos clientes, entender como o conjunto de processos da cadeia de valor florestal inter-relacionam-se, além de conceber o sistema de gestão de qualidade florestal como uma estratégia competitiva para agregar valor ao produto final.
De forma geral, é necessário entender os desafios e as oportunidades a respeito do controle de qualidade no processo de produção de celulose, principalmente no controle das operações florestais, que, ao contrário das operações fabris, estão sujeitas às intempéries do ambiente e a diversos outros fatores atenuantes, como menor índice de mecanização e maior distância entre as operações entre si. Considerando o que foi observado, entenderemos, a seguir, quais boas práticas podem ser adotadas no controle de qualidade florestal para melhorar o resultado, aumentar a produtividade e reduzir os custos na cadeia de custódia de produção de celulose.
O controle de qualidade deve ser construído a partir do desdobramento do planejamento estratégico da organização, considerando os objetivos de curto, médio e longo prazo. Em seguida, devem-se definir as metas e o conjunto de resultados-chaves para cada operação florestal, utilizando, por exemplo, a metodologia OKR (Objectives and Key Results). Por fim, as metas devem ser planejadas conforme o formato SMART, sendo específicas, mensuráveis, atingíveis, relevantes e temporais.
O próximo passo reside na adequada definição dos itens de verificação, que nos permitirão identificar as causas que afetam o atingimento da meta proposta. Esses itens devem seguir padrões técnicos, padrões estatísticos e padrões operacionais, devendo-se haver convergência e interdependência entre eles, caso contrário, a chance de insucesso será maior.
Em paralelo ao passo anterior, é preciso definir os parâmetros de cada item de verificação. Esses parâmetros serão determinados por meio do estudo da qualidade intrínseca inerente ao produto, objetivando entender como a variação do parâmetro de cada item de verificação influenciará na perda ou no ganho da meta associada a cada item.
Outro aspecto muito importante a ser considerado no controle de qualidade florestal é a determinação da intensidade amostral para cada operação, ou seja, determinar o número ideal de amostras a serem avaliadas em relação ao número de amostra total existente, já que realizar o censo incorre em alto custo e morosidade no processo de tomada de decisão. Analisar os fatores que causam variabilidade nas operações, como maturidade da mão de obra e condições ambientais especificas, por exemplo, é preponderante e deve ser feito continuamente, pois se trata de um processo dinâmico.
Por fim, é necessário haver uma compreensão de que só é possível atingir os objetivos estratégicos caso haja integração e sinergia entre os times e senso de dono de cada pessoa envolvida ao longo de todo o processo, principalmente aquelas pessoas posicionadas à frente das operações.
Os interesses coletivos devem sempre prevalecer em detrimento dos interesses individuais. Em minha percepção, ainda há muita margem para melhoria no controle de qualidade florestal, seja por adequações de tecnologias e/ou ferramentais utilizadas em outros seguimentos, seja por meio de pesquisas aplicadas focadas em redução de custo, aumento de eficiência e da confiabilidade das informações, configurando maior assertividade na tomada de decisão.
Ao longo dos tempos, foram absorvidas pelo controle de qualidade florestal diversas metodologias de gestão da qualidade que, originalmente, eram utilizadas nas indústrias e que, até hoje, fazem parte da rotina nas empresas florestais. É o caso do ciclo PDCA, utilizado para o controle e melhoria contínua dos processos e produtos, e do 5W2H, uma forma ágil e eficiente para planejar e executar um plano de ação. Lembrando também das sete ferramentas da qualidade (fluxograma, cartas de controle, diagrama de Ishikawa, folha de verificação, histograma, diagrama de dispersão e diagrama de Pareto), que permitem determinar, analisar e solucionar as causas capazes de comprometer o desempenho da empresa.
Nossa experiência na Bracell evidencia, de forma prática, tudo o que foi dito. Os esforços necessários dedicados ao aprimoramento dos mecanismos do controle da qualidade nas operações florestais são orientados pela filosofia QPC (melhoria da Qualidade, aumento da Produtividade e redução de Custo) e pelos nossos valores fundamentais Topicc (Times que se complementam, Olhar de Dono, Pessoas, Integridade, Cientes e Melhoria Contínua).
O foco do controle de qualidade dos processos florestais da Bracell na unidade da Bahia está direcionado, principalmente, para as operações de viveiro de produção de mudas de eucalipto, silvicultura, colheita, logística e manutenção/construção de estradas florestais, pois geram impactos diretos na produtividade e na qualidade de nossas florestas, no custo das operações inspecionadas e nas operações subsequentes.
Em desfecho, penso que a aplicação prática dessas abordagens na jornada das organizações se converterão em vantagem competitiva, principalmente no que tange ao atendimento pleno de seus clientes. Quanto mais valor se agrega ao processo e, por consequência, ao produto, mais se viabilizam os negócios e todos os seus desdobramentos positivos, inclusive para as comunidades vizinhas, ao empreendimento florestal e para o meio ambiente.