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Wilton Ribeiro de Almeida Filho e Rodrigo Nascimento de Paula

Coordenador de Comunicação e Inovação e Gerente Executivo da SIF, respectivamente

OpCP64

Novos desafios demandam novos profissionais
O LiDAR está no iPhone! 
 
Com essa afirmação inicial, podemos começar uma reflexão sobre velocidade, a velocidade com que a tecnologia consegue mudar as nossas vidas. De tempos em tempos, somos convidados a desaprender e a reaprender, e o intervalo de tempo no qual estamos confortáveis com o conhecimento (que temos) está cada vez mais curto. O rápido desenvolvimento em tecnologia da informação transformou o mundo de forma determinística. Se imaginarmos algo similar a um gráfico de som, seria como se estivéssemos num campo com sons da natureza e como se, num passe de mágica, o som ambiente passasse a ser a música eletrônica de uma rave. Esse é o tal do mundo V.U.C.A. (Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity). 

Essa volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade foi mapeada na década de 1990 e foi invadindo o mundo corporativo. Volátil, pois perdemos a estabilidade, o mercado consumidor muda a todo momento. Surgem empresas em uma garagem, ou em uma nuvem digital, que podem transformar o modo com que o mundo se comporta em um pequeno espaço de tempo; surge o Pix, e você pode transferir dinheiro a qualquer momento, para qualquer conta, de qualquer banco; tudo muda a toda hora.

Zygmunt Bauman é um sociólogo reconhecido pelo conceito de “modernidade líquida” e, para ele, a “crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza, a única certeza” é a base dessa volatilidade. Assim, a incerteza passa a ser uma companheira presente. Sim, no próximo mês, um grupo de estagiários pode lançar um aplicativo que muda a forma com que o mundo se relaciona com a floresta, por exemplo. E, claro, é complexo, porque não é linear, e tudo isso junto caracteriza a ambiguidade. É o mundo dos trade-offs. 
 
E, quando pensamos que já estamos entendendo como esse novo mundo funciona, percebemos que, de novo, ele não tem nada e que já existe uma nova corrente de mundo, o mundo BANI - Brittle (Frágil); Anxious (Ansioso); Nonlinear (Não linearidade); Incomprehensible (Incompreensível). Talvez a grande sacada desse novo modelo seja assumir a incompreensibilidade, pois já era hora de assumirmos nossa incapacidade diante da grandeza das transformações.

Mas como fica a ciência florestal? Começamos o nosso texto falando que a tecnologia LiDAR, que pode ser largamente usada pelo setor florestal, está disponível num smartphone. Os novos engenheiros florestais estão preparados para esse novo mundo de possibilidades? Os professores estão preparados para adotar novos métodos de ensino? Estamos dispostos a conviver com o desconforto do novo?

O ensino formal de engenharia florestal no mundo teve início no século XIX, na América Latina. As primeiras iniciativas datam do início do século XX (no México e na Venezuela). O primeiro curso na Alemanha se preocupava em formar profissionais capazes de entender as nuances da floresta e a extrair dela matérias-primas para alguns bens de consumo, como papéis, carvão e bens imóveis, como madeira para construção de casas e galpões. No Brasil, a gênese não foi diferente.

O curso teve início na década de 1960, com a Escola Nacional de Florestas em Viçosa-MG, e formava profissionais com foco em silvicultura. Até aí, tudo certo. O problema começa quando surge um descolamento entre a evolução do mundo e a evolução dos processos de formação profissional. Lembra quando mencionamos um gráfico de som? Pois bem, o epicentro dessa rave deve ser a universidade.

Com o avanço assustador da tecnologia da informação, que já discutimos, tudo entrou em estado de aceleração inconstante, imprevisível e regulada por um tripé de valores: sustentabilidade ambiental, viabilidade econômica e justiça social. Então, surge uma pergunta: ainda cabe formar profissionais, hoje, da mesma forma que formamos ontem? Aqui, o ontem e o hoje estão em sentido denotativo, não existe figura de linguagem, tudo muda tão depressa que a reflexão é diária.

Glasser, em sua Pirâmide de Aprendizagem, nos dá uma dica de como planejar atividades de ensino. Segundo o psiquiatra, aprendemos: 10% quando lemos; 20% quando escutamos; 30% quando vemos; 50% quando vemos e ouvimos; 70% quando discutimos com outras pessoas; 80% quando fazemos e 95% quando ensinamos aos outros. Não é necessário descartar nenhuma forma de aprender, mas, por óbvio, as formas com maior eficiência devem ser priorizadas.
 
Diante disso, temos uma ótima notícia. O setor florestal brasileiro tem oportunidades incríveis de formação para profissionais e futuros profissionais que adotam a disrupção como essência. O UFV Forest Insight, por exemplo, é uma chamada de inovação aberta de abrangência nacional na qual grandes players apresentam desafios da floresta e da indústria, e equipes com capacidade de inovar apresentam possíveis soluções. Geralmente, essas equipes são multidisciplinares e multiníveis, formadas por professores, alunos de graduação e pós-graduação, profissionais de mercado, entre outros, com formação na engenharia florestal ou em outras áreas de conhecimento. 
 
Durante a chamada, as equipes que são selecionadas para a etapa de aceleração têm a oportunidade de receber treinamentos em formação de custo; maturidade tecnológica; propriedade intelectual, gestão de negócios e outros temas. Além disso, as equipes discutem com as empresas desafiantes para construir um protótipo da solução que seja de fato assertivo, procuram profissionais da academia que possam ajudar no processo, constroem um bussines plan e se prepararam para apresentar um pitch para grandes tomadores de decisão das empresas florestais participantes.
 
Ainda como oportunidade de formação no setor, a EmbrapII, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, tem uma unidade na área florestal, a Unidade EmbrapII Fibras Florestais do Departamento de Engenharia Florestal da UFV. Os projetos de desenvolvimento tecnológico em parceria com a EmbrapII, obrigatoriamente, contam com a participação de empresas e a participação de alunos, que ficam imersos em processos de capacitação que privilegiam práticas do tipo hands-on e abordagens Project Based Learning ou Problem Based Learning (PBL). É o ápice do modelo Triple Helix de Inovação (Universidade, Empresa e Governo).
 
Esses foram dois exemplos de formação disruptiva e que estão alinhados com a velocidade de transformação do mundo VUCA ou BANI. Mas, sem dúvidas, existem inúmeros outros. A realidade virtual que nos permite errar sem produzir efeitos reais; as empresas juniores que já entenderam que sua missão é gerar valor para o mercado e para as pessoas; as ligas acadêmicas que também permitem a solução de desafios reais são outros exemplos que podemos citar.  O que fica clara é a necessidade constante de sermos flexíveis e desapegarmos de verdades absolutas que nos impedem de aceitar o novo, de testar novas possibilidades. Todos nós, profissionais florestais, precisamos nos apaixonar. Sim, nos apaixonar pelo desafio de hoje e nunca pela solução de ontem.