Tive a alegria de acompanhar o desenvolvimento da mecanização na colheita florestal no Brasil, a partir de 2003, ano que marcou meu início na atividade. Naquele momento, era a fase da tropicalização dos equipamentos vindos da América do Norte e, em especial, dos países escandinavos Suécia e Finlândia.
O processo em si havia já iniciado há alguns bons anos, mas se intensificou de forma significativa mesmo bem nesse período. Agora, o momento é a mecanização do plantio e tratos silviculturais, por meio de plantadeiras e drones de pulverização. E diferente daquele importante marco para atividade no Brasil, em que estávamos muito atrás dos países europeus e norte-americanos. Hoje, somos protagonistas.
Sim, as máquinas de ponta continuam sendo importadas. Porém, o desenvolvimento, a evolução e a utilização destas máquinas em grande escala acontecem aqui. As empresas brasileiras estão ditando o que deve ser alterado, melhorado e adicionado aos equipamentos. Estas máquinas podem até não ter a inscrição “made in Brazil”. Mas pode ter certeza que tem muito avanço com um baita carimbo verde e amarelo. Nos tornamos referência global. E os desafios?
A gente faz como sempre fez, ué, supera. Já volto a falar da evolução, só preciso de um parêntese aqui para não passar batido. Mas, por serem tão insignificantes diante da gloriosa história da silvicultura brasileira, não deixarei que o assunto tome muito nosso tempo. Recentemente, a silvicultura deixou de ser, finalmente, uma atividade potencialmente poluidora.
Uma aberração legal que levou 43 anos para ser corrigida. Veja o quanto a indústria de base florestal evoluiu neste mesmo período. A caneta desse povo é lenta, hein! Isso só prova algo que todos nós sabemos. Para ser sincero, acho até que é positivo. Que vamos seguir evoluindo, independentemente do cenário, dos parlamentares e das políticas públicas, ou ausência delas.
Existem exceções, claro que sim, conheço gente boa que foi pra Brasília defender o segmento florestal. Mas, se a indústria evoluísse no mesmo ritmo que esta mudança recente na lei, estaríamos cortando madeira plantada – uma atividade perene, sustentável, geradora de emprego e ESG (sigla da moda) – ainda com machado. E pronto. Esta é toda atenção que este pequeno parêntese merece, mas tinha de ficar registrado. Evoluções gigantescas estão chegando, você está preparado?
Voltando ao que realmente faz diferença, à evolução profissional e tecnológica. Porque, no fim das contas, foi isso que nos trouxe até aqui e está nos levando mais longe e mais rápido que em qualquer outro lugar no mundo. Tome como exemplo a produtividade e qualidade dos plantios mecanizados pelo planeta. O Brasil está à frente nestes números também, quantitativa e qualitativamente.
Mais do que plantar e colher com máquinas, agora acompanhamos em tempo real tudo o que acontece no campo. Vamos além dos dados e apontamentos, temos em mãos a informação. O plantio é georreferenciado. Sabe-se a localização de cada muda, quantidade de adubação, herbicida, profundidade do plantio, número do clone, período do plantio, inclinação e muito mais.
No momento da colheita, o silvicultor tem na ponta dos dedos o histórico detalhado daquele plantio. Isso dá ferramentas para avaliar qualidade da madeira, taxa de crescimento, comparar com outros plantios. Entender quais técnicas, quantidades e procedimentos o fizeram chegar àquele resultado. Pode decidir, com base em informação concreta, o que mudar ou manter para atingir performance melhor no plantio seguinte.
Vou cravar: em 2025 a IA florestal vai explodir
A inteligência artificial ainda está engatinhando no setor florestal. Mas ela aprende a caminhar e correr mais rápido do que nós. Já estão em andamento iniciativas que contam com análise de imagens para formulação de relatórios, análise de procedimentos e da qualidade das atividades no campo.
Imagine um drone ou câmera embarcada nas próprias máquinas registrando em poucos minutos o resultado de um carregamento de madeira, plantio ou colheita florestal. As imagens são analisadas em segundos por uma ferramenta de inteligência artificial. Quase que instantaneamente temos na tela a avaliação de “conforme” ou “não conforme” da qualidade daquela atividade e um relatório embasando a avaliação.
Tudo de acordo com os parâmetros fornecidos pela empresa. E mais, eles vão evoluindo à medida que a “máquina” aprende mais e mais. Relatórios e sugestão de melhorias feitos sem falhas ou subjetividade, bem diferente da gente. Quem nunca acordou com o pé esquerdo? Será que estes sentimentos não acabaram interferindo na rigidez ou leveza da avaliação? A inteligência artificial sempre mantém o padrão. Por isso, a pergunta ali atrás: “Evoluções gigantescas estão chegando, você está preparado?”
Estas novidades não vão demorar, algumas já estão em campo hoje. Elas vão exigir novos conhecimentos dos profissionais que vão interagir com estas tecnologias. Plantamos e colhemos melhor Pode até ser que eu esteja usando as lentes do otimismo nos meus óculos. Mas enxergo um grande futuro para silvicultura brasileira.
Existem os desafios, claro. Vejo que, do ponto de vista da indústria, o maior deles seja treinar pessoas na quantidade necessária, além de gerar interesse nas novas gerações. A gente já sabe que a escolha pela engenharia florestal vem diminuindo entre os vestibulandos. Resolver estas questões exige uma ação coordenada.
Não vai acontecer espontaneamente e, pode ter certeza, não teremos política pública específica. As empresas e entidades têm de se unir, estabelecer processos, estruturas para capacitação e atração de profissionais. Já é um grande gargalo, e, se mantivermos o ritmo de hoje, será ainda maior.
Do outro lado, as tecnologias para colheita nas mais adversas situações, como terrenos dobrados, estão ainda mais avançadas, seguras e gerando menos impacto. Isto propicia mecanizar a atividade em áreas que, há pouco tempo, eram inacessíveis. Ganhamos mais eficiência no plantio, na colheita e no aproveitamento de áreas cultiváveis.
Temos profissionais altamente capazes (só temos de ampliar este time), tecnologia da informação e análise com inteligência artificial evoluindo como nunca. Ferramentas cada vez mais simples de usar e com capacidade de entregar informação e sugestão de melhorias. Diante de tudo isto, avalio que vivemos um dos melhores momentos da silvicultura brasileira, pelo menos nestes 21 anos que acompanho a atividade, sempre lembrando de marcos importantes, realizados por desbravadores, que nos trouxeram até aqui.
Estes têm lugar na história da Engenharia Florestal brasileira. É que, companheiro, agora tudo acontece muito mais rápido. Por isso, estou empolgado com os próximos anos. Vejo uma evolução ainda maior que acontecerá em menos da metade do tempo. Os desafios, a gente supera. Foi assim até hoje, e olha aonde a silvicultura brasileira chegou. Agora, as conquistas serão memoráveis.