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Alessandra F. Bernuzzi Andrade

Diretora de Responsabilidade Socioambiental da Abimaq e Gestora de Planejamento e Inteligência da Equipalcool

Op-CP-16

Pensando nas gerações

Afinal, o que é meio ambiente? Não faltam complexas definições sobre seu conceito. Quero compartilhar a visão mais simples: o meio ambiente é a nossa casa, o nosso sustento. Assim, o conceito de sustentabilidade será o equilíbrio que embasa essa casa e passará pelo entendimento dos diferentes estágios de renovação, exploração e utilização responsável dos recursos naturais.

Este aspecto é fundamental: a limitação temporal e quantitativa de recursos. A ciência econômica necessita de uma releitura, de um redesenho de sua arquitetura mundial, pois ainda hoje administra as fontes primárias de recursos naturais como infinitas. Isso quebra o ciclo de equilíbrio que permeia o conceito de sustentabilidade, pois tais recursos possuem um tempo para cumprir seu ciclo de renovação.

A degradação e o uso irracional de recursos geram passivos que não são contabilizados pelas empresas e países. O PIB, por exemplo, é um indicador que não contabiliza os passivos e custos socioambientais gerados para que uma riqueza seja produzida. Nem os ativos ambientais, que poucas empresas realizam, são contabilizados de forma adequada.

Essas distorções analíticas têm sido questionadas, e novos mecanismos de aferição de desenvolvimento, bem como de controles (normalizações, fiscalização), começam a ganhar destaque global como elementos importantes de gestão. As regulamentações não são barreiras para o desenvolvimento. Pelo contrário, a presença de dificuldades ou de supostas dificuldades, como em qualquer outra esfera da vida, é um fator de estímulo à superação e ao desenvolvimento de soluções inovadoras.

A série ISO 14000, por exemplo, foi fundamental para difundir o conceito de qualidade e eficiência de recursos, métodos e processos, em conformidade com o conceito de sustentabilidade. Na indústria, especificamente, isso significa inovação de métodos de produção e de produtos ambientalmente corretos e competitivos.

Agregar preservação ambiental à produção impõe também agregar os passivos ambientais, sem perda de lucratividade, com utilização criteriosa de energia, trabalho e recursos. O controle ambiental é aliado da competitividade. Essa postura é extremamente positiva, e os resultados estão nas iniciativas no âmbito da responsabilidade socioambiental.

O investimento em controle ambiental das indústrias brasileiras, por exemplo, cresceu mais de 83% entre 1997 e 2007 (IBGE), o que demonstra o interesse não só para adequação às normas vigentes, mas também para atendimento aos princípios da sustentabilidade. É a presente geração pensando nas futuras.
A gestão equilibrada, com diminuição de retrabalho e aumento da eficiência e qualidade dos produtos, influencia a opinião do consumidor final ou empresarial, gerando melhores produtos, com tecnologias sustentáveis incorporadas. Essas ações, longe de serem um problema, resultam em ativos, receitas e lucros.

A gestão sustentável traz oportunidades de negócios. A bioenergia, por exemplo, já consolidada no Brasil, possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Aliás, temos uma saída valiosa para esse mundo em transição, que procura o equilíbrio entre consumo e meio ambiente: a cana-de-açúcar. Seja como combustível veicular, fonte de energia em sistemas de cogeração, ou ainda como substituto dos derivados do petróleo na etanolquímica.

Os produtos e subprodutos da cana contribuem para o controle dos gases de efeito estufa, para a geração alternativa de energia, para o controle dos resíduos agroindustriais. Sem dúvida, a cana desempenha um papel importante para o desenvolvimento sustentado do país. A questão ambiental que se coloca para o mundo está na convergência entre o desenvolvimento e as limitações físicas do planeta. Qualquer resposta que não traga a sustentabilidade como princípio e fim está fadada ao fracasso.

Nesse cenário de novos conceitos e expressões, que procuram dar novo sentido para a realidade marcada por mudanças climáticas, a chamada “Era do Carbono” deve ser conscientemente substituída por “Era do Respeito”. Respeito como valor e não como ideal, que contribui para formar o conceito de Cadeia de Valor Sustentável, em que a interação aconteça entre empresas que tiverem e mantiverem os princípios da sustentabilidade arraigados ao seu negócio.

A Era do Respeito deve vir acompanhada de um amadurecimento intenso, fruto do conhecimento e da consciência sobre a interdependência entre o social, o econômico e o ambiental. O conceito de Cadeia de Valor Sustentável é o que mais se assemelha ao que, há bilhões de anos, o meio ambiente proporciona: equilíbrio.