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Benedito Mário Lázaro

Especialista do Setor Florestal

Op-CP-10

Pólos de desenvolvimentos

Clusters são pólos de desenvolvimentos, onde se aglomeram, em um determinado espaço físico, diversos empreendimentos de uma mesma cadeia produtiva, orientada e organizada dentro de uma lógica, para que cada segmento desta cadeia possa produzir, harmoniosamente, e de forma competente e eficiente, componentes ou peças, que darão origem a um determinado produto acabado, pronto para ser exportado ou adquirido pelo consumidor final.

Outra nomenclatura usada para este aglomerado de empresas, com um mesmo propósito - seja o desenvolvimento local ou regional - é o Arranjo Produtivo Local, APL, em que empresas e pessoas trabalham de maneira organizada, inteligente e lógica, para que o desenvolvimento sustentado aconteça em sua plenitude, favorecendo, primeiramente, a comunidade em que estão inseridos.

Cluster ou APL, ou qualquer que seja o nome dado, funciona muito bem em várias partes do mundo, com resultados fantásticos. A lógica é interessante: as empresas e pessoas inseridas no processo de produção trabalham com o fruto de sua expertise. Com isso, a produção, no contexto global, é maior e de melhor qualidade, gerando e circulando a renda, principalmente, dentro do alcance do arranjo, “irrigando” e beneficiando o complexo como um todo.

As vantagens comparativas desses mecanismos de indução ao desenvolvimento são inúmeras. Cada elo desta cadeia produtiva tem que estar organizado nas suas tarefas, na produção de cada componente necessário para a formação do produto final, passando a gerar novos postos de trabalhos em seu entorno, simplesmente pelo efeito multiplicador da circulação de capital.

Outras vantagens podem ser relacionadas, como o acesso ao crédito conjunto; absorção de tecnologia por várias empresas, com reflexo no desempenho do trabalho; compra de insumos, que pode ser feita em conjunto, ganhando em escala e reduzindo custos; transporte e logística melhor aproveitados pelas empresas, além da conquista do mercado, uma vez que este pode ser planejado, em função da produção.

Muitos podem estar pensando que com a implantação de um Arranjo Produtivo Local, e a massificação desses conceitos, tudo estaria resolvido. Talvez sim, mas, para que esses conceitos sejam internalizados na comunidade, é necessário um enorme esforço de todos, com o engajamento e o comprometimento das instituições pertencentes à comunidade.

É preciso ainda, lideranças positivas, foco no desenvolvimento, independentemente de posições político-partidárias. O ser humano deve ser a principal razão, para o qual o desenvolvimento deve acontecer. O fator cultural predominante na sociedade em questão é fundamental, para o tempo de maturação e consolidação do Arranjo Produtivo Local.

Atualmente, temos visto pessoas com dificuldades em cooperar. É difícil o comprometimento genuíno, a entrega verdadeira pela causa. É comum verificarmos, primeiro, a satisfação do próprio ego. Para que o APL ou cluster funcione de maneira adequada, há necessidade de profissionalização, qualificação, tecnologia, conhecimento, em cada segmento de cada elo da cadeia produtiva, proporcionando um sincronismo entre as relações de tal forma, que se visualize uma só empresa neste complexo, cuja eficiência e organização possam ser as molas propulsoras dos negócios.

Sem dúvida nenhuma, o verbo a ser conjugado e praticado neste processo é “cooperar”. Sem cooperação fica difícil prosperar o conceito e a internalização dentro da sociedade, que se beneficiará dos resultados do APL. A necessidade de verbalizar e a prática da ação deste verbo fazem da atitude de um simples comerciante da farmácia ou da borracharia da esquina - e de tanto outros prestadores de serviços - entenderem seu relevante papel dentro do processo contínuo e evolutivo do desenvolvimento local.

No estado de Mato Grosso do Sul existem alguns APLs em andamento, que estão em diferentes fases de sua consolidação. Todos, no entanto, têm a mão do Sebrae/MS, que possui ampla expertise neste assunto, e tem ajudado muitas comunidades a se organizarem, mesmo que a longo prazo. O grande desafio é o APL de Silvicultura, Madeira e Móveis, abrangendo um território denominado eixo Campo Grande-Três Lagoas, onde, em um passado recente, havia uma das maiores áreas de florestas plantadas de pínus e eucalipto do país.

Hoje, se busca retomar esse maciço florestal, proporcionando aos produtores rurais alternativas de renda, com a introdução e até mesmo consórcio de atividades, como, por exemplo, o que acontece no sistema silvipastoril. O estado tem vantagens comparativas. A situação fundiária é bem interessante, facilitando a gestão e até mesmo o raio econômico do negócio; preços de terras compatíveis; clima e produtividade favoráveis ao desenvolvimento do eucalipto.

Sabe-se, porém, da prioridade em ajustar a logística para melhorar ainda mais a competitividade dos produtos e empresas sul-mato-grossenses. Mato Grosso do Sul vem trabalhando com muito esforço, para diversificar sua base econômica e recuperar as áreas degradadas existentes. A atenção concentra-se neste eixo, onde se pretende consolidar o APL e, em breve, um novo pólo de desenvolvimento, atraindo, inclusive, empresas do setor moveleiro.

A Reflore-MS, tem sido uma grande aliada neste processo de consolidação do APL Madeira e Móveis. O processo de construção de um Arranjo Produtivo Local é complexo, longo, custoso, mas, sem sombra de dúvidas, compensador, ao se verificar o crescimento sociocultural da comunidade, onde a dignidade humana é valorizada, a distribuição de renda acontece de maneira mais justa, o conhecimento é socializado e oportunizado, a auto-estima conquista a dignidade e os sonhos são traduzidos em qualidade de vida. Isto tudo chega a beirar à utopia, mas é possível.