A busca por novas estratégias para a conservação ambiental tem sido tratada e discutida em todo o mundo. Nesse contexto, os corredores ecológicos estão, cada vez mais, despontando como alternativa viável para a manutenção da biodiversidade.
A premissa dos corredores é reunir as áreas que separam fragmentos florestais ou Unidades de Conservação, considerando o uso do solo no planejamento das paisagens. Eficazes, os corredores são criados com base em estudos sobre o deslocamento de espécies e a distribuição de suas populações. A partir das informações obtidas, eles são orientados, visando direcionar a fauna, minimizando,
assim, os impactos ambientais das atividades humanas.
Como exemplo, podemos citar a região de atuação da Veracel, no sul da Bahia, onde os maiores remanescentes de vegetação estão localizados, predominantemente, nas áreas com menor potencial agrícola, seja pelo tipo de solo ou pelo terreno inadequado para fins agropecuários. Com isso, houve uma fragmentação da vegetação nativa da região, algo que afetou diretamente a rica biodiversidade local. Acredita-se que, em alguns casos, o reflexo dessa fragmentação pode ter sido a extinção de diversas espécies.
O processo de restauração florestal é muito importante para a união das áreas remanescentes. Ao religar essas áreas, a formação de florestas permite o restabelecimento da conectividade, propiciando o fluxo da fauna e da flora por meio desses corredores e, consequentemente, também, incrementará a variabilidade genética das espécies, auxiliando em sua perpetuação no espaço e no tempo.
Porém, para ampliar o sucesso do processo, a implementação de corredores precisa ser acompanhada de outras estratégias de conservação, como os monitoramentos de fauna e flora, de forma que aquela restauração possa ser realmente efetiva e ampliada ao longo dos anos.
Um exemplo da implementação de corredores com outras estratégias é o Programa de Restauração da Veracel, que foi criado em 1994, e já restaurou mais de 8 mil hectares. Seu objetivo é restaurar áreas de propriedade da empresa, formando corredores ecológicos e conservando matas ciliares, nascentes e solo.
Além disso, o Programa propicia a conservação ambiental e a ecologia de paisagem local, uma ferramenta valiosa para entender as questões relacionadas à conservação da biodiversidade, ao manejo de recursos naturais e ao planejamento do uso da terra. Isso permite que a empresa tenha insights importantes para a tomada de decisões sustentáveis.
Atualmente, a meta da companhia é restaurar 400 hectares de áreas de Preservação Permanente (APP), de Reserva Legal (RL) e de áreas de Proteção Adicional (APAD). As APADs não são usadas para o plantio de eucalipto devido às determinadas características que restringem a operação, como uma declividade da área. Ainda assim, não são áreas que devem ser destinadas à obrigação legal de reflorestamento.
A empresa usa diferentes metodologias de restauração e, mais recentemente, adotou técnicas de nucleação, uma estratégia que possibilita o aumento da biodiversidade local ao obedecer aos estágios naturais da sucessão ecológica de uma floresta nativa. Isto é, em vez de plantarmos árvores em toda a área de uma vez, começamos em alguns lugares estratégicos e permitimos que a floresta se espalhe naturalmente.
Essa metodologia permite plantar 5, 9 ou 13 espécies com distanciamentos preestabelecidos dentro dos núcleos e entre os núcleos. À medida que as árvores crescem nesses pontos de nucleação, suas sementes se espalham naturalmente para outras áreas ao redor, e mais árvores começam a crescer. Isso cria gradualmente uma floresta.
Outra estratégia implementada pela Veracel foi um sistema de avaliação da qualidade da restauração. Esse ponto contribui para a melhoria do processo, ao aplicar indicadores de manejo do eucalipto nas operações de restauração ecológica e, sobretudo, nos monitoramentos e na gestão da qualidade das operações da empresa. Alguns indicadores (índice de sobrevivência, índice de diversidade, índice de crescimento, etc.) são fundamentais para medir a eficácia da restauração e atuar no tempo certo para a correção de possíveis desvios, aumentando o sucesso e eficiência do processo.
Ainda no caso do eucalipto, o plantio em mosaico colabora para a conservação ambiental, pois a plantação também funciona como um corredor, mesmo que temporário, para que as espécies se desloquem de um fragmento florestal para outro.
Para o sucesso dessa iniciativa, é importante realizar a colheita da madeira também em mosaico, uma vez que não se deve deixar uma extensa área sem cobertura vegetal para não causar o isolamento das espécies durante o período de plantio e de crescimento de novas árvores. Na Veracel, não cortamos mais que 500 hectares de eucalipto de maneira contínua, para podermos sempre manter esses corredores temporários.
Outro ponto importante a se considerar é o controle de químicos na restauração, um fator que gera muita discussão. Muitas áreas estão inseridas em pastagens, onde a resiliência é baixa, e o enfrentamento da competição com as gramíneas é determinante para a sobrevivência e o crescimento das mudas, assim como, para a regeneração natural de espécies arbustivas e arbóreas nativas. Por se tratar de áreas destinadas à conservação ambiental, tem-se questionado o uso de herbicida e formicida nos processos, principalmente, em áreas de APP e RL.
Existem inúmeros produtos seguros utilizados na silvicultura de eucalipto, mas ainda faltam estudos sobre a efetividade em plantios de espécies nativas e falta a aceitação pelos órgãos ambientais.
A legislação é muito restritiva, e os produtos utilizados nem sempre atendem aos quesitos de plantios de diferentes espécies nativas. Por outro lado, não utilizar herbicidas, além de menos eficiente, torna a restauração extremamente cara, visto que o controle de ervas daninhas tem de ser feito de forma manual (roçada) e, muitas vezes, mais de uma vez, devido à rebrota das ervas daninhas, sendo menos eficaz do que no caso do herbicida.
Pensando em uma solução, em 2022, a Veracel realizou um experimento com uso de uma bioisca, uma alternativa ecológica e natural, em substituição aos formicidas químicos. O resultado foi bastante promissor e, agora, em 2023, estamos ampliando o uso para a verificação de sua eficácia na utilização em larga escala. No processo, alguns desafios foram identificados, como conseguir fornecedores que atendessem à demanda necessária do produto para atingirmos a meta anual do programa de restauração.
Como ainda estamos em fase de testes, pretendemos usar nossos espaços de relacionamento para a alternativa ser mais estudada pelo setor florestal na restauração de fragmentos, de modo que a produção dessas bioiscas possam ser ampliadas.
Mesmo com essas novas técnicas, ainda há uma grande margem para a evolução na gestão dos processos de restauração ecológica, sobretudo, na estruturação de indicadores operacionais e de qualidade na adoção de novas práticas de manejo. Há também oportunidades para a utilização de novos insumos sustentáveis e ecologicamente recomendados, entre outros possíveis pontos de melhora.
Apesar de o processo de restauração ter se iniciado na década de 1940 com o primeiro Código Florestal, apenas nos últimos 30 anos passamos a ouvir mais sobre esses métodos. Ainda assim, percebemos que, como sociedade, seguimos engatinhando e aprendendo com os erros e acertos.
Quando falamos de restauração, é certo que não existe um protocolo ou uma receita de bolo que pode ser amplamente utilizada, tendo em vista que cada área é única, e todos os fatores ambientais precisam ser considerados, como índices de precipitação, tipos de solo, proximidade com os fragmentos, o bioma em que a área está inserida, dentre outras características.
Além disso, somente os estudos fenológicos das espécies nativas, isto é, o estudo das diferentes fases de crescimento das plantas, tanto vegetativas quanto reprodutivas, não são suficientes para nortear a definição de espécies nativas, nas questões de adaptação, floração, dispersão de sementes etc. É necessário ir além e trazer cada vez mais novas estratégias que ampliem o nosso conhecimento e a efetividade de nossas ações.
Outro pronto que vale ressaltar é que a onda da restauração está somente começando. O crédito de carbono é uma opção que está vindo com muita força, incentivando produtores rurais a restaurar áreas de sua propriedade e a lucrar com os créditos gerados.
Seria a consolidação prática do tão falado Pagamento por Serviço Ambiental (PSA), um conceito que envolve recompensar financeiramente indivíduos, comunidades ou organizações que desempenham um papel ativo na preservação e na melhoria dos serviços ecossistêmicos. A regulamentação do mercado de carbono abrirá portas para ampliação da restauração no Brasil.
Com base nesses dados, podemos concluir que a formação de corredores ecológicos e as inovações nas estratégias de restauração florestal desempenham um papel crucial para a conservação ambiental, unidos, possuem imenso potencial para o processo de restauração ecológica e a preservação da biodiversidade, algo essencial para o nosso futuro e com papel fundamental na mitigação das mudanças climáticas.
O processo de restauração é contínuo e, apesar de a Veracel e outras empresas do setor florestal estarem na vanguarda de muitas dessas tendências, precisamos continuar dispostos a aprender, a inovar e a contribuir para a construção de um futuro mais verde.