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Mônica Cabello de Brito

Diretora da Casa da Floresta Assessoria Ambiental

Op-CP-28

Monitoramento da fauna e flora

Monitorar fauna e flora em fragmentos de vegetação nativa, inseridas em mosaicos com florestas plantadas, é hoje uma realidade na maioria das empresas do setor florestal no Brasil. Muitas, pela simples exigência em razão da certificação florestal, enquanto outras vão além, buscando compreender os impactos positivos e negativos gerados pelas operações florestais, num entendimento mais visionário da real necessidade de manutenção da biodiversidade.

O monitoramento de fauna e flora, quando utilizado com o segundo objetivo, responde a diversas questões relacionadas ao manejo florestal do eucalipto, do pinus e de outras culturas, por exemplo: é possível mudar algo no manejo florestal, sem que isso onere os custos, beneficiando a conservação da biodiversidade?

A experiência de 12 anos junto ao setor florestal mostrou-nos que o monitoramento é muito mais do que termos, ao longo dos anos, respostas sobre populações de espécies de fauna e qualidade da vegetação em fragmentos. O monitoramento é, de fato, uma ferramenta de gestão que pode minimizar custos e aperfeiçoar operações florestais, só assim ele tem uma razão de ser.

Para tanto, não basta apenas monitorar uma única espécie da fauna ou ainda a vegetação de forma isolada, pensando que isso trará as respostas que representem as operações florestais. Essas respostas só são possíveis desde que o monitoramento seja feito com um olhar para a complexidade do ambiente, estudado numa análise conjunta entre fauna, flora e aspectos sociais associados.

Um exemplo claro disso é quando encontramos dois fragmentos com uma boa estrutura florestal, e um deles não apresenta a fauna que deveria estar ali. A resposta, muitas vezes, está do “lado de fora”, no entorno, onde há a prática de caça.

Logo, os projetos de conservação dessas matas passam, obrigatoriamente, por um trabalho socioambiental. Dizemos que, para ir à floresta para monitorá-la, é preciso estar munido de vários óculos, que nos deem uma visão sistêmica da situação encontrada. Não basta descrevê-la. É preciso achar soluções viáveis que, ao mesmo tempo, contribuam para a conservação da biodiversidade e não inviabilizem o negócio florestal.

O fracasso na restauração de florestas nativas é outro exemplo claro. Temos visto milhões serem gastos na tentativa de restauração ambiental, sem que haja sucesso na efetividade dessas florestas.

É aí que o monitoramento entra como ferramenta, que possibilita a elaboração de listas de espécies da flora mais apropriadas e melhoras técnicas de restauração, adequando-as a diferentes situações ambientais e a diferentes biomas. Para restaurar um ambiente, não há fórmulas, há peculiaridades que fazem a diferença em cada situação.

Outro aspecto importante é a representatividade das áreas monitoradas em relação às áreas plantadas, que é de fundamental importância. Para isso, hoje há métodos que cruzam informações sobre o meio físico, as fitofisionomias e a biota, para que sejam encontradas diversas situações ambientais, que indicarão as áreas a serem monitoradas.

Por outro lado, o monitoramento pode ir além da empresa, fornecendo instrumentos e argumentos para que o governo possa orientar suas diretrizes e leis relacionadas à conservação da biodiversidade. Vemos absurdos acontecerem, como é o caso da não manutenção do sub-bosque sobre as florestas plantadas, porque, em época de corte, se estiver presente, não se obtém licença em tempo hábil.

O monitoramento já nos mostrou que esse sub-bosque é de grande importância para aumentar a permeabilidade dessas áreas para a fauna. Nesse caso, a resolução só prejudica a conservação da biodiversidade. Sensibilidade e vontade ainda faltam para que haja uma discussão aberta e parceira sobre o assunto.

Muitas vezes, o monitoramento propõe mudanças simples nas operações florestais, favorecendo a conservação da biodiversidade. Para que tais mudanças sejam concretizadas e eficazes, basta que as áreas de planejamento e meio ambiente trabalhem mais próximas, prática que tem caminhado a passos lentos.

Historicamente, o setor de meio ambiente das empresas não fazia parte da tomada de decisão para o planejamento, e é esse paradigma que necessita mudar. Ter as informações sobre conservação da biodiversidade fazendo parte do input da matriz de tomada de decisão para o planejamento operacional tem que ser uma política da empresa e estar nas agendas dos tomadores de decisão.