Assistente Técnico-científico da Diretoria do IPEF
Op-CP-24
Um dos objetivos estratégicos consolidados para o IPEF na década de 2010-2020 é Contribuir para a implantação e manejo das florestas plantadas nas regiões não tradicionais, que inclui zoneamento climático (ênfase ao manejo de água), ampliação dos recursos genéticos e das informações da interação genótipo versus ambiente, adaptação das técnicas silviculturais e incorporação de conhecimentos ecofisiológicos no planejamento.
Essas metas do instituto podem ser interpretadas como adaptações necessárias para as implantações e manutenção da produtividade das novas fronteiras da floresta plantada brasileira. O desafio começa com a definição das metas para as novas fronteiras, que estão em áreas com temperaturas mais elevadas e maiores riscos de estresses hídricos e que podem ser agravados com as mudanças climáticas.
Após a definição das metas, é necessário considerar os conceitos básicos envolvidos. Por exemplo, um conceito ecológico que deve ser utilizado é que plantas com fortes estratégias de sobrevivência aos estresses ambientais são menos produtivas em condições não estressantes.
De modo que será necessário trabalhar de maneira ampla, como fez Edmundo Navarro de Andrade, que estudou diversas áreas da silvicultura. Os trabalhos básicos devem ser feitos para balizar as modificações que poderão ocorrer em todo o sistema produtivo, mas, com o nível da silvicultura brasileira, as adaptações não poderão ser empíricas, e esses trabalhos deverão ser realizados para o entendimento dos processos envolvidos.
A escolha do material, que pode não estar disponível no mercado, é a primeira etapa, a segunda é trabalhar com a base genética, realizando a introdução em local adequado para recombinação e posterior uso do material “adaptado”. No caso das novas fronteiras, existem algumas espécies do gênero Eucalyptus, como o E. brassiana, da seção Exsertaria, ou o E. crebra, da seção Adnataria, ambos do subgênero Symphyomyrtus, que têm potencial de serem trabalhadas como híbridos.
Mas surgem algumas duvidas: Como será o acesso ao material genético recombinado e adaptado? Quais locais devem ser utilizados para recombinação? Como será a propagação seminal e vegetativa desses materiais? Quais os problemas que poderão ocorrer nos plantios? Como será a qualidade da madeira? etc.
Um exemplo dos possíveis problemas é que algumas espécies do gênero, principalmente as da seção Exsertaria, estão sendo apelidadas de “imã de pragas” (psilídeo, minivespa, etc.), pois as pragas têm preferência por esses materiais, que há alguns anos eram os mais indicados para regiões com déficit hídrico.
De modo que é importante conhecer as interações entre material genético versus ambiente versus pragas (atuais e potenciais) para se tomar as decisões. Outro fator importante nessa adaptação às novas fronteiras é o manejo que deverá ser utilizado, pois tem papel fundamental na sobrevivência das plantas em regiões com estresses ambientais.
Uma das práticas importantes do manejo é a fertilização. Alguns estudos têm mostrado que fertilizações pesadas, principalmente com nitrogênio, em períodos pré-estiagem podem contribuir na mortalidade das plantas. Por outro lado, a fertilização na mesma época com potássio contribui para o controle osmótico das plantas durante o período de seca.
Além da interação nutriente versus época do ano, pode ser necessária a mudança no método de aplicação. Como exemplo, a fertilização foliar de micronutrientes não é comum na maioria das plantações em locais tradicionais, mas, em situações de estiagem prolongada, pode ser necessária. A maior dificuldade na adoção de “novas” técnicas é calcular a relação custo-benefício sem conhecer exatamente quais serão as consequências na produtividade.
Na escolha do material e do manejo, é importante incluir também a atenuação dos conflitos, pois poderão ser piores nas novas áreas. Mas, com conhecimento gerado e o adequado uso do zoneamento ecológico e da hidrologia, respeitando os aspectos sociais, teremos maior facilidade no gerenciamento dos conflitos com a chegada dos empreendimentos florestais. Deve ser considerado que as florestas comerciais dependem das pessoas e visam atender não somente às fabricas, mas à sociedade.
Na procura por novas tecnologias, é fundamental trabalhar de forma organizada, para entender e adotar rápida e economicamente as “novidades”. Mas não se pode perder de vista que é um investimento a longo prazo e que os riscos devem ser minimizados. A vantagem das novas fronteiras é que existe conhecimento e muitos especialistas disponíveis, possibilitando adotar uma “silvicultura de exatidão”.