É motivo de destaque o aumento da demanda de mudas clonais de eucalipto nos últimos cinco anos no setor florestal para suportar a expansão dos programas de plantios no território nacional. Esse movimento trouxe um desequilíbrio nunca visto anteriormente entre oferta e demanda, tornando o mercado de mudas complexo e desafiador.
Frente a esse cenário, é necessário ampliar e reinventar a estratégia de abastecimento de mudas em um formato sustentável e competitivo na cadeia florestal. Alguns pilares de atuação destacam-se como bússola. Entre eles, citamos: a constante corrida pela evolução de materiais genéticos produtivos, eficiência operacional em viveiros, alinhado a qualidade de mudas, capacitação/formação de mão de obra para o setor e baixo grau de maturidade do mercado de mudas (fornecedor x cliente).
Uma das principais alavancas relacionada a ganho de produtividade é o fator da alocação clonal, ou seja, a busca de clones aptos para crescimento, com a qualidade e sanidade nas condições de clima e de solo que temos disponíveis para plantio. Para o viveiro, este tem sido um grande desafio, uma vez que é visível a evolução dos programas de melhoramento genético com foco em redução de tempo na disponibilidade de um novo material genético.
Como viveirista, o fator mini jardim clonal é um grande desafio devido ao seu tempo de formação e estabilização para a emissão de brotos com qualidade. As técnicas de propagação hoje existentes em larga escala não serão capazes de acompanhar de forma economicamente viável os programas de melhoramento genético.
Devemos buscar novas formas estruturais e técnicas de manejo de confecção de mini jardins clonais, sejam eles, removíveis, intercambiáveis, hidropônicos entre outros. Esse avanço também nos ajudará a vencer algumas doenças (como por exemplo a Ralstonia sp.) e misturas clonais nos viveiros florestais, fatores que impactam diretamente a produtividade das florestas.
Sobre a ótica de eficiência operacional nos viveiros florestais, temos uma extensa avenida a ser percorrida. Precisamos seguir para o caminho da mecanização e automação, em busca de rastreabilidade de ponta a ponta das mudas do viveiro ao plantio. Esse processo de modernização nos permitirá evoluir significativamente no uso das novas tecnologias na silvicultura.
Outro tema a ser discutido são as fases de produção de mudas dentro do viveiro. Devemos buscar uma operação mais sustentável possível e, nesse sentido, vislumbro que fases como estaqueamento e 1ª seleção estão à frente nesse processo com tecnologia disponível para avançarmos.
Em relação ao tema embalagem de mudas, as biodegradáveis, ganham espaço devido a fatores relacionados a ganho de logística reversa, aumento de produtividade nas frentes de plantio, qualidade e proteção ao meio ambiente.
Aliado aos processos de modernização e uso das tecnologias para aumentar a eficiência, qualidade de mudas e produtividade nos viveiros, também é necessário ter em vista a mão de obra qualificada para o setor. Um dos pilares a ser explorado é a estruturação de programas de formação de profissionais voltado às operações de um viveiro. As opções de melhor retorno tem sido as parcerias com instituições de ensino técnico – como Senai e Institutos Federais, entre outros –, e empresas especializadas, com conteúdo bem estruturado para uma formação inicial. Também se faz necessário fomentar discussões desta natureza com as universidades e institutos de pesquisa e desenvolvimento e com os grandes viveiros produtores de mudas, pois somente com esse formato teremos mão de obra capacitada para produzirmos mudas com qualidade e competitividade estrutural. Esse é o caminho mais seguro para garantirmos a produtividade das florestas.
Como citado no início do artigo, o desequilíbrio entre a oferta e a demanda trouxe à tona os desafios necessários para acompanharmos a evolução no setor florestal e o quão necessária se faz a utilização das novas tecnologias ao processo de produção de mudas. Problemas como a baixa aderência ao físico de mudas, qualidade ruins de mudas, falta de planejamento no viveiro direcionado a assertividade da entrega do material genético, dificuldades com logística de entrega em tempo hábil, pouco ou nenhum domínio de manejo nutricional de viveiros para materiais genéticos específicos demonstram os desafios do mercado de mudas frente a expansão dos programas de plantio no Brasil. Umas das ações para minimizar esses impactos foi a capacitação e apoio técnico com conteúdo personalizado in loco de fornecedores potenciais, porém ainda é muito pouco para sustentabilidade e profissionalização do negócio, quando comparado a outros mercados.
Encerro deixando algumas provocações para todos os apaixonados pelo tema. Entre elas, a de repensar, de forma conjunta, o modelo de produção de mudas no país e em um curto espaço de tempo. Caso esse processo de revisão e readequação de rota não ocorra no setor, enfrentaremos desafios ainda maiores, desde a carência de mão de obra qualificada para sustentar o negócio, bem como a capacidade de acompanhar a evolução genética que o sistema florestal exige. Em contrapartida, a pouca competitividade estrutural e baixa disponibilidade de bons fornecedores serão ingredientes limitantes para o avanço das expansões florestais em um futuro próximo, seja pela falta ou pela baixa qualidade das mudas. A produção de mudas é o coração dos processos silviculturais e necessita urgentemente de uma real parceria dos envolvidos para manter uma sólida evolução.