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Edson Leonardo Martini

Diretor-superintendente da Komatsu

Op-CP-47

Planejamento: uma atividade de lógica simples
Ao me deparar com o convite da Revista Opiniões para discorrer sobre planejamento, fiquei muito satisfeito ao identificar velhos amigos na lista dos articulistas, alguns deles, responsáveis por grandes avanços no planejamento das empresas em que atuavam lá pela metade dos anos 1980. Embora, nos últimos 6 anos, tenha trabalhado como CEO de uma indústria de máquinas florestais, de alguma forma, sempre estive ligado ao planejamento durante os 33 anos da minha carreira de engenheiro florestal e, por isso, talvez, tenha sido convidado para expressar minha opinião sobre este tema.
 
O planejamento é realmente um assunto instigante e imprescindível em qualquer atividade humana. Como se diz, não há vento bom para barco sem rumo. O planejamento é uma tentativa de se prever os acontecimentos, direcionar esforços e evitar surpresas. O planejamento, essencialmente, é uma atividade de lógica simples, que, algumas vezes, requer a aplicação de técnicas com certo nível de complexidade, como a programação linear, dada a quantidade de variáveis com que tem que se lidar ao mesmo tempo. 
 
Limitando a abordagem do tema a seus aspectos mais estratégicos e, é claro, sem a pretensão de esgotar o assunto, vamos tentar listar aqui 10 tópicos que considero mais importantes para se atingir a excelência operacional na colheita florestal. A ordem em que estão apresentados não tem correlação com sua importância.
 
1. Floresta: Success-key para alta produtividade e custo baixo. Sem floresta boa, não há que se pensar em ter custo baixo de colheita. Estamos falando de árvores com volume médio acima de 0,20m³. Ideal entre 0,25 e 0,30m³ por árvore.

2. Estradas: Interferem diretamente na operação e nos custos. Más condições de estradas aumentam o tempo de viagem do pessoal, causam atrasos, dificultam abastecimento, a lubrificação e o acesso dos mecânicos e operadores às máquinas. Em suma, gera ineficiência.
 
3. Definição da sequência de corte: Uma sequência bem definida reduz a necessidade de deslocamento e transporte dos equipamentos, reduz consumo de combustível e desgaste de material rodante nos equipamentos de esteiras. Sobra mais tempo para a produção.
 
4. Distribuição de máquinas no campo: Frentes de corte muito amplas resultam em maior tempo e distância de deslocamento dos equipamentos de apoio, da equipe de manutenção e também dos operadores. Piora muito quando o sistema de comunicação não é bom. Esse é outro fator gerador de ineficiência.
 
5. Equipamentos de apoio: Nesse caso, o ótimo é inimigo do bom, e supostas economias não fazem sentido, pois irão resultar em custos maiores. Subdimensionar esses recursos é um erro terrível. É preciso dimensionar corretamente a frota requerida para a tarefa: comboio, pipa, guindauto, veículos que consigam trafegar nas condições do site para que não sejam destruídos devido à sua inadequação. Outro fator importante: como minimizar as paradas das máquinas sem radiocomunicação? É preciso adivinhar que o equipamento parou, qual foi o problema e que tipo de solução ou recurso deve ser encaminhado.
 
6. Equipamentos de colheita: No mercado, existe uma gama de marcas. Umas melhores e outras nem tanto. Mas qual escolher? Não estamos discutindo especificação, pois esta é mandatária. É preciso lembrar que, ao se escolher determinada marca, estará se estabelecendo uma convivência de, no mínimo, 5 ou 6 anos. Então, sem o dote de um bom pós-venda, não se deve casar com a noiva.
 
7. Logística: Essa é uma das partes mais complicadas. Estamos abordando tudo aquilo que precisa ser movimentado: pessoas, combustíveis e lubrificantes, peças, máquinas, trailers de campo, ferramentas, etc. Cada um desses itens tem suas próprias especificidades e requer planejamento detalhado para que nada dê errado e transforme a operação numa emergência, com suas correrias e improvisações características.
 
8. Manutenção: Nos últimos 15 anos, houve uma evolução significativa nos processos de manutenção. Saímos de um patamar de disponibilidade mecânica de 80% para 90% nos dias atuais, válidos para toda a vida útil dos equipamentos. A performance da manutenção está intimamente ligada a alguns pilares básicos: planejamento, controle de processos, logística de peças, lubrificação, recursos operacionais e qualificação da equipe. Simples assim.
 
9. Qualificação: Tudo que foi abordado até este ponto só terá efeito se o pessoal for qualificado. Estamos falando de operadores que precisam, ao menos, 1 ano de treinamento para atingirem seu potencial de produtividade e mecânicos cuja formação requer, ao menos, 3 anos. Supervisores, técnicos de apoio, técnicos de segurança, instrutores, almoxarifes de campo também requerem formação e experiência. Às vezes, alguns envolvidos são esquecidos.
 
10. Gestão: Não sei se estou ficando ranzinza por causa da experiência ou se estou ficando mais exigente, mas, apesar daquilo que ousei simplificar acima, volta e meia me deparo com situações em que nem o feijão com arroz está sendo feito. E, então, eu me pergunto: como é que pode uma coisa dessas? E a resposta é simples: o problema e a sua solução estão sempre nas pessoas e na comunicação.
 
Considerando o ferramental disponível e a qualificação dos profissionais dessa área, organizar os processos de planejamento nem é uma tarefa tão difícil. Estabelecer as atividades e serviços, as prioridades, os recursos necessários, os rendimentos operacionais e os prazos e suas interdependências constitui tarefa simples hoje em dia. Afinal, qual é a dificuldade de se definir uma sequência de corte, lembrar que é preciso ter estradas transitáveis para transportar diariamente máquinas, pessoas, alimentação, combustíveis, peças e também a madeira? Não vejo dificuldade nisso.
 
O difícil é fazer acontecer. É executar. E não há planejamento que preste se a execução for ruim. Execução é uma disciplina, uma arte, e nem todos são talhados para isso. Exige gerenciamento, comando, relacionamento afinado, comunicação clara e comprometimento. Em outras palavras, os processos precisam ser robustos, mas o sucesso depende integralmente da competência da equipe.
 
Boas equipes anteveem e superam as falhas do planejamento, superam dificuldades decorrentes da imprevisibilidade, atuam com custos competitivos e entregam mais. Mas, para chegar lá, é preciso mudar comportamento, e isso nunca é rápido. Um amigo me disse uma vez que, para fazer isso, é preciso 1 milhão de homens-hora. E 1 milhão de homens trabalhando ao mesmo tempo, por uma hora, não resolve. Então, é preciso paciência e persistência. E, com isso em mente, prosseguimos confiantes de que é possível fazer mais, melhor e com menor custo. Não há outro caminho nem atalhos.