Gerente de Sanidade e Proteção Florestal, e Entomologista da Suzano, respectivamente
Os plantios de eucalipto são frequentemente atacados por pragas, doenças e plantas daninhas, que representam uma ameaça significativa à sanidade e produtividade das árvores. As pragas podem comprometer o crescimento saudável das plantações e até mesmo levar à sua perda parcial ou total.
Dentre as várias pragas que afetam os plantios de eucalipto, as formigas cortadeiras destacam-se como a mais prejudicial e desafiadora de se manejar. As formigas cortadeiras, pertencentes aos gêneros Acromyrmex e Atta, são consideradas as principais pragas dos plantios de eucalipto no Brasil. Essas formigas vivem socialmente em colônias altamente organizadas, compostas por milhares de indivíduos, e possuem um sistema de comunicação eficiente que as torna capazes de se mobilizar rapidamente em busca de alimento.
Os danos das formigas são significativos às plantações de eucalipto, e podem ser observados através do corte das folhas das árvores. Essas folhas são levadas para dentro dos ninhos subterrâneos, onde são utilizadas para cultivar um fungo que serve de alimento para a colônia. O corte frequente das folhas compromete o crescimento saudável das árvores, reduzindo sua capacidade de fotossíntese e resultando em perdas na produtividade.
Uma pesquisa conduzida pela Suzano na Bahia revelou que áreas com infestação de formigas cortadeiras com 1.434 m² de terra solta por hectare tiveram reduções estimadas de 40 a 60% no volume florestal. Em casos graves, os ataques sucessivos dessa praga podem levar à morte das árvores, resultando em prejuízos econômicos significativos. A severidade do ataque é maior em plantios mais novos, porém a praga pode provocar a morte em qualquer idade.
O manejo integrado de pragas é uma abordagem que visa a controlar as populações de formigas cortadeiras de forma eficaz e sustentável, usando racionalmente as técnicas de controle disponíveis. A detecção e o monitoramento regular das populações de formigas cortadeiras é fundamental para avaliar a gravidade do problema e orientar as estratégias de controle. Isso pode ser feito por meio de inspeções visuais nos plantios, identificando os ninhos e observando os padrões de atividade das formigas.
No monitoramento das formigas cortadeiras, seja por amostragem direta ou indireta, o tamanho do formigueiro é estimado em metros quadrados. Isso permite calcular a área ocupada pelo formigueiro, expressa em "m² de terra solta" dentro da área amostrada em hectares.
A incidência (quantidade) e a severidade (tamanho dos formigueiros) são informações essenciais para o monitoramento da praga.
A área é estimada medindo-se o ninho em seus dois maiores sentidos opostos, considerando-se como parte do mesmo ninho os montes de terra solta que estejam até 2 metros (2 passos) um do outro.
Para realizar o levantamento da área do formigueiro (m² de terra solta), são programados de um a dois levantamentos anuais, com intervalos de 6 meses. A rastreabilidade do levantamento gera a confiabilidade de que realmente a pessoa foi até o campo e realizou o transecto.
Dados de experimentos da Suzano e consolidados da academia são utilizados para eventualmente corrigir o tamanho dos ninhos estimando-se seu crescimento futuro. Todas as informações coletadas na Suzano são disponibilizadas em painéis de gestão à vista dos dados, contendo o planejamento do monitoramento (concluído, descartado, pendente e cancelado), resultados do monitoramento e métodos de controle recomendados, bem como o histórico detalhado de infestação (média m²/ha de terra solta de formigueiro, número de formigueiros de saúva e quenquém por hectare, espécie predominante, distribuição da infestação e intensidade de danos).
A partir do monitoramento temos a tomada de decisão que considera a infestação da área, tamanho do maior ninho de formigas cortadeiras, localização do ataque (borda ou internamente) e atividade dos formigueiros. Essas informações são essenciais para indicar se está, ou não na época ideal de combate. O alerta operacional deve ser constante para evitar perdas produtivas, principalmente em plantios novos.
Independente da forma de monitoramento, o combate deve ocorrer se a infestação atingir o nível de controle que pode ser ajustado conforme o ambiente, potencial de produtividade, dentre os detalhes. Na Suzano adota-se atualmente o nível de controle de 10 m² de terra solta/ha ou tamanho do maior ninho: caso seja detectado um formigueiro com 10 m² de terra solta, o controle será recomendado devido ao seu rápido crescimento após esta fase e capacidade de provocar danos.
Dentre as técnicas de controle das formigas cortadeiras, cada uma com suas vantagens e limitações, temos as iscas formicidas, controle mais utilizado que consiste em atrativos de polpa cítrica com inseticidas para as formigas, podendo ser aplicado de forma manual ou mecanizada. O combate líquido envolve a aplicação direta de inseticidas com jato dirigido ao solo, e uso somente após a dessecação da área, sem a presença de flores de nenhuma planta (eucalipto e matocompetição).
O termonebulizador, equipamento que produz uma névoa fina de inseticida, permite a aplicação com controle eficaz em ninhos grandes de difícil controle, porém tem difícil operacionalização quando comparado com a isca e o líquido. O pó formicida também pode ser utilizado via polvilhamento dos ninhos, porém a técnica apresenta eficiência somente para ninhos pequenos (<1 m²).
Testes com iscas e produtos alternativos não se mostraram eficazes até o momento, embora na literatura existam diversos estudos em condições de laboratório, em campo a situação é bem diferente. É importante ressaltar que o uso dessas técnicas deve ser realizado com precaução, seguindo-se as recomendações dos fabricantes dos produtos e respeitando-se as normas. Além disso, é fundamental adotar práticas de manejo integrado que contribuam para a prevenção e o controle das formigas cortadeiras a longo prazo, visando a garantir a sustentabilidade dos plantios de eucalipto e a preservação do meio ambiente.
Formiga cortadeira é um inseto complexo. O crescimento e expansão do setor florestal no Brasil possui uma dependência de controle da praga, pois ela limita o plantio, o estabelecimento e a produtividade. Diversos pesquisadores Brasileiros, com destaque a Prof. Terezinha Della Lucia da UF-Viçosa, Prof. Ronald Zanetti da UF-Lavras, Prof. Luis Carlos Forti da Unesp de Botucatu, Prof. Odair Correa Bueno da Unesp de Rio Claro, Prof. Carlos Wilcken da Unesp de Botucatu e Prof. José Cola Zanuncio da UFV, já trabalharam e/ou trabalham muito com suas equipes para entender e desenvolver formas de controle da praga, porém o manejo é totalmente dependente do controle químico.
Não há, até a atualidade, uma nova técnica disponível e validada no país para uso em grande escala que controle a praga. Porém, conforme mencionado, o monitoramento nos permite adotar diferentes técnicas no momento correto, de maneira eficaz e somente nos locais do plantio onde a praga atingiu o nível de controle.