Me chame no WhatsApp Agora!

José Mario de Aguiar Ferreira

Gerente Florestal da RMS do Brasil

Op-CP-60

O que será do VPL?
O valor presente líquido (VPL), ou valor atual líquido, é a fórmula econômico-financeira capaz de determinar o valor presente de pagamentos futuros descontados a uma taxa de juros apropriada, menos o custo do investimento inicial. Traduzindo grosseiramente, é a soma de todo o dinheiro que esperamos ganhar durante o tempo do investimento, menos o que esperamos gastar ou investir, descontado a uma taxa aproximada da que esperamos ter como rentabilidade do investimento. 
 
É amplamente usado em análise financeira de projetos e investimentos florestais, pois resume, em um só número, as expectativas futuras de ganhos, investimentos, despesas e rentabilidade. Penso que estávamos relativamente confortáveis com o cálculo do VPL até agora, pois tínhamos a maioria das premissas bem consolidadas e conhecidas.

Mas e agora, depois de uma pandemia mundial e uma crise sem precedentes? O que será do VPL? Não sou economista e nem tenho a pretensão de que este artigo seja interpretado como uma análise econômica apurada ou uma recomendação de investimento. Somente expresso a minha opinião sobre o tema. Voltando ao assunto, então.

Entendo que a parte do “dinheiro que esperamos ganhar” do VPL não será dramaticamente impactada no longo prazo. Não vejo esta crise causando mudanças dramáticas nas tendências de consumo de produtos de base florestal e, consequentemente, não acho que teremos que mudar drasticamente as nossas expectativas de receitas de longo prazo, nem para menos, nem para mais. 
 
Historicamente, nossa indústria de base florestal tem a excelente característica de conseguir aproveitar agilmente as mudanças dos ventos nos mercados interno e externo. Isso ajuda a diminuir um pouco os constantes impactos das crises e variações cambiais. Logicamente, o cenário no curto prazo é extremamente incerto, mas, no longo prazo, penso que os preços e as produtividades continuarão em sua trajetória já conhecida. 
 
Temos, sim, uma grande responsabilidade de agregar valor ao investimento florestal, através da aceleração da implementação e/ou ampliação das diversas iniciativas mais promissoras, como pagamentos por serviços ambientais, Cotas de Reserva Ambiental, mercado de carbono, etc. Porém é difícil prometer ganhos futuros significativos por enquanto.

Alguns economistas pregam que a pandemia provocará uma mudança no comportamento das pessoas, e, devido aos traumas provocados pela necessidade do isolamento social, haverá uma diminuição da quantidade média de moradores por residência. Consequentemente, isso acarretará um aumento da demanda por construção de residências para famílias únicas.

Penso que o raciocínio faz sentido, mas somente para países mais desenvolvidos. O tempo nos dirá. Quanto ao “dinheiro que esperamos gastar ou investir” nesse cálculo do VPL, acho que também será pouco impactado no longo prazo. Barreiras legais, políticas ou institucionais que causam desequilíbrio econômico serão, cedo ou tarde, derrubadas – nossas associações estão cada vez mais atentas e atuantes.

E, assim, acredito que continuaremos a nossa trajetória de adoção de novas tecnologias, otimização da mão de obra e redução dos custos. Os desafios de se gastar mais ou menos continuarão os mesmos, e precisaremos, cada vez mais, da ajuda de boa pesquisa e boas instituições de pesquisa para nos orientar.

Tecnologias como drones para sensoriamento remoto, para inventário florestal e até mesmo para operações silviculturais (vídeo) são relativamente fáceis de serem avaliadas e implementadas. Mas e os investimentos de longo prazo? Quanto vale, por exemplo, um ativo florestal que tenha um bom programa de pesquisa e desenvolvimento e uma boa rede experimental?

Certamente, vale mais do que um ativo que não tenha nada disso. Mas quanto mais? Essa precificação mais exata do potencial de geração de valor pela pesquisa e desenvolvimento será muito importante para conseguirmos comunicar efetivamente o valor dos investimentos nessas áreas.
 
A pandemia está, certamente, mudando as relações de trabalho e, talvez, produza ganhos de produtividade futuros, com o aumento da popularidade das reuniões virtuais e do trabalho remoto. Porém penso que, por enquanto, são poucas as pessoas, no Brasil, que podem investir em uma estrutura mínima de trabalho em casa, e serão poucas as empresas que poderão investir na tecnologia e segurança necessários para o perfeito funcionamento do sistema remoto.
 
Entendo que a grande mudança virá da tal taxa de desconto utilizada no VPL. Essa taxa pode ser também interpretada como a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) e reflete o custo mínimo médio do capital a ser empregado, ou o mínimo de rentabilidade média aceita pelo investidor durante o período do investimento.

A crise e a nova política econômica provocaram uma mudança drástica no cenário econômico do Brasil. As menores taxas de juros da história recente e as incertezas com o futuro dos títulos públicos estão provocando uma fuga da renda fixa e uma maior procura pela diversificação da carteira através da aquisição de ativos reais.

Tudo indica (e torço para isso) que os tempos de juros altos e dólar baixo, mantidos a um alto custo pelo País, estão chegando ao fim, conforme demonstra a imagem em destaque. E é nesse contexto que penso que está a grande oportunidade para a expansão do investimento florestal no Brasil. 
 
As taxas mínimas de atratividade dos investimentos no mercado financeiro finalmente chegaram aos patamares que os investimentos florestais conseguem também entregar, e acho que eles começarão a ser excelentes alternativas de diversificação de carteiras. Penso que a nossa grande missão, agora, será a de divulgar para os investidores brasileiros as características do investimento florestal, muitas vezes desconhecidas, e tentar atrair cada vez mais o interesse.
 

Enfim, penso que as receitas e despesas dos investimentos florestais não sofrerão grandes alterações em sua trajetória de longo prazo, em consequência da pandemia. Continuaremos com os nossos esforços de agregação de valor, desenvolvimento tecnológico e redução de custos.

Acho, sim, que a crise e a nova política econômica brasileira podem ter criado um ambiente propício para o aumento do investimento florestal no Brasil por instituições brasileiras. No curto prazo, e em meio a esta crise sem precedentes, entendo que o papel do Estado é importante.

Porém, no longo prazo, precisamos lutar para que as bases econômicas do Brasil continuem a evoluir para uma economia de livre mercado e com pouca interferência do Estado. O Brasil tem a vocação para a atividade florestal e, consequentemente, para o investimento florestal. Precisamos expandi-los cada vez mais.