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Júlio César Tôrres Ribeiro

Diretor Industrial e Florestal da Cenibra

OpCP73

Planejamento orçamentário e seus reflexos
“As florestas são as verdadeiras fábricas de celulose.” Não me lembro quando escutei esta frase pela primeira vez, mas foi impactante e, desde então, meu olhar para a formação florestal nunca mais foi o mesmo. Em uma analogia com a unidade industrial, também precisamos de atuar em vários momentos do processo florestal, quer seja de maneira preventiva, preditiva, planejada ou corretiva, para garantir elevada produtividade e qualidade da madeira. A não atuação nos momentos adequados terá como consequência perdas de produção de madeira.

O orçamento florestal inicia-se com a definição dos melhores clones, ou mais adaptados, às regiões de interesse. Seguem-se as prescrições técnicas com as recomendações de sequência de atividades de plantio ou reforma, manejo e manutenção ao longo do ciclo. Estas atividades estão intrinsecamente ligadas ao planejamento orçamentário e à habilidade de se gerir recursos de forma eficaz. Nesse contexto, o orçamento para a formação florestal desempenha um papel crucial na otimização dos resultados da produção de madeira e celulose, assegurando a rentabilidade e a sustentabilidade da empresa em um mercado cada vez mais competitivo.

O planejamento orçamentário, e sua correta execução, permite à empresa ter mais previsibilidade sobre quanto, quando e como serão alocados os recursos para o manejo das florestas. A quantificação correta desses recursos e a sincronização das operações é primordial para a formação de florestas produtivas e consequente redução do custo da madeira.

A máxima de "reduzir gastos a qualquer custo" demanda uma abordagem cuidadosa e uma análise crítica em qualquer contexto. Normalmente está atrelada a decisões somente de curto prazo que podem resultar em consequências adversas a médio e longo prazo de grande magnitude.

O momento correto das práticas de manejo, como controle de plantas daninhas, combate à formiga e adubação, influencia diretamente na disponibilidade de recursos para as plantas. Quando realizadas no momento errado, ou não executadas, levam a perdas significativas de produção de madeira.

Como exemplo, citam-se experimentos práticos conduzidos na Cenibra e em outras empresas que demonstram perdas de produtividade de mais de 40% do IMA se o controle de plantas daninhas em plantios de eucalipto não for realizado da forma e momento adequado, tornando um fator crítico e sem controle.

A decisão de permitir que florestas sofram com a competição severa de plantas daninhas a partir de determinada idade do plantio para reduzir gastos não é incomum nas empresas. Implementar técnicas de controle de plantas daninhas no momento adequado minimiza a competição por nutrientes e água, permitindo que as árvores alcancem seu potencial máximo de crescimento. É essencial para a empresa conhecer e quantificar as perdas de produção de madeira geradas pela infestação de plantas daninhas.

A alocação de recursos adequados em orçamento para destinar ao controle de formigas cortadeiras também é essencial para se alcançar produtividades próximas ao potencial atingível de cada área. As formigas-cortadeiras são as pragas mais relevantes em florestas plantadas no país por impactarem no desenvolvimento e na sobrevivência delas, acarretando perda significativa de madeira e, consequentemente, financeira para a empresa.
 
A adubação também é outro componente chave que merece atenção no planejamento orçamentário. Manter nutrição equilibrada dos plantios de eucalipto é essencial para maximizar o crescimento e, por conseguinte, a produção de madeira. Investir em fertilizantes de alta qualidade e tecnologias precisas de aplicação pode resultar em ganhos significativos de produtividade. A alocação de recursos para este fim deve ser estimada com base em análises detalhadas das condições de fertilidade dos solos e das necessidades nutricionais da floresta.

Contudo, durante todo esse processo, a conservação do solo e água não podem ser negligenciadas. A adoção de práticas que previnam a erosão e permitam a infiltração da água, como a subsolagem, uso de práticas que mantenham a cobertura do solo e a preservação e manutenção de áreas com vegetação natural, é fundamental para garantir a sustentabilidade da plantação de eucalipto a longo prazo.

O planejamento orçamentário deve designar recursos específicos para a implementação dessas práticas, uma vez que a degradação do solo pode comprometer não apenas a produtividade presente, mas também as futuras rotações.

Outro exemplo concreto é a decisão de se adotar a prática da talhadia sem uma análise técnica e de parâmetros de qualidade adequada. Embora a implementação desse manejo possa oferecer uma economia financeira de 25% nos custos de formação da floresta, é essencial examinar cuidadosamente o equilíbrio entre essa economia e a possível perda de produção de madeira, estimada em até 10% se realizada de maneira correta. Se a decisão de condução da talhadia não está baseada nas melhores práticas, a perda de produtividade pode chegar a mais de 30%. Neste caso não se obteve nenhum benefício financeiro no médio/longo prazo, ao contrário, tem-se um déficit de volume de madeira.

Um aspecto importante na gestão de custos é a adoção de tecnologias modernas e sustentáveis para aumentar a eficiência operacional e reduzir os custos de produção. Neste contexto, a evolução da mecanização na silvicultura em muito pode contribuir no curto/médio prazo. Além disso, é fundamental investir em treinamento e capacitação dos funcionários para que possam desempenhar suas funções com excelência.

Percebe-se que o orçamento para formação da floresta deve ser tratado como investimento, e não como gasto. Para tanto, o uso de tecnologias de monitoramento e modelagem contribui para alocação eficiente dos recursos durante todo o ciclo de crescimento e para que decisões sejam tomadas a fim de evitar a subutilização desse investimento. É fundamental acompanhar regularmente resultados alcançados em relação ao planejamento inicial. Isso permite fazer ajustes quando necessário e tomar decisões ágeis e acertadas ao longo do processo de formação da floresta.

Ao tomar decisões relacionadas à redução de despesas no orçamento, é crucial considerar minuciosamente os impactos tanto positivos quanto negativos que essas decisões podem acarretar. A abordagem de "reduzir gastos" deve ser substituída por uma análise rigorosa e ponderada dos impactos financeiros e operacionais de quaisquer decisões de redução de gastos na execução orçamentária. Isso garantirá que as decisões tomadas sejam sustentáveis e não comprometam a produtividade e a viabilidade da empresa no futuro.

Em síntese, o planejamento orçamentário desempenha um papel fundamental na gestão eficiente de uma plantação de eucalipto e na produção de celulose, garantindo a alocação adequada de recursos de forma a maximizar a rentabilidade, promover a sustentabilidade e manter a competitividade no mercado.