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Ilsi Iob Boldrini

Professora do Departamento de Botânica da UF-RGS

Op-CP-07

Campos sulinos

No Brasil, os campos sulinos representam 13.656 milhões de hectares. Os campos de Paraná, Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul compõem o bioma Mata Atlântica e são considerados como “encraves” no domínio da floresta com Araucaria angustifolia, conhecido popularmente como pinheiro-brasileiro.

Em levantamento realizado recentemente, sob o patrocínio do Ministério de Meio Ambiente, foram arroladas 1.082 espécies vegetais campestres, 6 espécies novas para a ciência, 95 endêmicas e 35 ameaçadas de extinção; 218 espécies de aves, das quais 70 estão ameaçadas; 82 espécies de peixes, sendo 13 espécies novas e 15 de elevado endemismo.
Estes números revelam uma alta riqueza, além de muitas espécies exclusivas e outras que muito rapidamente serão eliminadas da natureza, se não forem protegidas.

É uma região de rara beleza, com campos entremeados nas matas de araucária, com muitos rios de águas límpidas, cachoeiras e canyons de grande potencial turístico, que tem sido explorada em reportagens jornalísticas e televisivas.

No entanto, os plantios de espécies de Pinus, para indústria de celulose e madeira, têm se expandido muito rapidamente e ocupado grandes áreas dos campos, implicando na perda de diversidade biológica e na descaracterização da paisagem da região. Além disso, estes campos de altitude estão situados, na sua grande maioria, sobre solos rasos de origem basáltica, que após cultivos, ficarão completamente desestruturados, pedregosos e estéreis.

O bioma Pampa está representado no Brasil somente na metade sul do estado do Rio Grande do Sul, e esta formação tem continuidade no Uruguai e Argentina. A vegetação campestre é dominante, formando grandes extensões, às vezes, “a perder de vista”, especialmente na região da Campanha.

Em recente trabalho realizado sobre os remanescentes deste bioma, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi constatado que 40% da área mantém cobertura com espécies nativas, sendo que 22% pertence à vegetação campestre, 5% a formações florestais e 13% a mosaico campo/floresta.

Várias áreas deste bioma foram indicadas pelo Ministério do Meio Ambiente como prioritárias para conservação, com base em riqueza de espécies, endemismos e fatores abióticos, bem como no trabalho desenvolvido por Bilenca & Miñarro, onde mencionam a ocorrência de 60 espécies de aves restritas aos “pastizales”. De acordo com o livro vermelho, 22 espécies de aves estão ameaçadas de extinção neste bioma, entre os mamíferos destaca-se o gato-mourisco, o gato-palheiro, o lobo-guará e três espécies de veados.


Cactos endêmicos, de grande beleza ornamental, ocorrem nos campos rupestres, em locais restritos. Várias espécies de gramíneas hibernais, de origem andina, alcançam seu limite mais setentrional, no sul do Estado. Com base nas informações existentes, deduz-se que não há conhecimento suficiente sobre a flora e a fauna campestre, porém sabe-se que a riqueza é muito alta e que muitas espécies correm o risco de extinção, com o desaparecimento dos campos.

Extensas áreas de campo natural estão sendo convertidas em culturas perenes e culturas anuais, como soja, trigo e arroz, com a utilização de dessecantes. Com a introdução das monoculturas de eucaliptos nas regiões de solos frágeis e arenosos, por exemplo, ocorre desestruturação do solo, desencadeando o processo de arenização, conseqüentemente, expandindo a região dos areais.

Além disso, estas monoculturas podem vir a estabelecer o desaparecimento do pampa, como uma grande unidade natural, processo este irreversível. Outro aspecto a ser considerado é que as grandes bacias hidrográficas têm suas nascentes em regiões de campos e no momento em que estas áreas forem transformadas para fins agrícolas e silviculturais, com certeza, ocorrerão grandes alterações no ambiente.

Estima-se que, no Rio Grande do Sul, a conversão de campos em outros usos, tem sido em torno de 140.000 hectares por ano, desde 1970. Há que se respeitar a vocação da região, que é a atividade pastoril, a qual é indissociada da figura do “gaúcho”, das lidas do campo e das atividades tradicionais seculares. Resultados de pesquisas mostram que a produtividade da pecuária pode ser triplicada somente ajustando a carga animal. Isto significa que é possível obter rendimentos econômicos, sustentáveis, mantendo a biodiversidade, que é patrimônio nacional, sem alterar o ambiente, mas, para isto, o reconhecimento e a valorização do que é nosso têm de ocorrer em todos os níveis da população, desde os proprietários da terra, até os tomadores de decisões.