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Gleison dos Santos, Franciele Oliveira e Gustavo Baesso

Diretor Cientifico da SIF, Coordenadora operacional de Fisiologia e Coordenador operacional de Melhoramento, respectivamente

Op-CP-58

Adaptabilidade de eucalyptus à seca
Recentemente, grandes variações climáticas têm sido observadas em todo o mundo, dentre as quais, eventos de seca têm se destacado. Nesse contexto, a alta frequência de escassez hídrica nos últimos cinco anos no Brasil comprometeu grandes áreas de cultivo de Eucalyptus.

Registre-se também que a seleção de genótipos de eucalipto tolerantes à deficiência hídrica tem sido prática recorrente no setor florestal, principalmente devido aos eventos de seca que ocorreram no final de 2014 e no início de 2015, provocando perdas de aproximadamente 150.000 hectares de florestas plantadas somente no estado de Minas Gerais. Tais prejuízos, em particular, chamaram a atenção de diversas empresas florestais pela proporção atingida, servindo como um alerta ao setor. 
 
Em busca de materiais mais tolerantes a condições de limitada disponibilidade hídrica, criou-se o projeto “Tolerância à Seca”, resultado de uma parceria público-privada entre a Sociedade de Investigações Florestais (SIF), a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e 15 grandes empresas do setor florestal brasileiro. 
 
Esse projeto apresenta duas vertentes, sendo a primeira relacionada ao melhoramento genético clássico, através do cruzamento de plantas (hibridação) com característica de interesse econômico das empresas participantes e considerados tolerantes à seca. As plantas resultantes desses cruzamentos estão sendo cultivadas em locais com acentuada deficiência hídrica (Bocaiúva e Buritizeiro, MG, e Inhambupe, BA), a fim de selecionar, no futuro, os clones mais promissores.

Já a segunda vertente está relacionada à Fisiologia & Nutrição, cujo objetivo é identificar bioindicadores de tolerância à seca, bem como os mecanismos adotados por esses materiais com características contrastantes (tolerantes e sensíveis), através de uma abordagem morfológica, anatômica, fisiológica, metabólica nutricional e molecular. 
 
A seca é um estresse multidimensional e afeta diversos processos importantes; no entanto as plantas podem sofrer diversos ajustes de caráter morfológico, fisiológico e metabólico, buscando reduzir os impactos desse estresse. Sendo assim, compreender os impactos da seca no crescimento, no desenvolvimento e na produtividade de plantas, em particular Eucalyptus e Corymbia, é de extrema importância, principalmente para o melhor uso de materiais genéticos com características de tolerância à seca. 
 
Nos primeiros dois anos desse projeto, a principal estratégia usada na identificação dessas características foi investigar os mecanismos adotados pelos diferentes clones de eucalipto previamente selecionados, de acordo com o grau de tolerância ao déficit hídrico em casa de vegetação. 
 
Nesse sentido, três experimentos foram realizados na UFV com o objetivo de gerar o maior número de informações e também selecionar variáveis que permitissem discriminar os genótipos quanto à tolerância à seca. Os resultados mais promissores estão sendo avaliados nas progênies em condições de campo, a fim de validar os possíveis bioindicadores encontrados em casa de vegetação.

Espera-se que as características constitutivas (características intrínsecas) encontradas nos materiais sofram pouca influência do ambiente; entretanto outros aspectos possivelmente apresentarão respostas distintas ao déficit hídrico, devido à interação genótipo x ambiente, através da capacidade das plantas de ajustarem-se a essas condições ambientais, também conhecida como plasticidade fenotípica.

A identificação e a seleção desses caracteres usados como biomarcadores facilitarão a seleção precoce de materiais mais tolerantes à seca, acarretando economia de recursos humano e financeiro, traduzindo-se na maior eficiência de uso do tempo na obtenção de materiais tolerantes a potenciais cenários de seca recorrentes. Dessa forma, entender quais os mecanismos utilizados pelas plantas diante de efeitos climáticos, principalmente deficiência hídrica, permitirá explorar melhor o potencial produtivo desses materiais. 
 
Embora muitos estudos tenham sido realizados para compreender a tolerância à seca, pouco tem sido explorado sobre os possíveis potenciais bioindicadores que podem ser utilizados em casa de vegetação e até mesmo em campo, particularmente para eucalipto.

Portanto identificar esses bioindicadores de tolerância à seca em eucalipto auxiliaria grandemente na seleção precoce em programas de melhoramento genético, através da obtenção de clones tolerantes. Cabe mencionar que o ciclo de rotação para o eucalipto é de sete anos, e, dessa forma, a antecipação da observação de caracteres de tolerância podem minimizar, ou mesmo eliminar, os riscos com perdas decorrentes de extremos climáticos cada vez mais frequentes.

Na parte do projeto relacionada ao melhoramento clássico, foram produzidas, até o momento, mais de 400 famílias híbridas, e plantadas, em campo, mais de 70.000 candidatos a clones, muitos deles formados por até quatro ou cinco diferentes espécies. O fato de o projeto Tolerância à Seca ter mais espécies na formação de alguns dos seus híbridos possibilitará maior potencial de adaptação e estabilidade dos materiais genéticos gerados às variações ambientais que se apresentam nos dias de hoje.
 
Em campo, os materiais genéticos produzidos já apresentam alto potencial de crescimento e tolerância à seca, com várias plantas candidatas a clone, com mais de 5 metros de altura aos 6 meses de idade, sob déficit hídrico. Na foto, um material de híbrido de (E. urophylla x (E. camaldulensis x E. grandis)) x (E. longirostrata).
 
A partir desses resultados promissores, não temos dúvidas de que a iniciativa “tolerância a seca” será um ponto de virada no cultivo de Eucalyptus em áreas de déficit hídrico, possibilitando maior sobrevivência, produtividade e geração de valor para essas regiões, que, geralmente, estão entre as mais necessitadas de desenvolvimento e de emprego no nosso país.