Coordenadora de Sustentabilidade da Stora Enso Florestal RS
Op-CP-21
A provocação para falar sobre sustentabilidade me faz pensar no início da minha carreira profissional. Como psicóloga, fui preparada para tratar de doenças psicossomáticas e, não sei por que combinações de caminhos, talvez puro acaso, fui trabalhar com educação ambiental em uma fábrica de celulose e papel.
No lugar das neuroses e dos transtornos de personalidade, precisava entender o que era importante em um ecossistema, de modo a poder sensibilizar outras pessoas quanto à relevância da biodiversidade, dos riscos da degradação do solo, de nossas interferências sobre a disponibilidade hídrica.
Foi difícil, no princípio, porque era um olhar diferente sobre o contexto em que vivia, mas, quando comecei a correlacionar os fatores envolvidos e sentir-me parte dele, percebi um processo apaixonante, complexo e de grande responsabilidade.
Quando a certificação florestal começou a ganhar força no Brasil, com seus princípios e critérios focados nos alicerces da sustentabilidade – os aspectos sociais, ambientais e econômicos –, um número crescente de profissionais do ramo florestal foi obrigado a pensar sobre essas inter-relações no seu cotidiano. Finalmente se observava, na prática, algum reflexo das discussões tão badaladas pela mídia mundial na época da ECO 92, com holofotes voltados para o tema do desenvolvimento sustentável.
O termo ”sustentabilidade“ passou a ser utilizado em todos os discursos, mas, em geral, de modo descolado de seus reais significados. A palavra hoje é instrumento de marketing, e poucos se detêm a aprofundar-se nos caminhos de sua busca, pois garantia de atingi-la nós não possuímos.
É preciso ter em mente que sustentabilidade é um processo multidisciplinar, em que as nuances sociais – especialmente as culturais –, ambientais e econômicas se fundem.
Devem-se definir ações baseadas em mudança de atitude, que possam se refletir em soluções concretas para assegurar a chance de as futuras gerações desfrutarem de recursos similares aos que estão disponíveis em nosso tempo. Atuar com vistas à sustentabilidade é um constante desafio, é estar no presente com olhos para o futuro, pois nossas ações geram, a todo momento, alterações no ambiente onde vivemos que podem perdurar.
Pensando na sustentabilidade como prática dos empreendimentos, a primeira necessidade é estabelecer um relacionamento efetivo com as partes interessadas potencialmente afetadas pelas atividades desenvolvidas. Não apenas com o intuito de melhorar a percepção das mesmas sobre o negócio, mas com a real preocupação de reduzir e solucionar conflitos, sejam eles provocados por aspectos socioeconômicos ou ambientais.
Para consolidar esse relacionamento, precisamos conhecer as partes interessadas para que os recursos sejam planejados e organizados, e as pessoas da organização sejam preparadas para um diálogo que leve ao entendimento. Não basta prever ações no intuito de afetar suas opiniões se não se incorporar suas preocupações e se analisar o impacto real que as operações possam provocar em seu dia a dia.
Existem hoje inúmeras iniciativas e ferramentas, como a NBR ISO 26000 (em elaboração), os indicadores ETHOS, modelo IBASE, que são preciosas diretrizes para o gerenciamento de empreendimentos com foco em sustentabilidade, pois são construídas com uma grande representação dos atores sociais e criam uma linguagem comum.
Mas, se quisermos construir uma gestão que nos coloque no rumo da sustentabilidade, não adianta importarmos modelos ou aplicar indicadores sem antes termos analisado em profundidade o entorno do empreendimento, seja pela ótica do risco ou da oportunidade. O principal desafio é encontrar uma forma equilibrada para gerenciar os empreendimentos, não apenas atendendo à visão do resultado financeiro, mas também contemplando os aspectos que são relevantes para as partes interessadas mais críticas.
Isso pode, muita vezes, depender mais de uma mudança de postura de que implicar em grandes investimentos. Atender algumas reivindicações da sociedade civil, transformando o discurso em práticas palpáveis e reconhecíveis, é o cerne da busca pela sustentabilidade.
Implementar essa visão depende da conscientização das lideranças empresariais, no sentido de formar uma cultura organizacional em que a sustentabilidade seja um valor efetivo e em que a gestão socialmente responsável seja tarefa de todos os escalões da empresa, de forma permanente e estruturada. Por fim, deixo a citação de Paiva, que nos diz que “A sustentabilidade é, por essência, a arte de entender e considerar o outro”.