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Luiz Fernando Schettino

Professor do Dpto de Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal do ES

Op-CP-21

Avanços em tecnologia da madeira: paradigma de sustentabilidade

A percepção dos impactos socioambientais pela sociedade brasileira teve notável avanço a partir dos anos 80 do século passado, quando a economia passou a ocupar lugar de destaque entre as nações industrializadas.

Viu-se, então, que o custo socioambiental do modelo não sustentável era muito elevado – desmatamento acentuado de várias regiões; uso inadequado dos solos; ausência de controles eficazes nos níveis de poluição (os EIA/RIMA’s se tornaram obrigatórios no Brasil a partir de 1986); e inchaço dos grandes centros urbanos, com o crescimento das favelas, que ocuparam os morros e os mangues das periferias das cidades dos estados mais industrializados do País.

A partir da “Rio 92”, porém, começa a existir entendimento do que seja sustentabilidade e da complexidade do processo de transformação da sociedade moderna, que a torna cada vez mais vulnerável aos impactos socioambientais,  exigindo que práticas cotidianas sejam repensadas e novos elementos incluídos, diante da degradação ambiental.

Com isso, questões que não tinham o seu grau de relevância efetivamente percebido passaram a tê-lo, como é o caso do uso de mais  inovações tecnológicas no setor madeireiro. A maior eficiência trazida pela tecnologia pode ampliar os usos das madeiras, evitar desperdícios e, com isso, diminuir os desmatamentos e, de modo particular, os impactos negativos sobre algumas espécies mais demandadas, que acabam correndo o risco de extinção.

A adoção de inovações no setor madeireiro do País é de extrema importância, tendo em vista que a atividade florestal no Brasil, além dos reconhecidos aspectos ambientais, tem relevância para a esfera socioeconômica, pelo fato de o País possuir uma das maiores extensões florestais naturais do mundo e uma considerável área de plantios florestais, o que garante ao setor florestal brasileiro lugar de destaque no mercado mundial de madeiras, cuja importância tende a crescer ao longo do tempo, pelas características de solo, clima e  disponibilidade de terras no País aptas à produção de madeira.

Um dos maiores desafios nesse cenário é a conservação das florestas nativas,  de forma a evitar o desmatamento irracional, visando atender às demandas por madeiras de forma certificada, via manejo florestal sustentável nas florestas naturais e/ou por meio de plantios florestais, legalmente possíveis.

Outro aspecto importante nesse contexto é levar em conta que, no mercado madeireiro, a globalização da economia também levou ao acirramento da concorrência. Com isso, a “sobrevivência” passou a ser o objetivo maior de muitas empresas, muitas vezes em detrimento da qualidade e durabilidade dos produtos e das enormes perdas de matéria-prima pela não aplicação das melhores tecnologias.  

Permanecer no mercado a qualquer custo parece ainda ser a meta de muitos empreendedores da área florestal madeireira, em detrimento do que se perde nos aspectos socioambientais e mesmo econômicos em longo prazo, em vez de criarem condições de sustentabilidade e de fazerem evoluir tecnologicamente seus processos produtivos, possivelmente, por não terem uma visão adequada dos retornos que podem ter com investimentos em “tecnologias verdes”, que quase sempre levam a menores custos, mais competitividade e, consequentemente, maiores lucros.

Inclusive pelas razões citadas é que extração, comercialização e industrialização da madeira, historicamente no País, têm mantido o ritmo predatório de suas ações e migrando sempre em busca de novas fronteiras madeireiras.

Esse processo precisa ser devidamente discutido pelas instituições que buscam construir um modelo sustentável e inteligente de desenvolvimento, o que certamente promoveria mudanças nas políticas ambiental e florestal exigidas pela sociedade, visando à reversão desse processo cultural, para que promova a sustentabilidade no setor madeireiro, e os ecossistemas sejam conservados onde estejam sendo extraídas as madeiras a serem industrializadas para a sociedade.

Discutir e viabilizar formas de avançar o uso de tecnologias para a industrialização da madeira significa criar condições para que as demandas madeireiras sejam atendidas, os desmatamentos se reduzam e a geração de empregos e renda cresça no setor florestal brasileiro.

Dessa forma, teríamos uma ilustração de como superar um grande e histórico desafio na matéria em questão: sair do discurso ambientalista puro para uma prática sustentável cotidiana da sociedade em suas necessárias atividades socioeconômicas, a se compatibilizarem com qualidade de vida e proteção dos ecossistemas – um novo paradigma, então, se consolidará: o da sustentabilidade com aproveitamento inteligente dos recursos naturais.