Professor de Política, Gestão e Legislação Florestal da UF-Viçosa e Diretor-geral da SIF
Coautor: Alberto Firmino Barbosa, Engenheiro Florestal pela UF-MG
Até a crise financeira internacional de 2008, investimento em reflorestamento era a vedete da década. O cenário de especulação perdia força com juros e inflação domados. O Brasil era a bola da vez do crescimento. As indústrias de celulose tornavam-se players mundiais, as siderúrgicas a carvão vegetal pulsavam como nunca, e as indústrias de painéis expandiam para atender à crescente demanda doméstica por móveis.
Como esperado, plantios florestais brotaram para tudo quanto é estado, principalmente na região Sudeste e nos limítrofes a Minas Gerais, interessado na demanda de carvão das siderúrgicas. Entretanto a tal crise nocauteou a siderurgia, que caiu de 100% da capacidade produtiva para 30% – e assim patinou até 2018 –, comprometendo o investimento florestal e contribuindo para a queda no preço do carvão (R$ 250/mdc para R$100, bem abaixo do de nivelamento, que é de R$150) e para o quase desaparecimento desse mercado.
Os que investiram até 2008, num cenário favorável sem precedente, esperando colher em 2015, dada a idade ótima econômica de 7 anos para o eucalipto, se assustaram com o sumiço do mercado. Pior ainda para aqueles que financiaram com carência de 7 ou 8 anos, desesperando-se, com toda razão, com a dívida bancária contraída.
Considerando a atividade florestal de longo prazo e, por isso, sujeita a riscos e incertezas, suscitam-se as seguintes questões: O quão seguro é ela e o seu mercado diante das crises? O quão bem esse investimento se manterá, uma vez que a venda será realizada após 7 anos? Análises podem auxiliar na previsão do mercado, mas, segundo John Galbraith, “a única função das previsões econômicas é fazer a astrologia parecer respeitável”.
Em tese, as análises econômicas apontam, através de VPLs e TIRs, que a viabilidade do projeto florestal supera a da poupança, que, naquela década, projetava-se muito superior à do mercado de ações e de derivativos. Porém, diferente de outros investimentos, esse projeto tem peculiaridades que implicam outras indagações: Qual o destino da madeira? Afinal, considerando a diversidade de usos e mercados, serão eles rentáveis? Como escolher? E, no longo prazo, isso continuará viável?
As respostas representam a diferença entre navegar num mar de almirante, investimento, ou num revolto, jogo de azar. Diferente de commodities agrícolas, cuja prioridade de localização depende da aptidão edafoclimática regional, seguida pela logística, o investimento florestal depende, principalmente, mais desta do que daquelas.
Madeira é um produto pesado e barato, coeficiente preço/peso específico muito baixo, o que inviabiliza transportá-la para longas distâncias, sendo o ideal até 100 km. Somado a isso, veículos que transportam madeira não transportam outro produto, implicando frete dobrado (ida e volta). Tocantins é um triste case de insucesso, onde reflorestaram sem a contrapartida da existência do mercado.
Infelizmente, produtores que substituíram pastagens por reflorestamento e se encontram distantes do mercado de madeira estão revertendo para a pecuária, desiludiram-se fortemente com o reflorestamento e jamais retornarão a ele, mesmo que a madeira venha a valer ouro. Por sorte e lógica, praticamente nenhum produtor de grão fez tal substituição.
Em que pese a queda vertiginosa do preço do carvão, que se manteve até 2018, isso não necessariamente inviabiliza um projeto, apenas o torna mais complexo de se gerenciar. Um cenário diferente é o das regiões próximas a indústrias de celulose, que passaram incólumes à crise, nas quais se tem bons mercados da madeira. Entretanto, há outros males, mas que podem melhorar. Todo e qualquer investimento será viável ou não dependendo da competência gerencial. Não basta apenas estar próximo das indústrias de celulose e não saber negociar, haja vista que elas são verticalizadas – produzem cerca de 80% do abastecimento –, garantindo-lhes o poder de definição do preço da madeira.
Mesmo diante das incertezas, o projeto florestal tem seu lado positivo que o diferencia do agrícola, quer seja o longo prazo, quer seja o amplo espectro de uso da madeira. Com a crise do carvão, prospectaram-se novos mercados, entre eles, o de cavaco para geração termoelétrica nas diversas indústrias consumidoras de vapor espalhadas por todo o Brasil. Essa vantagem de uso múltiplo não é a única do projeto florestal. A ela soma-se o fato de não haver senescência quando não for possível e nem viável colher a floresta no ótimo econômico de 7 anos.
Um gestor que esteja em condições de postergar o corte não perderá a floresta, ao contrario do agricultor que, se não colher na data certa, perderá a cultura. Ainda que alguns custos existam, tais como o de oportunidade da terra e do capital, eles são, via de regra, menores que os possíveis ganhos futuros da floresta em pé, tornando esse investimento um portfólio financeiro que exige a estratégia de saber vender na alta, usando e abusando das prerrogativas florestais acima do ganho de densidade da madeira com a idade, num mercado que tem valorizado a unidade gravimétrica mais que a volumétrica. Um bom gestor colherá sua floresta quando houver preços favoráveis da madeira, como ocorreu a partir do último trimestre de 2018. Assim, é necessário cautela no investimento florestal e um excelente EVTEA.
Deve-se evitar o endividamento bancário quando não se tem lastro do mercado ou nem sinal dele, para se evitar ficar refém numa condição de preço vil da madeira e, também, até mesmo para ter tranquilidade na escolha do regime de manejo ideal, se corte raso ou seletivo. Há de se implementar melhorias organizacionais no mercado florestal, e isso se passa pela ação imediata de se constituir a cultura do associativismo entre os produtores e a da parceria transparente entre eles e as empresas do setor.
Do contrário, o futuro será sombrio, sobretudo se perpetuar o modelo vertical, concentrador e latifundiário da produção florestal. Exemplos de sucessos na parceria são os das agroindústrias. O atual modelo florestal não se sustentará, sobretudo nessa crescente desigualdade brasileira.
Enfim, é um bom negócio o investimento florestal? Estamos, afinal, diante de tantos produtores frustrados (arrependidos, endividados e descapitalizados), de satisfeitos e de indiferentes – aqueles das regiões montanhosas que têm o reflorestamento como derradeiro –, que torna impossível generalizar as respostas.
Tudo dependerá da logística, da proximidade do mercado, da competência gerencial e da evolução organizacional do setor. Não há espaço para amadores. Não dá para contar com a fezinha lotérica.