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Elizabeth de Carvalhaes

Presidente Executiva da Bracelpa

Op-CP-32

Florestas plantadas: múltiplos usos e segurança alimentar

Mais de um bilhão de pessoas ao redor do mundo têm, nas florestas e nas plantações florestais, uma fonte de alimento, energia e renda. Essa estimativa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO, foi uma das bases da primeira Conferência sobre Florestas e Segurança Alimentar dessa entidade, realizada em maio deste ano, em Roma.

A iniciativa de juntar dois temas aparentemente distintos, colocando-os em primeiro plano, dá uma dimensão do reconhecimento das florestas como importante vetor para o desenvolvimento humano, sem deixar, no entanto, de ser o maior símbolo de preservação do meio ambiente.

Os reflexos que as recomendações da FAO podem causar, principalmente nas populações mais carentes nos mais diversos países do mundo, representam uma mudança na forma de buscar soluções para questões de nutrição e segurança alimentar.

A organização propôs formas de integrar o conhecimento dos sistemas agroflorestais e transformá-lo em decisões políticas em nível nacional e internacional. Nesse contexto, as plantações florestais também assumem um papel de extrema relevância no cenário mundial, pois reforçam os debates sobre sustentabilidade em organizações privadas e governamentais, que passam a enxergar as florestas como ativos estratégicos para o desenvolvimento sustentável do planeta.

Para o setor brasileiro de celulose e papel, que mantém as florestas plantadas mais produtivas do mundo, essa visão é fundamental. Afinal, a indústria de base florestal passa a ser valorizada como primordial para garantir insumos de primeira necessidade para a população – entre eles, a oferta de papéis de todos os tipos.

E as práticas do setor começam a ser compreendidas como uma agroindústria que usa recursos provenientes de fontes renováveis: as florestas plantadas. Um negócio que consegue compatibilizar, positivamente, produção, preservação e conservação do meio ambiente. Esse novo olhar tem implicações diretas na perenidade dos negócios do setor, que exigirão investimentos na ampliação da área de florestas plantadas.

No Brasil, a expectativa é expandi-la em 45%, passando dos atuais 2,2 milhões de hectares para 3,2 milhões de hectares, até 2020. Com os novos plantios, o setor terá condições de aumentar sua produção de celulose em 57% e a de papel em 30%, chegando, respectivamente, a 22 milhões de toneladas e a 12,7 milhões de toneladas.

A despeito do saldo da crise econômica e do tempo ainda necessário para que o mercado mundial se recupere totalmente, as expectativas de crescimento da demanda global por produtos florestais desafiam o setor a crescer. Além disso, a competitividade do setor brasileiro de florestas plantadas é incontestável, se comparada aos demais players globais.

Razão pela qual elas ocupam o centro do planejamento estratégico das indústrias e da agenda de negociações da Bracelpa, com metas de curto e longo prazos. Nesse sentido, o setor tem se posicionado proativamente nos debates sobre a valorização do carbono florestal, no contexto da economia verde, e sobre biotecnologia, que pode abrir novos horizontes para a produção florestal.

Além disso, a Associação tem reforçado a importância das certificações florestais como ferramenta de gestão para a sustentabilidade e como instrumento para assegurar bom posicionamento comercial das empresas nos mercados mais exigentes.

O manejo florestal sustentável, apoiado pelo desenvolvimento tecnológico e genético, é um dos pilares da competitividade global do setor nacional e garante ao Brasil posição de destaque entre os principais produtores mundiais de celulose e papel.

No País, as florestas plantadas desse setor apresentam excelentes níveis de produtividade – maior rendimento de celulose por metro cúbico de madeira por hectare a cada ano (m³/ha/ano) –, quando comparadas às de outros países. A produtividade média das florestas de eucalipto atinge 44 m³/ha/ano, enquanto a das florestas de pinus chega a 38 m³/ha/ano.

Estreitar relacionamento do setor com os órgãos certificadores, sobretudo o Forest Stewarship Council (FSC) e o Programa Nacional de Certificação Florestal (Cerflor), que representa no Brasil o Programme for the Endorsement of Forest Certification Systems (PEFC), é uma meta que está sendo alcançada.

Legítimos representantes da sociedade civil, esses órgãos têm ganhado respeito e credibilidade, orientando o consumo responsável e determinando os mercados mais verdes. Por isso, temos destacado as práticas de sustentabilidade do setor em fóruns internacionais, o que é imprescindível para conquistar protagonismo e liderança nas negociações sobre o futuro das plantações florestais.

O Brasil está, hoje, na vanguarda em relação ao uso múltiplo das florestas plantadas – produção de energia e de biocombustível, biotecnologia, nanotecnologia, além da produção de celulose e papel – e quer debater essas tendências com todos os públicos de relacionamento dos órgãos certificadores.

De fato, as florestas são recursos estratégicos para o desenvolvimento sustentável e essenciais para a sobrevivência do homem. Por isso é imprescindível reforçar também a importância das florestas plantadas para o desenvolvimento socioeconômico e a preservação ambiental: o cultivo garante o fornecimento de insumos e possibilita a diminuição das desigualdades sociais, além de gerar emprego e renda, melhorando a vida de pessoas de centenas de comunidades de diversos países.

Segundo a ONU, as florestas abrigam cerca de 80% da biodiversidade terrestre e contribuem de forma expressiva para o equilíbrio climático, armazenando grandes volumes de gases de efeito estufa.

Além dessas funções naturais, seu uso múltiplo nos próximos anos levará a uma nova realidade, na qual o setor de base florestal será fundamental para atender a demandas relacionadas ao crescimento populacional mundial.

Um bom indicador, nesse sentido, é o fato de que as árvores já são fontes de mais de cinco mil produtos do nosso dia a dia, como móveis, ferramentas, produtos médicos, cosméticos, produtos de limpeza, entre outros itens, sem contar sua aplicação na produção de biocombustíveis, o que as torna uma alternativa verde ao petróleo.

Vale lembrar que o uso múltiplo das florestas é uma das aplicações da nanotecnologia, ciência que estuda a matéria em escala atômica e molecular e tem como princípio básico a construção de novas estruturas e materiais a partir dos átomos. Assim, as árvores são um recurso inesgotável e renovável. Acredita-se que, nos próximos anos, haverá uma nova geração de produtos florestais, muitos deles mais duráveis, mais leves, mais fortes e mais resistentes à água.